sexta-feira, 14 de março de 2014

Ecoteologia e evangélicos

Thiago Gigo Pereira – (Revista Ultimato)

A Igreja evangélica (que vive o Evangelho) brasileira tem omitido temas muito pertinentes para a contemporaneidade, como por exemplo, o crescimento sustentável ou a Ecoteologia. Provavelmente porque temos muitos líderes que nada se preocupam com as causas ambientais; fomentam, unilateralmente, uma cosmovisão espiritualizada e longe das realidades vitais da sociedade, das quais a manutenção e cuidado da criação de Deus são necessidades fundamentais. A Terra agoniza pela ação do homem; o aquecimento global, a extinção dos animais e o fim dos recursos naturais são demonstração do poder do pecado e do egoísmo humano.
A Igreja de Cristo deve ser coerente com os valores bíblicos que diz praticar e comprometida com Deus, que diz servir. As Escrituras ensinam que o que Deus criou “é bom” – não porque a Terra pode saciar os interesses humanos de consumo desenfreado, mas porque é bom e benéfico aquilo que Deus faz no e pelo Planeta. Gênesis 1:31 E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.
Não há a mínima semelhança entre o Deus da Bíblia e o deus do capitalismo hodierno, que consome desenfreadamente, tudo o que vê pela frente. Não que o capitalismo deva ser totalmente demonizado, entretanto o crescimento econômico a qualquer custo abre portas para o oportunismo predatório. O homem perdeu os limites de sua atuação e a extração dos materiais primários da natureza beira a demência. Há uma pregação constante para “crescer” nos discursos políticos.
O Cristão não pode se esquecer que muitos problemas do descontrole climático e também sociais, são causas de uma mentalidade psicopatológica, obsessiva e gananciosa do homem. Antes de crescer é preciso discutir o que o desenvolvimentismo causou, sobretudo no Brasil. É necessária uma avaliação da ação da igreja, das políticas e da sociedade em geral diante da ânsia do crescimento moderno. Erramos muito até aqui e não podemos continuar com essas aberrações comportamentais, muito menos nos omitir.

Algumas problemáticas, também assinaladas na Ecoteologia de Leonardo Boff, são exigências de reflexão aprofundada sobre o assunto, que muitas vezes, é preterido pela Igreja. Há mais de 400 anos que a cosmovisão desenvolvimentista assola o planeta a partir do desencadeamento da revolução industrial. O ser humano quer absorver tudo o que a terra fornece. Os recursos naturais estão se extinguindo. Os combustíveis fósseis, recursos minerais e a água estão acabando. Assim como tivemos guerras pelo petróleo, não seria um devaneio imaginar lutas dos povos pela água.
O grande problema é que o homem se vê como centro de tudo na criação e soberano sobre os recursos primários. O antropocentrismo fecha as portas para o desenvolvimento sustentável. Por isso a Bíblia ensina que Deus é Soberano, sobre tudo e todos. Ele é o Dono, proprietário absoluto do universo e deu á humanidade o privilégio de administrar o planeta. Todavia essa ecoadministração não deve ser feita inescrupulosamente. O que vemos é que o crescimento a qualquer custo faz do homem um parasitóide consumidor dos benefícios da criação de maneira indiscriminada. O ser humano, enfim, se revela como uma besta-fera da terra procurado destruir o que vê pelo caminho (com todo respeito as bestas) como se tivesse tal liberdade para devastar o que Deus criou com tanto zelo.
Essa falta de consciência ecoteológica e o culto ao capitalismo selvagem têm levado muitos cristãos a distúrbios comportamentais luciferianos e de verdadeiros “anticristos”, na maneira de agir. Quando uma pessoa joga material não biodegradável no chão, peca contra a criação e contra o Criador.
Não tenho visto pregadores da TV e arrebatadores de multidões pregarem sobre o pecado da anti-sustentabilidade ecológica. O Cristo do cristão se preocupa com os animais, a mata, a semente, o solo, a água e também com o bem estar da sociedade. Jesus Cristo sempre utilizou as parábolas para ensinar, um recurso hermenêutico abundante na Bíblia, bem como na cultura semita. As coisas simples e aparentemente desprezíveis eram ressaltadas por Jesus na sua linguagem ecoteológica.

O meio vivencial de Jesus era rural; sobretudo para quem vem da periferia, da Galiléia, o meio ambiente é fundamental para o bem estar da sociedade. Não somente por isso, mas porque Jesus Cristo é agente da criação: “Porque Nele (em Cristo), foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e invisíveis, sejam tronos, soberanias, poderes e autoridades; todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele” (Cl 1:16). Por isso Seu discurso é muito diferente dos oportunistas que angariam votos nas eleições através das falácias populistas que desprezam o crescimento sustentável. O futuro da nação brasileira e do planeta "está em nossas mãos".
A posteridade não terá seu lugar ao sol? Ou onde viverão será apenas o resultado da falta de consciência da atualidade? É preciso haver não apenas um amor pelo próximo, mas também um amor cósmico.
Fonte: Revista Ultimato (versão digital)