sexta-feira, 22 de março de 2013

Água nossa de cada dia

Marcelo Barros
22 de março é o dia internacional da água. Neste ano, a data ganha importância maior porque a ONU lançou 2013 como ano mundial da cooperação pela água. O objetivo da iniciativa é incentivar o relacionamento social positivodas pessoas e comunidades, a partir da água como instrumento de relação. É bom nos perguntarmos que consequência isso pode ter para o mundo, ou seja, depois dessa celebração, o que ficará como consequência. A cada ano se repete que a água não é um bem ilimitado. Ao contrário do que parecia antigamente, se esgota. Regiões antigamente ricas em água, hoje, são desérticas.

Outro ponto fundamental é o reconhecimento de que a água é uma necessidade essencial de todo ser vivo. Por isso, é direito básico de toda a humanidade, assim como dos animais e plantas. Sem água nenhum ser vivo pode viver. A ONU também revela que, cada vez mais os conflitos entre nações ocorrem não mais simplesmente por territórios, mas pelo direito do uso de águas de rios e lagos. Em Israel, o governo israelita desviou as águas do rio Jordão e canalizou-as em tubos subterrâneos, de forma que os acampamentos e assentamentos palestinos não podem delas se beneficiar. Um jornal palestino conta que na cidade de Caná da Galileia, onde, segundo a tradição, Jesus transformou a água em vinho, o prefeito atual da cidade declarou: "Se, hoje, Jesus voltasse por aqui, nós lhe pediríamos para transformar vinho em água”.

O Brasil detém 12% de toda água doce do mundo, mas como em todo o planeta, essa distribuição é desigual e problemática. O Nordeste brasileiro enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos. No cerrado e em todo o planalto central, as pesquisas revelam uma assustadora diminuição das fontes de água e do nível hidrográfico dos rios. Nessa região sempre houve secas. Hoje, é diferente a intensidade e a frequência com que esses fenômenos ocorrem. Diferentemente de antes, agora, com o desflorestamento e a destruição da natureza, é a sociedade humana que provoca desastres ecológicos como secas, terremotos e inundações.

Infelizmente as religiões e tradições espirituais que deveriam dar à humanidade uma cultura amorosa de relação com a terra e as águas, não têm vivido com êxito essa missão. A maioria das tradições espirituais acredita que a vida nasceu a partir das águas e por isso a água é sempre símbolo e instrumento do Espírito de Deus. Na Bíblia e nos evangelhos, Jesus promete o Espírito Santo como água viva que quem beber jamais terá sede. Em vários países, cristãos e pessoas conscientes dessa espiritualidade têm vencido importantes lutas legais contra a privatização da água e têm participado de comissões de defesa de rios, lagos e fontes de água. Nesse ano da cooperação mundial da água, as comunidades cristãs são chamadas a verem a água como instrumento de comunhão entre as pessoas e da solidariedade entre os povos. É possível e bom aprofundar a relação entre pessoas, como também entre povos através da partilha da água comum. Assim como os cristãos reconhecem na partilha do pão o próprio Jesus presente, agora somos convidados a testemunhar o Espírito Divino presente em cada pouco d´água que partilhamos como sacramento da presença e ação do Espírito Mãe da Vida.

domingo, 17 de março de 2013

Pobres perdem mais tempo no trânsito

As famílias na faixa de renda 10% mais baixa do Brasil perdem, em média, 20% mais tempo no trânsito por dia em deslocamentos de casa para o trabalho do que as famílias na faixa de renda 10% mais alta. Na prática, duas em cada dez pessoas entre os mais pobres do país levam pelo menos uma hora para chegar em casa. Os dados são parte da pesquisa "Tempo de deslocamento casa-trabalho no Brasil (1992-2009): diferenças entre regiões metropolitanas, níveis de renda e sexo", publicado na semana passada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A pesquisa é baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e explicita consequências da priorização de investimentos em transporte público e a desigualdade hoje vigente no trânsito. De acordo com Rafael Henrique Moraes Pereira, que escreveu o estudo com Tim Schwanen, o modelo rodoviarista, no qual são priorizadas a abertura, alargamento e expansão de avenidas, e a construção de túneis e viadutos, pode ser comparado a um "buraco negro" de investimentos de recursos e deve ser repensado. "A priorização [de investimentos em infraestrutura para carros] teve impacto de piorar o trânsito e não melhorar. Não adianta aumentar a capacidade de fluxo porque no médio e longo prazo a via vai saturar e, todo investimento feito para facilitar, embora tenha dado resultado no curto prazo, será perdido", defende.

 Ele ressalta que a situação é especialmente delicada nas metrópoles. A pesquisa que conduziu considera a situação das nove maiores regiões metropolitanas e do Distrito Federal. "Nas grandes cidades, é preciso investimento pesado em transporte público de alta capacidade, metrô, faixa de ônibus. Nas situações mais extremas, onde a taxa de motorização é muito alta, faz sentido até pensar em medidas de desestímulo ao transporte individual e estímulo ao transporte público (..) Uma coisa é desestimular o consumo do transporte privado, outra é desistimular o uso. Ter o carro em si não é tão problemático - na Europa, em algumas cidades, a taxa de motorização é alta. Só que o uso lá é mais racional. A gente tende a ser mais pró a taxação do uso do automóvel, com imposto sobre combustível, estacionamento, e até pedágio urbano nas regiões centrais, do que sobre o consumo", ressalta.O pesquisador do Ipea afirma que outros levantamentos feitos indicam que os resultados das políticas públicas de incentivo de compra de automóveis e motos têm indicado resultados preocupantes. "A população mais baixa está saindo do transporte público e migrando para o individual. É uma crítica que a gente faz ao governo federal. As cidades do nordeste são mais pobres e existe um padrão asiático de motorização em curso, baseado em motocicletas", afirma, referindo-se a explosão do número de motos no interior do Brasil. "A tendência de piora com a motorização é grotesca em algumas cidades. Em Belém foi brutal".

São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cidades com os piores congestionamentos do planeta. Nas duas, o tempo perdido no trânsito chega a ser 31% maior do que nas demais regiões metropolitanas do Brasil. Em ranking cidado no estudo que considera alguma das principais metrópoles do mundo, mas não todas, as duas capitais brasileiras ficam atrás apenas de Xangai no quesito congestionamento. O modelo de abertura de avenidas e priorização do fluxo automóveis que marcou o urbanismo das duas capitais no século passado é um dos fatores para o colapso no trânsito (..)
Os dados  sobre a desigualdade de tempo gasto no trânsito são subestimados. Por exemplo, no Distrito Federal as informações são referentes apenas à Brasília, mas tem um número considerável de cidades satélites que fazem parte da região metropolitana e não entram na conta. São regiões mais pobres, distantes, dependentes de transporte público.
Fonte: www.oeco.com.br