Tudo isso compôs a celebração penitencial com a qual se concluiu o segundo dia do Intereclesial das Comunidades de Base, aqui em Porto Velho, Rondônia. Os participantes ainda se encontram, à noite com as famílias que as acolheram carinhosamente em suas casas. Momento de recordar um dia intenso...
Começamos a jornada cedinho, as 7.15h da manhã, no Ginásio do SESI, batizado de “Porto”, em alusão à realidade amazônica. Lá se reuniram os 3 mil delegados para a oração da manhã, que desta vez foi animada pelas comunidades indígenas. Tempos de silêncio de acolhida, diante da forma própria dos índios sintonizarem com o sagrado.
Depois, os ônibus nos esperavam. Fomos divididos em 12 rios, grupos de até 300 pessoas, que se encontraram em escolas da Cidade durante boa parte do dia. Fui para o “Rio Tocantins”, que funcionou na escola das salesianas. Na chegada, como em todo lugar onde estivemos, membros de comunidades e paróquias nos acolheram com música e sorriso. Depois da animação, quatro assessores apresentaram brevemente algumas questões referentes à realidade socioambiental da Amazônia e do Brasil. A seguir, fomos para os grupos menores. Ali se dá o momento onde as pessoas podem se ver, se reconhecer, contar seus “causos”, partilhar lutas e conquistas. Foi isso que aconteceu. Estive no grupo 7 e ouvi algumas experiências significativas de CEBs rurais e urbanas.
Na hora do almoço, outra boa surpresa. O alimento simples, farto e saboroso foi elaborado por voluntários(as) das comunidades. Sabor de família, de partilha, de colaboração, que marca desde o início o jeito de ser das CEBs.
No início da tarde apresentou-se uma síntese dos grupos, centrada no momento de VER a realidade da Amazônia e do Brasil, seus gritos e conquistas. Vieram à tona as grandes questões socioambientais. A primeira, sem dúvida, é a expansão violenta do agronegócio exportador, que traz consigo a destruição do ecossistema, dispersão das comunidades tradicionais e pouca melhoria de condição de vida para a população. Tocou-se também sobre a crescente dificuldade de acesso à água potável no Brasil, em distintas regiões. E, como tudo está interligado, também se falou da violência urbana e do tráfico de drogas. Não senti um clima de desespero ou indiferença diante de um quadro tão sério. Ao contrário, as pessoas sabem que estão fazendo sua parte, que estão colaborando para uma sociedade diferente, animadas pela fé. Partilharam-se algumas experiências bem sucedidas de socioeconomia solidária, de agroecologia e de conscientização ambiental.
E no final da tarde, sob um sol escaldante, fizemos a caminhada até a barragem no Rio Madeira. Aliás, escutei várias pessoas comentando sobre os impactos das barragens em sua região. Penso que a questão da energia é vital para a sustentabilidade.
“Mestre, onde moras? Vinde e Vede – Quem conhece, ama!” Como este mote, hoje o dia está dedicado à missão. Os participantes irão visitar uma das experiências locais: população indígena, comunidades agrícolas, comunidades extrativistas, comunidades ribeirinhas, comunidades de ocupação, casa de detenção, hospitais, casa do menor (salesianos), casa de recuperação de dependentes químicos, bairros populares e comunidades afro-descendentes.
As CEBs continuam sendo um sinal de esperança para uma sociedade justa, inclusiva e sustentável. O intereclesial mostra que um mundo novo é possível e dele já se vêem belos e tênues ramos.
Ir. Afonso Murad
To aí com voces!
ResponderExcluirDe Salvador mando o meu abraço. Posso imaginar o quanto que vale a partilha aí. Encontrei com Carlos Mesters recentemente. Falamos do Intereclesial. Eu disse que o jeito de ser Igreja aqui no Brasil é "encontro". Ele me respondeu: "Sim, sua próxima tese vai ser sobre isso!" .... Acho que vou deixar a tese para o povo brasileiro, mas de qualquer jeito estou muitíssimo unida a vocês aí.
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