quinta-feira, 22 de setembro de 2016
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Conhecer a Laudato Si – Um roteiro para encontros
Afonso Murad
Fonte: capítulo 16 do
livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas, 2016, p.225-235
Seguem algumas sugestões com elementos básicos para
encontros de reflexão, partilha e oração, a partir da Laudato Si. Caso não seja viável realizar todos os encontros, escolha
alguns deles. A ordem também pode ser alterada, conforme a realidade do grupo.
Sugerimos que um “encontro motivacional” seja realizado em
um parque, bosque, área de conservação, ou qualquer outro espaço onde, antes de
refletir, as pessoas exercitem seus sentidos (tocar, cheirar, ver, respirar,
ouvir), percebendo-se como parte do meio ambiente. Ele visa a aproximar-se do
ecossistema com abertura para a admiração e o encanto, deixar falar a língua da
fraternidade e da beleza (LS 11). Tal momento para estimular a sensibilidade e
o encantamento pode estar associado ao primeiro encontro, ou não. Outra
possibilidade consiste em criar um momento especial de celebração no meio do
processo ou após terminar os encontros de reflexão.
(1º) Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas
Finalidade: (a)
Agradecer a Deus pela beleza da criação; (b) Tomar conhecimento das motivações
da encíclica; a quem ela destina; suas grandes linhas, as convicções centrais,
o mapa para percorrê-la (esquema dos capítulos); (c) Compreender porque
Francisco de Assis é modelo do cuidado com a casa comum.
Canto: Cântico das
Criaturas, de São Francisco
Começo de conversa:
Qual a experiência mais forte que você viveu de sentir a beleza da criação?
Textos da Encíclica:
(1) O que é
a Encíclica Laudato Si (LS)
- Faz parte
do Ensino Social da Igreja. A LS foi
escrita “para nos ajudar a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do
desafio que temos pela frente”: cuidar da casa comum, a Terra (LS 15).
- Como
Francisco e seus assessores organizaram a encíclica em seis capítulos (LS 15).
- A Terra é
para nós como a casa onde habitamos
com as outras criaturas, uma irmã com
que partilhamos a existência, uma boa mãe
que nos acolhe nos seus braços (LS 1). Ela clama contra a violência que lhe
provocamos. Esquecemos de que nós mesmos somos parte da Terra (LS 2).
- Francisco
faz um grande apelo: unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento
sustentável e integral (13).
- Eixos que
perpassam toda a encíclica: (LS 16).
(2) São Francisco: exemplo do cuidado pelo que é frágil, por
uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. Aquele que reconhece
o planeta como um livro maravilhoso de Deus, que nos fala de sua bondade e
beleza (LS 10,11,12).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Cantar novamente o Cântico das criaturas. Continuar o louvor espontaneamente,
repetindo um refrão de agradecimento.
Textos complementares
para leitura: artigos de L.Boff (pag. 15-23) e F. Aquino Júnior (pag. 24-39),
no livro: Cuidar da Casa Comum.
Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(2º) O que está acontecendo com a nossa casa
Finalidade: fazer
uma resenha das questões socioambientais que devem causar inquietação nos
cristãos. Despertar a indignação. “Tomar consciência, ousar transformar em
sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a
contribuição que cada um lhe pode dar” (LS 18).
Canto: Oremos pela
Terra (Padre Zezinho – CD “A vida em nossas mãos” – Paulinas. Disponível no
blog: ecologiaefe.blogspot)
Começo de conversa:
Há um problema ambiental que você e sua família sentem “na pele”? Qual? Em sua
opinião, quais são os principais problemas ambientais da sua cidade? E do nosso
país?
Observações:
O capítulo 1 é uma grande síntese das principais questões
socioambientais do mundo. Impossível apresentar todos os aspectos numa única
reunião de grupo. Seria bom escolher alguns temas, começando por aqueles que
atingem mais de perto as pessoas de sua cidade e região. Não necessariamente na
ordem proposta pelo documento. O importante é perceber que as questões
socioambientais estão interligadas. Pode-se partir da grande questão global
(mudanças climáticas), ou de um tema mais próximo, como água e resíduos.
Para grupos com visão profunda e crítica, convém mostrar as
raízes dos problemas: o sistema de produção-consumo-descarte do mercado, que
rompe com os ciclos de matéria e energia do planeta (LS 22); o poder econômico
e financeiro que abandona a ética (LS 56).
Por fim, é bom ressaltar que já existem iniciativas
positivas e formas de enfrentar algumas destas questões (LS 58 e 180). Os
problemas não podem gerar sensação de impotência ou de indiferença.
Estes temas podem ser abordados em forma de painel, no qual
cada pessoa se ocupa de um tema, previamente escolhido, e o apresenta aos
outros. Em outros casos, vale convidar pesquisadores ou membros de movimentos
socioambientais para partilharem suas lutas em defesa do planeta. Ou ainda
recorrer a pequenos vídeos da internet, para provocar a reflexão.
Textos da Encíclica:
Propomos os
seguintes tópicos:
- Poluição e
resíduos (LS 20-21);
- Mudanças
Climáticas e suas consequências (LS 25);
- Água (LS
28);
- Perda da
biodiversidade (LS 32);
- Diminuição
da qualidade de vida nas cidades (LS 44);
-
Desigualdade planetária (LS 48).
- Respostas
positivas à crise do planeta (LS 58 e 180)
Oração final:
Oração pela nossa Terra (Ver: LS 246a)[1]
Textos complementares
para leitura: Artigos de Frei Gilvander Moreira (p.197-217) e Frei Rodrigo
Peret (p.182-196), no livro: Cuidar da
Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si.
Paulinas.
(3º) O Evangelho da Criação
Finalidade:
Superar uma concepção literal e estática da origem da Terra. Ampliar a visão
cristã sobre a criação e a nossa responsabilidade para com ela. Perceber que a
teologia da criação não está somente em Gên 1-2. Ela percorre toda a Bíblia, em
estreita relação com a salvação.
Canto: Escolha um
Salmo de Louvor com a criação.
Começo de conversa:
Levantar com o grupo os textos bíblicos sobre
a nossa relação com a Terra. (A pergunta fará a diferença: não somente a
respeito dos outros seres - água, solo, ar, plantas, pássaros, animais - , mas
sim como eles participam conosco no projeto criador e salvador de Deus).
Textos da Encíclica:
- Narrações
da criação: relação do humano com Deus, o próximo e a terra (LS 66).
- Releitura
de Gn1 e 2: de dominar para cuidar (LS 67).
- Caim e
Abel: a terra clama (LS 70a).
- Noé: tudo
está interligado (LS 70b). Basta um homem bom para haver esperança (LS 71a).
- Salmos e o
louvor pela criação (LS 72).
- De
“natureza” para “criação”: a diferença (LS 76).
- Cada ser é
importante. Tudo é carícia de Deus (LS 84).
- Uma
comunhão universal: respeito sagrado, amoroso e humilde (LS 89).
- O olhar de
Jesus de Nazaré (LS 97-98).
- Cristo
glorificado e a Nova Criação (LS 100).
Conclusões:
“Tudo está
relacionado e os seres humanos caminham juntos como irmãos e irmãs numa
peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das
suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã
lua, ao irmão rio e à mãe terra” (LS 92b).
Essas convicções da nossa fé, a partir da bíblia, provocam
uma conversão ecológica (LS 221).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Cantar outro Salmo de Louvor com a criação. Continuar com uma oração
espontânea.
Texto complementar
para leitura: artigo de Marcelo Barros, p. 103-114, no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura
teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(4º) Ecologia integral
Finalidade:
Compreender que, segundo a Igreja, a ecologia não é somente um estudo sobre o
meio ambiente. A ecologia integral compreende a nossa relação com o meio
ambiente, as questões sociais, a economia justa, a cultura, a maneira de viver
na cidade e as práticas cotidianas.
Canto: Sal da
Terra, de Betto Guedes (Disponível no blog: ecologiaefe.blogspot.com).
Começo de conversa:
o que você entende por ecologia? Como este tema aparece na TV, nas revistas e
na internet?
Observação:
O capítulo IV da LS reflete sobre a Ecologia integral e
seus componentes: ecologia ambiental, econômica e social (LS 138-142), ecologia
cultural (LS 143-146), ecologia da vida cotidiana (LS 147-155). Relaciona a
ecologia com o conhecido princípio do bem
comum e a opção preferencial pelos pobres (LS 156-158). Termina com o apelo
de estender o nosso compromisso para com as futuras gerações (LS 159-162).
Como no capítulo III (que não
trataremos aqui), papa Francisco utiliza aqui vários termos técnicos, que são
familiares aos pesquisadores e aos membros de movimentos socioambientais, mas
desconhecidos pelo católico comum. Por exemplo: modelos de desenvolvimento,
produção e consumo; impacto ambiental, ecossistemas, uso sustentável,
capacidade regenerativa, culturas homogeneizadas, ecologia humana, grandes
projetos extrativistas, paisagem urbana, solidariedade intergeracional. Por que
usar estas palavras? Para permitir um diálogo real com as pessoas que não fazem
parte da Igreja; para ampliar a visão dos cristãos e superar esquemas ingênuos
e insuficientes, a fim de que a Boa Nova do Evangelho seja significativa na
sociedade contemporânea.
A grande parte dos evangelizadores
(leigos/as, religiosas/as, presbíteros e bispos) quando falam em ecologia,
tendem a identificá-la simplesmente com “preservação da natureza”. Mas o
empenho ecológico não consiste somente em manter intacto algo, mas, sobretudo,
em estabelecer processos sustentáveis,
que respeitem os ciclos de matéria e energia no planeta. Além disso, a ecologia
não diz respeito somente à natureza, compreendida numa visão idealizada e fora
de nós. A grande novidade da ecologia contemporânea é a interdependência. Nós,
humanos, estamos em constante relação, entre nós mesmos e com a comunidade de vida do planeta, os
ecossistemas. Fazemos parte da Terra, mas ao mesmo tempo somos diferentes dos
outros seres. Ecologia não é sinônimo de natureza estática, e sim da busca por
um planeta habitável para nós e outros seres. Por fim, com a grande
concentração de pessoas nas cidades, ganha importância a ecologia urbana, que diz respeito à qualidade da existência humana
e de seu meio, especialmente para os mais pobres.
A ecologia integral amplia os
horizontes humanos e busca integrar o que a ciência moderna fragmentou: o ser
humano com todas as suas relações. Por isso, o Papa usa a feliz expressão:
“cuidado da casa comum”. Nesta casa habitamos todos: os seres abióticos (solo,
água, ar, energia do sol), os seres vivos nos mais distintos graus (como
microorganismos, plantas, animais) e os humanos. Oxalá a visão da ecologia
integral penetre nas nossas comunidades e faça parte do nosso horizonte
cristão.
Textos da Encíclica:
Como há muitos aspectos neste capítulo, sugerimos apenas
alguns. Você e sua equipe podem escolher outros, conforme sua realidade local.
(1)
Ecologia da vida cotidiana das cidades:
- Verdadeiro progresso: melhoria global da qualidade de vida
(LS 147).
- Esforços para melhorar o ambiente vizinho. A rede de
comunhão e pertença (LS 148-149).
- Cuidado com os espaços comuns e a intervenção na paisagem
urbana (LS 151).
- Acesso à moradia e um projeto urbano humanizador (LS 152).
- Transporte particular e transporte público (LS 153).
(2)
Ecologia e vida humana
- Nós fazemos parte do ambiente. Buscamos soluções integrais:
ecológicas e sociais (LS 139).
- O bem comum está ligado à promoção social dos mais pobres (LS 158).
- É preciso buscar a qualidade de vida pensando nas novas gerações do
presente e do futuro (LS 159 e 162).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Preces de louvor e súplica.
Textos complementares
para leitura: artigos de Pedro R. Oliveira (p. 90-102) e Manfredo Oliveira
(p.129-145), no livro: Cuidar da Casa
Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(5º) Espiritualidade ecológica
Finalidade:
Estimular a conversão ecológica, que suscita novas atitudes pessoais e
comunitárias. Descobrir a espiritualidade ecológica e assimilá-la em sua
existência.
Canto: Abençoa
nossa Terra (Padre Zezinho – CD “A vida em nossas mãos” - Paulinas)
Começo de conversa:
Você deve estar fazendo várias descobertas, com a leitura da Laudato Si. Você sentiu algum apelo para
mudar sua forma de rezar e de se relacionar com Deus, a partir dos nossos
encontros? O papa Francisco fala em “conversão ecológica”. O que você pensa que
seja essa “conversão ecológica”?
Textos da Encíclica:
(1) O apelo à conversão ecológica
- A espiritualidade está ligada ao corpo, à natureza e às realidades
deste mundo (LS 216).
- Conversão ecológica: deixar emergir, nas relações com o mundo em que
vivemos, todas as consequências do encontro com Jesus. Sermos guardiães da
criação (LS 217).
(2) Espiritualidade ecológica
- Espiritualidade simultaneamente pessoal e comunitária (LS 218).
- Viver com alegria e simplicidade (LS 222).
- A felicidade com poucas coisas (LS 223).
- Paz interior e equilíbrio de vida (LS 225-226)
(3) Os sacramentos em
perspectiva ecológica
- Sacramentos e visão integradora do mundo (LS 235).
- Eucaristia, ato de amor cósmico (LS 236).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Repetir alguma frase da Encíclica, em forma de ação de graças.
Tarefa para o próximo
encontro: Cada um(a) pense qual ação coletiva (comunitária) será assumida
pela comunidade como forma concreta de atender ao apelo do Papa Francisco na Laudato Si. Por vezes, já existem
iniciativas bem sucedidas em sua cidade, que precisam de apoio e colaboração.
Procure descobri-las, antes da reunião. Conforme o caso, convidar membros de
movimentos socioambientais para participar do próximo encontro.
Textos complementares
para leitura: Artigos de Frei Luis Carlos Susin (p.40-51), Frei Betto (p.157-168)
e Maria Clara Bingemer (p.169-181), no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas.
(6º e 7º) Atitudes
individuais e ações coletivas de cuidado com a casa comum
Finalidade:
Colocar em prática a mensagem da Encíclica Laudato Si.
Canto: Momento Novo ou outro cântico que
estimule a ação conjunta.
Observações
Estes encontros têm caráter prático, concreto. O mais
importante é que a comunidade assuma algumas ações coletivas de cuidado com a
casa comum, conforme sua realidade local. Embora esteja colocado no final da
série, podem ser realizados no meio do processo. As ações comunitárias suscitam
consciência e nos permitem fazer uma ligação entre a prática e a teoria.
Sugerimos dois encontros, para amadurecer as propostas, escolher as pessoas e
organizar as atividades.
Sugestão de método:
O animador(a) inicia recolhendo as sugestões dos participantes. Escreve-se ou
se projeta tudo o que foi sugerido. Convém distinguir as iniciativas já
existentes e as novas propostas. Em seguida, um tempo de cochicho, para
escolher as viáveis. Caso haja pessoas convidadas, que representam movimentos
existentes, elas devem brevemente colocar o que realizam. Depois, segue-se a
discussão em vista da decisão. Por fim, na reunião seguinte, aprofundamento e
escolha das opções, com as respectivas pessoas encarregadas e o cronograma de
execução.
Ações comunitárias: Essas são realizadas
com a finalidade de efetivamente contribuir para a melhoria da qualidade da
vida. Além disso, despertam a consciência para o cuidado com a Casa comum. O
papa Francisco insiste que devemos construir juntos uma terra habitável. Quando
já existem iniciativas da sociedade civil, devemos nos unir a elas, ou realizar
um trabalho de parceria. Se não há nada na cidade, é momento de começar.
Existem no mínimo dois tipos de ações comunitárias:
campanhas e processos. As campanhas visam desinstalar as pessoas e mobilizá-las
para mudar de atitudes e empreender ações de impacto, durante um tempo fixado.
Já os processos são duradouros (embora devam ser avaliados a cada ano, para
melhorar ou modificar). Uma campanha pode desembocar num processo. Depende da
existência ou não de pessoas na comunidade que assumam a responsabilidade.
Tanto as campanhas como os processos devem ser bem preparados, com uma comunicação
eficiente, utilizando meios interpessoais e virtuais. Não basta que a proposta
seja boa. Ela deve começar bem, para ter futuro. Chegar até as pessoas, onde
elas estão. Hoje é necessário unir várias formas e canais de comunicação. Por
exemplo: um cartaz inteligente e bonito, afixado em locais por onde as pessoas
passam (como a escola e a padaria), abordagem na porta da Igreja, entrevista na
rádio da cidade, rede no What’s App, comunidade no Facebook...
Algumas destas iniciativas somente serão duradouras se
contarem com a ajuda de voluntários, ambientalistas e pessoas que tragam sua
experiência e contribuição técnica. Em outros casos, com o apoio das
associações locais e outras igrejas cristãs. Algumas atividades complexas
exigem a parceria com o poder público, especialmente a prefeitura. Evite-se a
submissão destas iniciativas ao apoio interesseiro de vereadores ou deputados.
O animador(a) deve estudar antes
da reunião as propostas viáveis, pesquisar na internet, entrar em contato com
pessoas na cidade. Ver as possibilidades e os riscos de cada iniciativa. E
estar aberto(a) às propostas que venham do grupo. Seguem algumas sugestões.
Você encontrará vários vídeos com experiências detalhadas na internet, que
podem servir de inspiração.
Textos da Encíclica:
- Ações
individuais: (LS 211 e 212).
- Amor civil
e político (LS 228 e 231).
Oração final: Após
momento espontâneo de louvor, encerrar com a Oração cristã com a criação (LS
246b).
Texto complementar
para leitura: artigo da Marcial Maçaneiro (p. 73-89) no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura
teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
[1]Em
um mesmo parágrafo da LS por vezes há assuntos diferentes. Para efeito
didático, colocamos a letra (a) ou (b), para indicar que o texto indicado se
encontra no início ou no final do tópico citado. Tal letra não existe no
documento.
Conhecer a Laudato Si - Pistas pastorais
Fonte: capítulo 16 do
livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas, 2016, p.219-224
Introdução
Quando o/a peregrina está num grande Santuário, como Aparecida,
além de rezar diante da “imagem da santa” e participar da missa, percorre
capelas e outros cantinhos, contempla as pinturas e esculturas, caminha na área
externa, visita as lojinhas, alimenta-se, ou ainda senta-se debaixo das árvores
para se abrigar do sol e descansar. Se alguém visita uma cidade histórica, como
Ouro Preto, sobe e desce as ladeiras, olha os casarões, entra nas igrejas,
prova a saborosa comida mineira, senta-se na praça, admira o artesanato de
pedra sabão. Diferentemente de outras culturas, o brasileiro(a) não costuma
usar mapas ou roteiros para percorrer santuários ou cidades. Por vezes, estes
instrumentais são importantes para a gente se guiar e desfrutar com mais
conhecimento e profundidade da experiência de peregrino ou enriquecer nosso
horizonte cultural. Mas, um mapa não substitui a prática de descobrir,
contemplar, rezar, comer, divertir-se ou descansar.
Assim também acontece com a leitura e a prática cristã que decorre de um documento eclesial, como a Encíclica Laudato Si. As chaves de leitura que apresentamos nos capítulos anteriores são como um mapa, um roteiro ou aquelas “dicas” que se busca na internet. Ora, a gente se torna peregrino quando chega ao santuário. Conhece uma cidade ou região quando caminha, vê, sente os odores, conversa com as pessoas e faz suas próprias fotos. A grande tarefa que se põe agora consiste em introduzir as pessoas para conhecer a Laudato Si e colocar em prática a sua proposta.
Quem organiza excursões ou peregrinações (e às vezes ambas fazem parte do mesmo “pacote”) coloca uma pergunta prévia: “a quem se destina?”. Ora, o conteúdo e a forma estão intimamente ligados ao tipo do público-alvo. Uma peregrinação para a terceira idade requer escolha de locais e uma programação próprias, diferente daquela dirigida a um grupo de jovens. De maneira semelhante, tal questão orienta bispos, presbíteros, religiosos(as) e outros agentes de pastoral quando introduzem os cristãos no conhecimento e na vivência da mensagem da Laudato Si. O importante é ajudar as pessoas e os grupos a realizarem uma “fusão de horizontes” da sua experiência pessoal e comunitária com o texto inspirador. E a partir daí, alargar sua visão de mundo, enriquecer a espiritualidade e suscitar práticas transformadoras. Isso requer o conhecimento específico de determinado grupo, com suas características de faixa etária, cultura local, interesses, tipo de religiosidade predominante e experiências de vida.
Apresentaremos aqui uma sugestão de trabalho com a Encíclica, dirigida a grupos eclesiais, pastorais e movimentos de adultos em paróquia urbana. Esse recorte também é amplo. Deve-se levar em conta vários fatores do público-alvo concreto, como acesso à leitura, condição social, prática de trabalho em grupo etc.
Deixamos claro: não se trata de um roteiro pronto, mas de
pistas para suscitar a criatividade local. Esperamos que se tomem iniciativas
semelhantes com os/as catequistas e as crianças, os jovens, os movimentos, as
pastorais específicas, especialmente as pastorais sociais.
O caminho da
aprendizagem: conteúdo e metodologia
- O Papa Francisco insiste que o “cuidado com a casa comum”
compreende ao mesmo tempo as atitudes individuais (ecologia do cotidiano) e a
prática do “amor civil e político” (LS 228-231). Por vezes, é difícil realizar
as duas dimensões. No momento, há um descrédito quanto à luta de grupos
organizados para garantir políticas públicas justas e sustentáveis. Além disso,
nos últimos anos desenvolveu-se na Igreja uma espiritualidade muito subjetiva e
centrada em práticas religiosas (piedade e liturgia), em detrimento da
ética.Sem contar a crescente influência do pentecostalismo, fascinado por
milagres e experiência religiosa emocional, mas avessa à reflexão. Neste
contexto, deve-se valorizar o louvor e partir da subjetividade. Por isso,
colocamos como primeiro tema o louvor pela criação e a referência a São
Francisco.
- Embora na igreja se fale pouco sobre o cuidado com o planeta, existe uma sensibilidade crescente na sociedade para com esta questão. O tema é atraente e cria condições para suscitar novas lideranças eclesiais. Atrairá homens e mulheres que desejam contribuir com uma sociedade sustentável. Trará “novos ares” para a espiritualidade e a ética cristã.
- A encíclica é dirigida não somente aos católicos(as), mas também a cristãos de outras Igrejas, crentes de outras religiões e todos os homens e mulheres que são chamados a cuidar de nosso planeta. Propositalmente, a Laudato Si tem poucos parágrafos explicitamente confessionais católicos, como as referências à Eucaristia (LS 236) e a Maria (LS 241). O texto do Papa pretende ser uma Boa Nova para a humanidade. Seria bom promover debates com fiéis de outras religiões, pesquisadores e membros de movimentos socioambientais. Isso exige uma metodologia diferente daquela que apresentamos aqui, voltada, sobretudo, a grupos que estão “dentro da Igreja”.
- Convém motivar as pessoas a conhecerem o texto inteiro da Encíclica e a meditarem sobre seu conteúdo. Além da versão escrita, editada em várias editoras católicas, as pessoas podem usar o texto na internet, no site do vaticano. Ele se encontra em Língua Portuguesa assim como é praticada em Portugal.
- Francisco nos pede para mudar nossa ecopercepção. Isso significa: superar aquela ideia do que o meio ambiente está fora de nós, vencer o preconceito de que ecologia é assunto de radicais verdes. Em outras palavras, compreender que tudo está interligado, que fazemos parte da Terra, que a ecologia é muito mais do que preservação da natureza. Inclui a consciência social, a busca de qualidade de vida na cidade, a espiritualidade integradora, a sensibilidade para a beleza, a gratuidade na existência, a renúncia ao consumismo, a adoção de um modelo de vida simples e alegre. Enfim, deter a espiral de destruição do planeta e acreditar que a humanidade pode ser diferente.
- Esta nova relação com a criação como um todo será alcançada também com uma metodologia que inclui os cinco sentidos (ver, tocar, cheirar, ouvir, sentir o gosto). Sugerimos que ao menos um encontro ou parte dele seja realizado num parque da cidade, em área de conservação, na beira do rio ou da praia, ou simplesmente embaixo de uma árvore. Somente nos sentiremos irmãs e irmãos das outras criaturas se nos aproximarmos delas conscientemente, experimentando, refletindo e rezando. Também podem ser úteis pequenos exercícios de autoconsciência e comunhão com a casa comum, como respirar, pisar e tocar na grama, molhar o rosto e o pescoço com a água fresca, fazer juntos e saborear uma bela salada com muitas cores.
- É fundamental que o estudo da Laudato Si se conclua com práticas concretas, perceptíveis, avaliáveis. A própria encíclica propõe algumas delas. Do ponto de vista das instituições eclesiais, como paróquias e escolas, é fundamental dar exemplos de práticas ambientais estimuladoras. Citamos aqui algumas: reutilização de água de chuva, substituição por lâmpadas econômicas, redução drástica do uso de material descartável, reutilização de produtos, separação e destinação do lixo seco para cooperativa de coletores. Isso se amplia com algumas iniciativas que partem do espaço eclesial e se destinam às famílias, tais como: incentivo à compostagem e horta/jardim de apartamento, oferecer mudas para replantio e cultivo de árvores frutíferas e do bioma local, centro para recolher e destinar à reciclagem o óleo de cozinha. Tais iniciativas devem ser realizadas em parceria com cooperativas, ONGs, empresas e poder público. Por vezes, eles já realizam iniciativas louváveis. O incentivo da Igreja e a motivação da fé permitem que seus frutos se multipliquem.
Se você começa a conhecer uma cidade ou região com um tempo limitado, deve necessariamente priorizar o que verá. Ou confiar no seu guia, quer fará isso por ele/a. Se vai a Salvador, seguramente será levado ao pelourinho. Quem passa por Belém, visitará o mercado “Ver o peso”. Em outra ocasião se deterá em outros pontos e fará seu próprio percurso. Impossível ver tudo de bom, ao mesmo tempo. Assim também procederemos aqui. Escolhemos alguns temas e parágrafos da Laudato Si, que nos parecem imprescindíveis para entrar no documento. Propomos alguns encontros, que podem ser aumentados ou diminuídos, conforme a natureza do grupo.
Algumas dicas
Vale relembrar alguns princípios metodológicos, tendo em
vista o público-alvo escolhido.
- Procure utilizar textos breves, na medida certa para seus
interlocutores. Textos extensos, muitas
citações da Encíclica, e longos
comentários levam ao desinteresse pelo tema ou perda do foco. Para cada
encontro propusemos alguns parágrafos da Laudato
Si. Mesmo assim, veja o que é mais apropriado para o seu grupo.
- Divida bem o tempo de cada encontro, de forma a incluir um momento de oração, o conhecimento de tópicos da Encíclica e o confronto com a vida das pessoas. Conforme o tema, dediquem-se ao discernimento de ações práticas, em âmbito pessoal, familiar e comunitário.
- O estudo da Laudato Si pode estar articulado com temas das Campanhas da Fraternidade que tratam de questões socioambientais.
- Conforme o público, utilize música, clipe ou vídeo, como motivação. Neste caso, escolha o material que desperte a mente e o coração, e ajude a fazer a “fusão de horizontes”. Evite filmes longos. Há bons vídeos na internet, especialmente para tratar de alguns temas dos capítulos I (Como anda nossa casa Comum) e IV (Ecologia Integral).
- Se você e seu grupo produzirem um material de uso coletivo (como texto, vídeo, música, desenhos, clipe), coloque-o na Internet, no site da sua pastoral, movimento, paróquia ou diocese, de forma que outras pessoas no Brasil possam utilizá-lo. Compartilhe com seus amigos em redes sociais. Mande-nos também o link para colaborarmos na sua divulgação: murad4@hotmail.com
- Colocamos à sua disposição
algumas apresentações em powerpoint,
que estão no blog: ecologiaefe.blogspot.com Tenha a liberdade de modificar, reduzir ou
ampliar.
- Também produzimos uma série
de programas de rádio sobre a Laudato Si,
de seis minutos cada um, que estão disponíveis no site da RCR ou em www.amigodaterra.com.br Divulgue na
emissora da sua cidade. Utilize como subsídio de áudio para discussão e
reflexão. Se você produziu algum programa ou entrevista em áudio, mande também
para nós, no email: murad4@hotmail.com
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
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