quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ações coletivas a partir da Laudato Si

O Papa Francisco pede que, ao mesmo tempo, mudemos nossas atitudes pessoais e realizemos ações coletivas de cuidado com a nossa casa comum. Essas são empreendidas com a finalidade de efetivamente contribuir para a melhoria da qualidade da vida das pessoas, proteger o meio ambiente, favorecer a inclusão social dos pobres, exercitar a cidadania e cultivar a espiritualidade ecológica.
Então, o estudo da Laudato Si desemboca necessariamente em atitudes e ações práticas, realizadas em âmbito individual e coletivo. Quando já existem iniciativas da sociedade civil, devemos nos unir a elas, ou realizar um trabalho de parceria. Se não há nada parecido no nosso bairro ou cidade, é hora de começar. Vamos lá!!!

Ações coletivas
Na LS 219, Francisco diz como clareza: para resolver a grave situação socioambiental do planeta, que é tão complexa, não basta que cada um seja melhor. São necessárias redes comunitárias, união de força! Por isso, vamos sugerir algumas ações possíveis, que você pode realizar com outras pessoas e grupos.
O Texto abaixo reproduz e atualiza parte do capítulo 16, “Laudato Si – Pistas pastorais para conhecer e colocar em prática”, do livro Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si’. Paulinas, 2016.
Existem no mínimo dois tipos de ações comunitárias: campanhas e processos. As campanhas visam desinstalar as pessoas e mobilizá-las para mudar de atitudes e empreender ações de impacto, durante um tempo fixado. Já os processos são duradouros. E devem ser avaliados a cada ano, para melhorar ou modificar. Uma campanha pode desembocar num processo. Depende da existência ou não de pessoas na comunidade que assumam a responsabilidade.
Tanto as campanhas como os processos devem ser bem preparados, com uma comunicação eficiente, utilizando meios interpessoais e virtuais. Não basta que a proposta seja boa. Ela deve começar bem, para ter futuro. Chegar até as pessoas, onde elas estão. É necessário unir várias formas e canais de comunicação.
Algumas destas iniciativas somente serão duradouras se contarem com a ajuda de voluntários, ambientalistas e pessoas que tragam sua experiência e contribuição técnica. Em outros casos, com o apoio das associações locais e outras igrejas cristãs. Algumas atividades complexas exigem a parceria com o poder público, especialmente a prefeitura. Evite-se a submissão destas iniciativas ao apoio interesseiro de vereadores ou deputados.
Antes da reunião, vocês devem estudar as propostas viáveis, pesquisar na internet e prever os passos necessários. Discernir sobre a viabilidade, os riscos e os eventuais custos de cada iniciativa. E estar aberto(a) às propostas que venham do grupo. Seguem abaixo algumas sugestões. Você encontrará vários vídeos com experiências detalhadas na internet, que podem lhes servir de inspiração.

Sugestão de ações concretas
a) Eventos e campanhas
- Feira de trocas: podem ser realizadas com as mais diversas faixas etárias. A finalidade é refletir sobre a maneira como compramos, usamos e descartamos os objetos. Na feira de trocas, cada um(a) traz alguns objetos pessoais em bom estado, que ele/a não usa mais, para trocar com outra pessoa. Descobre-se o valor de uso dos objetos e exercita-se o desapego. Veja algumas experiências na internet (busque: “feira de troca”).
- Mutirão de limpeza: mobiliza membros da comunidade para limpar um espaço de uso público, como um parque, uma praça, a praia ou a beira do rio. Alerta as pessoas sobre a necessidade de cuidar dos espaços comuns.
- Caminhada ecológica: serve para muitas finalidades. Algumas vezes, destina-se a tomar consciência do próprio corpo, fortalecer os laços interpessoais, e encantar-se com as belezas da Terra (as árvores, as águas, o ar, os pássaros, as flores). Noutras ocasiões, tem um caráter profético, de denúncia diante da destruição dos ecossistemas. Em outros momentos, enfatiza a dimensão celebrativa, de louvor com a criação. Ou pode conter simultaneamente todos estes elementos.
- Feira de produtos orgânicos e da economia solidária: pode acontecer algumas vezes no ano, ou ser um processo. As feiras fortalecem a cadeia produtiva com alimentos saudáveis, estimulam as iniciativas de economia solidária, conscientizam sobre o valor da alimentação sem agrotóxicos e estimulam a inclusão social. Devem ser realizadas em parceria com produtores de alimentos orgânicos, de agricultura familiar ou outras iniciativas de economia solidária. Para saber mais, procure na internet: “economia solidária”. Para ver notícias e experiências: http://cirandas.net/
- Passeio ciclístico: visa despertar para o uso da bicicleta com meio de transporte ou diversão. Chama a atenção para o importante tema da mobilidade urbana.
- Romaria da terra e das águas: organizada pelas pastorais sociais, constitui importante momento para denunciar o mau uso do solo e a degradação dos nossos rios, fortalecer as lutas socioambientais e louvar a Deus com a água e o solo.
- Campanha de plantio de mudas: em parceria com outras organizações, mobiliza membros da comunidade para plantarem e cuidarem de árvores frutíferas ou do bioma onde você vive (como a amazônia, mata atlântica, cerrado ou semi-árido). É bom contar com a ajuda de técnicos que ensinam como plantar e cuidar das árvores, bem como escolher as mais adequadas para sua região.
- Campanha de resgate de nascentes: mais apropriada para áreas rurais (embora também seja útil na cidade), consiste em localizar nascentes e zelar do seu entorno.
- Campanha de coleta de água de chuva: a experiência bem sucedida de construção de cisternas caseiras em comunidades rurais no semiárido do Brasil, com apoio da Caritas, agora se estendeu para as cidades e outras regiões, para ajudar a superar a crise de abastecimento da água.
- Campanha da compostagem e de jardim/horta caseira: com informações claras, estimula a produção de adubo orgânico em pequena escala e um espaço para cultivo de plantas. Busque mais informações e experiências na internet.
- Campanha de redução do consumo de água e energia: já há muitas iniciativas, com apoio das concessionárias. Devemos ajudar as famílias a fazer um diagnóstico, para perceber onde e como há maior impacto ambiental na sua casa. E então adotar atitudes sustentáveis.

b) Processos
- Coleta de óleo de cozinha: organiza-se um local para recolher o óleo de fritura utilizado nas casas ou organizações. E se escolhe uma organização que recolhe e recicla o material coletado. Além de reduzir a poluição das águas, o resto óleo de fritura serve de matéria prima para fabricar sabão e detergente.
- Apoio às cooperativas de coletores de material reciclado: a comunidade, ou um condomínio, monta um sistema de separar e destinar o chamado “lixo seco”, para reduzir a quantidade de resíduos e fortalecer empreendimentos populares de “catadores”. Convém escolher qual material recolher (por exemplo: latinha, garrafas pet e papel branco limpo). Esta iniciativa tem ajudado na promoção social de muitas famílias pobres, além de reduzir o volume dos aterros sanitários da cidade.
- Horta urbana coletiva: iniciativa crescente em várias partes do mundo, consiste em aproveitar espaços urbanos para plantio de hortaliças, realizado por um grupo. Ver na internet: “horta urbana”.

c) Pressão sobre o poder público
Algumas mudanças duradouras exigem o compromisso do governo municipal, através de leis, organismos, empreendimentos e políticas públicas. Para isso, é necessário criar grupos de cidadãos que farão um longo trabalho de conscientização, reivindicação e pressão sob o poder público. A palavra oficial da Igreja, através de pastorais organizadas, paróquias e dioceses, tem grande valor para fortalecer estas iniciativas.
Veja algumas mudanças importantes para a cidade: implantação de aterro sanitário; apoio logístico aos coletores de material reciclável, estação de tratamento de esgoto (ETE), criação de ciclovias, criação e manutenção de parques públicos e áreas de conservação, política de mobilidade urbana, controle da poluição do ar, controle da qualidade dos alimentos.

d) Gestos institucionais da igreja
O Papa Francisco está ensinando ao mundo que os gestos valem mais do que as palavras. E as palavras se tornam dignas de credibilidade quando acompanhadas por atitudes. Veja alguns gestos institucionais que podem ser assumidos pela Igreja local.
- Incorporar o olhar da sustentabilidade em qualquer atividade promovida pela Igreja, (como eventos, festas, celebrações) com gestos simples e visíveis. Por exemplo: reduzir a geração de lixo (resíduos sólidos), separar e destinar o resíduo reclicável para cooperativas de coletores, diminuir a distribuição inútil de papel, adotar papel misto e reciclado nas publicações.
- Rever a política de construção e reforma dos prédios, de forma assumir as conquistas do “ecodesign” (configuração ecológica) e da construção sustentável. Por exemplo: construir de acordo com o clima da região, para favoreça ventilação e iluminação naturais, usar material que economize eletricidade e água, captar e utilizar água da chuva dos imensos telhados das igrejas.
- Promover o plantio de árvores da região em Casas de Encontros e de Retiros.
- Em encontros e retiros, utilizar o ambiente externo, de forma que os participantes rezem em sintonia com o solo, o ar, as árvores, os pássaros. Vivam momentos gratuitos em contato com a paisagem; vejam as estrelas; sintam a energia do sol da manhã. E cultivem a perspectiva cristã da gratidão, do louvor e do cuidado.

Compartilhe conosco a(s) iniciativa(s) comunitária(s) que você empreendeu com sua comunidade ou instituição cristã, a partir da Laudato Si. Envie um texto para nós, com uma foto significativa. Ou mesmo um breve vídeo (máximo 5 minutos), narrando a experiência. Postaremos algumas delas neste blog. Enviar para: murad4@hotmail.com

Vamos juntos cuidar da Nossa Casa Comum!

Ir. Afonso Murad 

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