quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

35% da coleta seletiva vai para o lixo comum

Boa parte do lixo que o paulistano separa, lava e guarda pensando que será reciclado vai parar no aterro, misturado ao lixo comum.Ontem, a aposentada Ilka Piquet, 73, moradora da Vila Madalena (zona oeste), separava embalagens de vidro, papel e isopor para serem levados pelo caminhão de coleta seletiva. Mas, por uma sucessão de falhas e de falta de fiscalização por parte da prefeitura, uma parte desse material, em média 35%, não será reaproveitado. Muitos dos caminhões, por exemplo, fazem uma compactação excessiva do lixo, quebrando vidros e fundindo plásticos -o que impossibilita a separação. Além disso, alguns itens, como embalagens de xampu ou papel de presente, não têm compradores.

Há mais falhas. Ontem, na Vila Madalena, bairro da dona Ilka, o caminhão da coleta seletiva não passou -o lixo foi levado pelo caminhão de lixo comum e, portanto, direto para o aterro. A concessionária Loga, responsável pela coleta, disse que o veículo de recicláveis saiu da rota prevista. A empresa desconhecia a razão, mas informou que haverá punição administrativa para os funcionários. Mas, segundo moradores, o caminhão da coleta seletiva não passa por lá desde o início deste ano. "É uma grande sacanagem, o tempo que a gente perde para nada", disse a farmacêutica Cilene Camiloti, 46.

O desperdício reduz ainda mais a margem de lixo reciclável da cidade, que em 2008 foi de 7% do lixo domiciliar passível de reciclagem e menos de 1% do total produzido. Apenas pouco mais da metade dos paulistanos têm coleta seletiva na porta de casa -os outros 5 milhões precisam transportar o próprio lixo até um posto de coleta.
Na cooperativa de triagem da Vila Leopoldina (zona oeste), o desperdício, segundo a coordenadora Jacy Cardoso, é de 40%. Ela diz que um dos problemas é que as empresas que coletam o material prensam o lixo. "Se o caminhão chega muito cheio, com mais de 3,5 toneladas, nem deixo descarregar. As garrafas vêm moídas, o plástico dentro da lata, os papéis destruídos, tudo amassado", diz. Por falta de compradores, a cooperativa não aproveita, por exemplo, embalagens de xampu, de catchup e de mostarda, papel de presente e potes de gel. Isopores estão há cinco meses empilhados na triagem da Sé (centro) aguardando comprador. Lá, porém, o desperdício é menor, cerca de 18%.Na da Mooca (zona leste), onde o rejeito chega a 50%, há um amontoado de galões plásticos na mesma situação.

Dados do Instituto Pólis, que atua no setor, indicam que 35% do lixo reciclado é desperdiçado.As 16 centrais de triagem da capital, cooperativas que operam em locais cedidos pelo poder público, são cadastradas pela Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) e recebem a coleta da prefeitura, além do que elas mesmas coletam.

Fonte: Folha de Sáo Paulo, 27 de janeiro de 2009.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Chuva não castiga ninguém

Nos primeiros dias de janeiro de 2010, a população brasileira viu-se aterrorizada por notícias da Mídia, tais como: a) Chuvas castigam o estado do Rio de Janeiro, onde deslizamentos de encostas na Ilha Grande e na cidade de Angra dos Reis fizeram centenas de vítimas, sendo mais de 50 mortos; b) Chuvas em demasia castigam o rio Grande do Sul, onde uma ponte sobre o rio Jacuí, na RS-287, desabou. Muitas pessoas que estavam sobre a Ponte desapareceram. Várias pessoas foram resgatadas e outras continuam desaparecidas; c) Chuva torrencial arrasou o conjunto urbanístico histórico de São Luis do Paraitinga, em São Paulo, onde, inclusive uma igreja centenária desabou.
Esses são estragos provocados pelas mudanças climáticas, eufemisticamente consideradas pela Mídia como “chuvas intensas”, e comprovadamente acima das médias regionais, em várias regiões do país. As notícias, acima referidas, deixam claro que não há como se sentir totalmente seguro em vista das mudanças climáticas em curso. Construções de concreto se derretem em vista da força das águas. Tudo o que era de concreto desmanchou como papel diante dos olhos perplexos da população. A conclusão a que chegamos é que não existe mais tecnologia 100% eficiente e eficaz diante de tantas mudanças desmedidas nos fenômenos naturais.

As notícias veiculadas da forma como referidas acima são grandes mentiras. Primeiro, porque a chuva é benfazeja, cai sobre justos e injustos (Mt 5,45), é reflexo da bondade de Deus, que é infinito amor. Deus rega com a chuva a terra que deu como herança ao seu povo (I Rs 8,36). “Mandarei chuva no tempo certo e será uma chuva abençoada” (Ez 34,26), assim o profeta Ezequiel consola o povo em tempos de exílio e de escassez de chuva. A sabedoria do povo da Bíblia reconhece que Deus solidário e libertador “através a chuva alimenta os povos, dando-lhes comida abundante.” (Jó 36,31). Na Bíblia se fala de chuva mais de cem vezes. Até no dilúvio, a chuva é vista como purificadora (cf. Gênesis 6 a 9). Sob o império dos faraós no Egito, a chuva de granizo é vista como uma praga em cima dos opressores e como uma dádiva de Deus que liberta da opressão (cf. Gênesis 9 e 10).
A chuva não castiga e nem desabriga ninguém, apenas revela uma injustiça sócio-econômica e política existente anteriormente. Logo, quem castiga e desabriga, em última instância, é o sistema que descarta as pessoas e as condena a sobreviverem em encostas e áreas de risco. Quem é atingido quando a chuva chega exageradamente, salvo exceções, são as famílias que tiveram seus direitos humanos - direito à moradia, ao trabalho, à educação, a um salário justo, ao meio ambiente equilibrado e à dignidade - desrespeitados pelo capitalismo neoliberal e por pessoas que adoram o deus capital, o maior ídolo da atualidade.

A Campanha da Fraternidade de 2010, com o tema Economia e Vida e com o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24) propõe um evangelho para todo o povo e para toda a biodiversidade: No princípio está a vida. No meio, os meios necessários para efetivar a vida. No fim, o bem-estar de todos e tudo. Não apenas a vida do ser humano e nem só de alguns, mas de todas as pessoas e de todos os seres vivos. Logo, urge construir uma sociedade sustentável, onde a preservação dos bens naturais seja o carro chefe e não o crescimento econômico só para alguns.

Um desafio inadiável é percebermos as relações entre as tempestades e o aquecimento global, entre o aquecimento global e o efeito estufa, entre o efeito estufa e a emissão de fases CO2 e outros, entre a emissão de gases CO2 e outros e o modelo industrial vigente, entre o capitalismo neoliberal e a mentalidade ocidental conquistadora, e a relação desta com o ser humano, seu Criador e todas as outras criaturas.
(Parte do artigo de Frei Gilvander Moreira)