Somados, os 29 projetos
alcançam 31% da capacidade potencial de geração de energia das duas principais
bacias hidrográficas da região, as dos rios Amazonas e Tocantins, e 14 deles usam
R$ 78 bilhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Verbas do PAC foram destinadas até para usinas que sequer receberam aval
ambiental: São Luiz do Tapajós (R$ 18,1 bilhões), Jatobá (R$ 5,1 bilhões) e
Marabá (R$ 2,27 bilhões). Os planos vão além: está em andamento o estudo para
aproveitar a Bacia do Rio Negro.
— A Amazônia é a bola da vez,
e é necessário se antecipar aos problemas, não pedir desculpas pelo já feito. É
preciso ter princípios adequados à lógica da região. Na Amazônia, a questão
ambiental se sobrepõe a todos os fatores. Não dá para fazer uma usina atrás da
outra — diz João Gilberto Lotufo, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA),
que acaba de finalizar o Plano Estratégico de Recursos Hídricos dos Afluentes
da margem direita do Rio Amazonas.Última fronteira a ser desbravada, a Amazônia pode gerar 121.246 MW, equivalentes a 48,72% do potencial do país. Além das hidrelétricas, outras 11 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) estão em rios amazônicos — cinco em obras e seis já outorgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
— Estamos planejando com o maior cuidado e procurando reduzir ao mínimo o impacto — afirma Altino Ventura, secretário de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. Se forem acrescentadas à lista as usinas de Estreito e Santo Antônio, que entraram em operação em 2011, as novas usinas vão gerar 42.529 MW, o que significa aumento de 53,9% na capacidade instalada do país. — Metade da energia prevista para entrar no sistema até 2020 está na Amazônia. Podemos abrir mão? — indaga Ventura.
O entusiasmo com a construção
de hidrelétricas contrasta com as preocupações ambientais. O Amazonas deve
receber quatro delas. O governo do estado é contra. — Não somos contra o
crescimento econômico, mas ele não precisa ser predatório. O governo precisa
olhar outras soluções — diz Anderson Bittencourt, coordenador de Energia da
Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas, que projeta uma usina solar em Manaus.
Bittencourt diz que a primeira consulta pública sobre as usinas foi em Manaus,
a mais de mil quilômetros das comunidades afetadas, onde vivem 112 mil pessoas.
As novas hidrelétricas na
Amazônia — incluindo as recém-inauguradas Santo Antônio e Estreito — alagarão
uma área de ao menos 9.375,55 quilômetros quadrados, quase oito vezes o tamanho
da cidade do Rio de Janeiro. A área inundada diminuiu em relação a obras do
passado. Em média, serão 0,22 km²/MW contra uma média nacional de 0,49 km²/MW.
As duas maiores usinas, São Luiz do Tapajós e Jatobá, ambas no Tapajós alagarão
1.368,85 quilômetros quadrados, quase o tamanho da cidade de São Paulo. A São
Luiz do Tapajós deve gerar 6.133 MW; será a quarta maior do país, atrás de Belo
Monte, Tucuruí e Itaipu. A terceira maior usina desta lista é a de Marabá, com
operação planejada para 2018 e capacidade de 2.160 MW. Possui o maior
reservatório entre as novas, de 1.115 quilômetros quadrados, e poderá deslocar
40 mil pessoas que vivem às margens do Tocantins em nove municípios de Pará,
Tocantins e Maranhão. Na região, está a reserva indígena Mãe Maria e o Parque
Estadual do Encontro das Águas.
Para o biólogo Philip
Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Brasil deve
buscar novos caminhos: — É preciso repensar a lógica para, no futuro, não se
arrepender de ter acabado com os rios da Amazônia. É mais barato fazer um plano
de redução do consumo. No Brasil, 5% do gasto são de chuveiro elétrico — diz o
biólogo.
Fonte: Jornal O Globo, dia
23/09/12.
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