quarta-feira, 22 de abril de 2009

Espiritualidade Ecológica: Teilhard de Chardin(1)

Leia e saboreie estas belas citaçóes de Teilhard de Chardin.

(1) A missa sobre o mundo
Não tenho nem pão nem vinho nem altar, eu me elevarei acima dos símbolos até vós e vos oferecerei sobre o altar da Terra inteira, o trabalho e a fadiga do Mundo. O meu cálice e a minha patena são as profundezas de uma alma largamente aberta a todas as forças que, num instante, vão se elevar de todos os pontos do Globo e convergir para o Espírito.
Vós me destes, meu Deus, uma simpatia irresistível por tudo aquilo que se move na matéria obscura.
Subirei, esta manhã, carregado com as esperanças e as misérias de minha mãe Terra e invocarei o Fogo (p.19-21)

O fogo acima do mundo
No princípio havia o Verbo soberanamente capaz de sujeitar e de modelar toda Matéria que nascia. No princípio não havia frio e trevas; havia o Fogo (..) É a luz preexistente que, paciente e infalivelmente, elimina nossas sombras. Nós, criaturas, somos, por nós mesmos, a Sombra e o Vazio. E vós (..) Espírito ardente, Fogo fundamental e pessoal (p.22).
O fogo no mundo
Aconteceu. O Fogo, mais uma vez, penetrou a Terra. Não caiu ruidosamente sobre os cimos, como o raio em seu esplendor. O Senhor forçaria as portas para entrar em sua própria casa? Sem tremor, sem trovão, a chama iluminou tudo por dentro. Desde o coração de menor átomo até a energia das leis mais universais. Naturalmente invadiu, individualmente e em seu conjunto, cada elemento, cada força, cada ligação do nosso Cosmo. E este, espontaneamente, (..) se inflamou.
Toda a matéria doravante está encarnada, meu Deus, pela vossa Encarnação.
O universo, como a Carne, nos atrai pelo encanto que flutua no mistério de suas dobras (..) Como a carne, ele se decompõe e nos escapa sob o trabalho de nossas análises, de nossas perdas, de sua própria duração.
Deus me concedeu a percepção, que eu entrevia no pensamento e no coração, que as criaturas são solidárias entre si, e que elas estão suspensas num mesmo centro real, que uma verdadeira Vida, suportada em comum, definitivamente lhes dê sua consistência e sua união.
Eu vos agradeço, meu Deus, por ter, de mil modos, conduzido o meu olhar, até fazê-lo descobrir a imensa simplicidade das coisas!. Neste momento, vou saborear a forte e calma embriaguês de uma visão da qual não consigo esgotar a coerência e as harmonias (..) Como o monista, eu mergulho na Unidade total. Mas a Unidade que me acolhe é tão perfeita que nela sei encontrar, perdendo-me, a realização última de minha individualidade. Como o pagão, adoro um Deus palpável (..) Mas, preciso ir sempre mais longe, sem jamais poder em nada repousar, a cada instante arrebatado pelas criaturas, e a cada instante ultrapassando-as, em contínua acolhida e em contínua despedida. Como o quietista, deixo-me deliciosamente embalar pela divina Fantasia. Ao mesmo tempo, contudo, sei que a Vontade divina não me será revelada a não ser no limite do meu esforço.
Eu não saberia dizer, perdido no mistério da Carne divina, qual é a mais radiosa destas duas bem-aventuranças: ter encontrado o Verbo para dominar a Matéria, ou possuir a Matéria para alcançar e submeter-me à luz de Deus (..) Se creio que tudo, ao redor de mim, é o Corpo e o sangue do Verbo, então para mim se produz a maravilhosa diafania que faz objetivamente transparecer na profundidade de todo fato e todo elemento o calor luminoso de uma mesma Vida.
Para que em toda criatura eu vos descubra e vos sinta, Senhor que eu creia! (p.22-30).

Comunhão
Se o Fogo desceu ao coração do Mundo, foi para me tomar e me absorver. É preciso que eu o contemple, colabore para a consagração que o faz brotar e consinta com a Comunhão.
Eu me prostro, meu Deus, diante da vossa Presença no Universo tornado ardente e, sob os traços de tudo aquilo que eu encontrar, de tudo aquilo que me acontecer, e de tudo aquilo que eu realizar neste dia, eu vos desejo e por vós espero.
Para chegar ao centro flamejante do Universo, não basta que o homem viva cada vez mais para si mesmo, nem que faça a sua vida se gastar numa causa terrestre, por maior que ela seja”. O Mundo só pode vos alcançar, Senhor, “por uma espécie de inversão, de retorno, de excentração em que desaparecem por certo tempo, não só a obra dos indivíduos, mas também a própria aparência de toda superioridade humana.
Aquele que tiver amado apaixonadamente Jesus escondido nas forças que fazem a Terra morrer, a Terra, desfalecendo, o encerrará em seus braços gigantes, e com a Terra ele despertará no seio de Deus (p.31-34).

Oração
Cristo glorioso (..), que reunis em vossa exuberante unidade todos os encantos, todos os gostos, todas as forças, todos os estados – sois vós que o meu ser chamava com um desejo tão vasto quanto o Universo: Vós sois verdadeiramente o meu Senhor e meu Deus! Quanto mais profundamente vos encontramos, Mestre, mais a vossa influência se descobre universal.
Ensinai ao meu coração a verdadeira pureza, aquela que não é a separação que torna as coisas anêmicas (..); revelai-lhe a verdadeira caridade, aquela que não é o temor estéril de fazer o mal, mas a vontade vigorosa de forçar, todos juntos, as portas da vida.
Toda a minha alegria e o meu êxito, toda a minha razão de ser e o meu gosto de viver, meu Deus, estão suspensos a essa visão fundamental da vossa conjunção com o Universo (..) Para mim, dominado por uma vocação que atinge as últimas fibras da minha natureza, não quero e nem posso anunciar outra coisa senão os inumeráveis prolongamentos do vosso Ser encarnado através da Matéria; eu não conseguiria jamais proclamar a não ser o mistério de vossa Carne, ó Alma que transpareceis em tudo aquilo que nos envolve! (p.37-39)

(2) A potência espiritual da matéria
Para compreender o Mundo, o saber não basta; é preciso ver, tocar, viver na presença, beber a existência quente no próprio seio da Realidade (..) Até o último instante dos Séculos, a Matéria será jovem e exuberante, resplandecente e nova para quem quiser.
A pureza não está na separação, mas numa penetração mais profunda do Universo. Ela está no amor da Essência única, incircunscrita, que penetra e trabalha todas as coisas por dentro – mais além da zona mortal em que se agitam as pessoas e os números. Ela está num casto contato com aquele que é ‘o mesmo em todos’.
Ó como é belo o Espírito se elevando, enfeitado com as riquezas da Terra.
Banha-te na Matéria, filho do Homem. Mergulha nela, lá onde ela é mais violenta e mais profunda! Luta em sua corrente e bebe sua vaga! Foi ela que outrora embalou sua inconsciência – é ela que te levará até Deus”.

(O personagem) Compreendeu, para sempre, que o Homem, como o átomo, só vale pela parte de si mesmo que passa pelo Universo. Viu, como evidência absoluta, o frágil vazio das mais belas teorias, comparadas com a plenitude definitiva do menor fato, tomado em sua realidade concreta e total”. Contemplou, com impiedosa clareza, a ridícula pretensão dos Humanos de regular o Mundo – de lhe impor seus dogmas, suas medidas e suas convenções”.
Ele havia desligado para sempre o seu coração de tudo o que é local, individual e fragmentário, doravante somente a Matéria, em sua totalidade, seria para ele seu pai, sua mãe, sua família, sua raça, sua única e ardente paixão (..) Deus irradiava no cume da Matéria, cujas vagas lhe traziam o Espírito (p.68-69).

Trechos de P. Teilhard de Chardin, Hino do Universo. Paulus, São Paulo, 1994, p.19-68.
Desenho: Irmão Anderson, MSC

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Estudo de Meio na Serra do Cipó

Os estudantes de Pós-graduação em Teologia da Faculdade Jesuíta, de Belo Horizonte, fizeram um Estudo de Meio na Serra do Cipó, como atividade prática da disciplina "Ecologia e Fé Cristã".
A visita ocasionou uma experiência concreta de comunhão com a água e o ecossistema, de convivência da turma e de conhecimento de noções básicas, tais como: bioma do cerrado, biodiversidade, bacia hídrica, divisor de águas, etc.

Aula prática no Centro Cultural Catavento

Os estudantes de pós-graduação de missiologia do ITESP (São Paulo) tiveram uma aula prática de "Ecologia e Fé Cristã", visitando o Centro Cultural Catavento.
Recém inaugurado, e ocupando o belo prédio da antiga prefeitura de São Paulo, o Catavento oferece informações, imagens e atividades interativas sobre o ciclo da Vida, os biomas do Brasil, a reciclagem e noções básicas de ecologia, entre outras coisas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Reconstruir nossa Casa Comum

Era uma vez uma casa, imensa e bela. Edificada lentamente, durante milhões de anos, parecia infinita, devido à sua forma arredondada. Por ela passeava uma multidão incontável de seres, os mais diversos. O solo, chão da casa, era rico em nutrientes que garantiam o ciclo de vida das plantas e dos animais. Suas paredes eram constituídas por rochas recobertas pelos tons múltiplos de cores de gramíneas, arbustos e árvores. O telhado se abria durante o dia para o clarão do sol, que, com sua energia, sustentava os seres com luz e calor. Invisivelmente, era protegido por uma fina camada de gases, que filtrava a luz do sol na medida adequada para garantir a continuidade da teia da vida. À noite, estrelas cintilantes coalhavam o céu, e a lua, com sua cor prateada, brindava o viajante com sua luz discreta e suave.
A casa-comum-de-todos-os-seres, também chamada pelos humanos de Planeta Terra, tinha cinco enormes quartos, separados por infindáveis porções de terra e muita, muita água. Será que havia janelas? Ou antes se tratava de um sem número de cortinas, que velavam e desvelavam mistérios, belezas, riscos e aventuras? Embora a casa não tivesse portas nem porteiras, penetrar em seu mistério exigia algumas chaves. Não aquelas, pequenas ou grandes, feitas de metal, mas sim as da mente e do coração, que permitem compreender sem jamais pretender agarrar e dominar.
Hoje a nossa casa comum tem a aparência de um admirável edifício, totalmente marcado pela intervenção humana. No entanto, não se pode esconder as rachaduras crescentes, a abertura no telhado e a perda da qualidade de vida de seus habitantes. O ser humano se assenhorou do Planeta. Considera-se seu patrão. Perdeu o vínculo com as outras criaturas e as toma simplesmente como “recursos” ou “coisas”. Baseado na ciência e na tecnologia e no espírito conquistador do mercado global, considera-se dono absoluto de seu futuro. Na realidade, construiu um modelo insustentável, que gera crescente exclusão social e enfraquecimento do ecossistema.
Neste contexto, é preciso recriar novas chaves de leitura, para compreender a humanidade em relação aos outros seres que povoam nossa casa comum. Assim, poderemos mudar o olhar e ampliar a nossa percepção. Com a consciência aberta, vem a ação transformadora. Atitudes individuais se conjugam com ações coletivas. É tempo de construir a cidadania planetária, que articula a visão ampla e global com a concretude das ações locais. Trata-se de gerar e desenvolver a consciência eco-planetária e de tecer redes com vários atores sociais. Com as novas gerações, iremos superar a visão pessimista e trágica, resgatar o encantamento, canalizar a indignação e nutrir a esperança, para reconstruir nossa casa comum.