Uma rica
reportagem de André Borges, publicada no Valor de 25/7, ajuda a compreender as
dimensões e riscos de São Luiz do Tapajós. A usina chama atenção pelo ponto em
que poderá ser construída: numa área cerca de 700 quilômetros a oeste de Belém
e em meio a doze unidades de conservação que formam o Complexo do Tapajós,
considerado por alguns o maior mosaico de biodiversidade do planeta.
Ao contrário
da área semiocupada em que será erguida a barragem de Belo Monte, o ponto onde
se quer instalar São Luiz do Tapajós é virgem. Não há assentamento humano. A
cidade mais próxima é Itaituba (110 mil habitantes), 70 quilômetros rio abaixo.
Mas a inundação será maior. Em Belo Monte, devido às pressões sociais e a
mudanças na tecnologia de geração hidrelétrica, o lago projetado terá 516 km².
Gerará 11 mil Mw (embora não possa funcionar com tal potência durante todo o
ano). Já o novo projeto ocupará uma área com o dobro do tamanho (1368 km²,
quase tanto quando o município de São Paulo) e gerará pouco mais de metade da
energia.
A decisão de
construir não está 100% tomada. Para viabilizar o projeto, a presidente Dilma
deu um primeiro passo. Baixou, em janeiro, Medida Provisória (já transformada
em lei) reduzindo a área de oito das doze unidades de preservação que formam o
Complexo do Tapajós. O processo é chamado, no jargão técnico, de “desafetação”.
Houve compensações apenas parciais: as unidades ganharam novos territórios –
porém, sem a mesma biodiversidade, segundo biólogos ouvidos por André Borges.
Ainda não há licenciamento ambiental para São Luiz do Tapajós, o que pode
favorecer a luta em defesa da floresta.
No Complexo
de Tapajós já foram catalogadas 390 espécies de aves e 400 de peixes. Vivem
animais em extinção, como a onça-pintada e onça-vermelha. Maria Lúcia Carvalho,
chefe do Parque Nacional da Amazônia (uma das doze unidades) e pesquisadora do
Instituto Chico Mendes, afirma que a construção da hidrelétrica traria grandes
riscos para os ecossistemas. Também lamenta o caráter abrupto da decisão de
iniciar o levantamento: “Estávamos trabalhando a mil por hora no plano de
manejo do parque. De repente, fomos avisados de que parte dele simplesmente
iria ser desafetada [desprotegida]. Recebemos este banho de água gelada, o
trabalho foi perdido”. Em 30/7, André Borges informou que, além da diretora, um
grupo de técnicos prepara manifesto contra a desafetação.
Fonte: Antonio
Martins, no sites Outras Palavras e Ecodebate
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