quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mapeamento da biodiversidade

A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou durante a Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 10), em Nagoya, no Japão, que o Brasil está preparando um relatório sobre o valor dos ecossistemas e da biodiversidade. O objetivo é que o documento sirva como referência para futuras decisões políticas e para o desenvolvimento de uma economia sustentável. "É importante conciliar estratégias de desenvolvimento e manutenção da biodiversidade", disse a ministra.

O relatório brasileiro terá como referência o estudo "A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês), produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e lançado durante a COP 10. O estudo internacional apontou o valor econômico de florestas, água, solo, animais, entre outros, bem como os custos ocasionados pela perda desses recursos. Segundo o Teeb, o custo anual da perda da biodiversidade fica entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões (R$ 3,6 trilhões e R$ 8,2 trilhões).
Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, a intenção é que os dados do Teeb Brasil sejam incorporados por políticas públicas, empresas privadas, setor produtivo e governos ao tomar decisões sobre agricultura, segurança alimentar, segurança energética e exploração de recursos naturais, como o pré-sal. "Este será o grande desafio deste século. A base de tudo deve ser a sustentabilidade. Creio que o relatório possa contribuir para associar todos estes temas nas discussões dos tomadores de decisão", disse Izabella.
A ministra disse ainda que o Teeb Brasil já está sendo preparado, e que os requerimentos para a adoção destas estratégias no País estão em fase de análise. "Agora nós estamos preparando os termos de referência para finalizar a negociação. Depois que forem estabelecidos os compromissos da COP 10, pretendemos desenvolver uma nova estratégia nacional baseada no Teeb como referência de uma nova economia sustentável", afirmou. (Fonte: Agência Estado, 25/10/10)

Comentário: É preciso reverter o pensamento. Não somente calcular o custo anual da perda da biodiversidade, mas sim enfatizar o valor dos serviços ambientais. Ou seja: o que o ecossistema fornece em bens e serviços para os outros seres e para nós, os humanos. Tal procedimento contribui para a superação de uma visão econômica míope e oportunista e fornece dados para confirmar a urgência do empenho pela sustentabilidade (Afonso Murad)



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Seca na Amazônia novamente

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A seca que atinge o Amazonas desde o início de agosto já prejudicou cerca de 40 mil famílias. Segundo o governo estadual, dos 62 municípios amazonenses, 25 decretaram situação de emergência. Na última sexta-feira (08), a Defesa Civil reconheceu a situação de emergência em 21 deles.

Os municípios em situação de emergência por causa da estiagem são Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça, Tabatinga, Tonantins, Caapiranga, Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Juruá, Borba, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Tefé, Uarin, Beruri, Manacapuru, Itacoatiara, Barreirinha e Parintins.
A ação emergencial de ajuda humanitária aos municípios afetados começou esta semana com o envio de 6 toneladas de alimentos. O chefe de gabinete da prefeitura de Ipixuna, Anísio Saturnino, disse que o transporte fluvial está comprometido em função da seca dos rios. “Os barcos não podem navegar. O transporte só pode ser feito por canoa. Alguns alimentos começam a faltar”, disse. O município (localizado no sudoeste do estado) aguarda a entrega, pela Defesa Civil do estado, de cestas básicas, filtros para água e medicamentos. Muitas pessoas estão sofrendo com problemas intestinais provocados pela má qualidade da água.
A geógrafa e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, disse que a seca que atinge o Amazonas é uma condição climática extraordinária decorrente do fenômeno El Niño (aquecimento das águas do Oceano Pacífico), que ocorreu nos últimos meses de 2009 e deixou reflexos em 2010. “O El Niño de 2009 foi o pior das últimas três décadas e trouxe como consequência as fortes chuvas no Sul e a seca no Norte do país. Sempre quando ocorre um El Niño muito forte existem impactos no ano seguinte”.
Segundo Ane Alencar, a forte estiagem se deu em função também da maior frequência das secas no estado. “Desde 2000, as secas têm sido mais frequentes e mais intensas e a floresta não tem tido tempo de se recuperar”, disse. A temporada de chuvas na Amazônia, de acordo com a pesquisadora do Ipam, deve começar no fim de novembro.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil até o momento não informou que medidas serão tomadas pelo governo federal em relação aos municípios afligidos pela estiagem.
(Fonte: Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Nobel alternativo para Dom Erwin

Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu, é um dos quatro ganhadores do “Prêmio Right Livelihood 2010”, um prêmio Nobel Alternativo, que estimula o poder de mudança nas bases. Dom Erwin recebeu o prêmio "por uma vida dedicada ao trabalho com direitos humanos e ambientais dos povos indígenas, e por seu incansável esforço para salvar a Amazônia da destruição”. Dom Erwin justificou a alegria de receber o prêmio assim: “Não estou feliz em meu nome, mas por causa da Amazônia e dos povos indígenas que merecem esse reconhecimento!”.

Os outros premiados foram: a organização israelense "Médicos para os Direitos Humanos-Israel", que atua em seu próprio país e na Palestina; o nigeriano Nnimmo Bassey, de 52 anos, que "revelou os horrores ecológicos e humanos da produção de petróleo"; e o nepalês Shrikrishna Upadhyay, de 65 anos, em conjunto com a organização Sappros, que "trabalham contra as múltiplas causas da pobreza", segundo comentou o júri.

Em fevereiro deste ano, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia encaminhado uma carta à fundação Right Livelihood Award, ratificando a indicação do nome de dom Erwin Kräutler para o prêmio. De acordo com a CNBB, a indicação é um gesto de reconhecimento à atuação pastoral e profética de dom Erwin junto aos mais fracos e aos povos indígenas. Para o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, esse prêmio é uma grande homenagem a dom Erwin e também honra a própria CNBB. Trata-se de um reconhecimento internacional da grande luta de dom Erwin na defesa da vida dos povos indígenas e da própria dignidade humana destes povos.
“Dom Helder Câmara também recebeu esse prêmio na época em que vivíamos no regime ditatorial no Brasil, quando lhe foi negado o Prêmio Nobel da Paz. E agora, dom Erwin recebe esse mesmo prêmio! Quero parabenizar dom Erwin e também a nossa Igreja, por ter em seu meio um lutador pela justiça social, pelo meio ambiente e pela vida dos povos indígenas!”, declarou o Presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha.

Dom Erwin Kräutler nasceu na Áustria, em 1939. Foi ordenado sacerdote em 1964 e veio para o Brasil como missionário. Em 1978, tornou-se cidadão brasileiro (embora também mantendo a sua cidadania austríaca). Em 1980, foi nomeado bispo do Xingu, a maior circunscrição eclesiástica do Brasil. Entre 1983-1991 e, desde 2006, é o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se preocupa de modo especial com nossa população indígena.
Em outubro de 1987, alguns meses antes da decisão de concessão de plenos direitos civis para os povos indígenas na Assembléia Constituinte, dom Erwin ficou gravemente ferido em um acidente de carro supostamente planejado. Desde 2006, o bispo está sob proteção policial por causa da ameaça de morte que tem recebido devido à sua atuação pastoral, social e ambiental na região. Em parceria com ambientalistas, pesquisadores, comunidades indígenas e ONGs, Dom Erwin lutou duramente contra a implantação da usina hidrelétrica do Belo Monte, demonstrando com convincentes argumentos que ela causará enorme impacto ambiental, além de ser um investimento com pouco retorno econômico. Infelizmente, não foi ouvido pelo governo federal.