Se
a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que
pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 teríamos de fechar
a Terra para balanço hoje, 20 de agosto. Essa é a estimativa da Global
Footprint Network, ONG de pesquisa que há dez anos calcula o "Dia da
Sobrecarga". Neste ano, o esgotamento ocorreu mais cedo do que em 2012
--22 de agosto--, e a piora tem sido persistente. "A cada ano, temos o Dia
da Sobrecarga antecipado em dois ou três dias", diz Juan Carlos Morales,
diretor regional da entidade na América Latina.
Para
facilitar o entendimento da situação, a Global Footprint Network continua
promovendo o uso do conceito de "pegada ambiental", uma medida
objetiva do impacto do consumo humano sobre recursos naturais. No Dia da
Sobrecarga, porém, expressa-o de outra maneira: para sustentar o atual padrão
médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos. Para
fazer a conta, a ONG usa dados da ONU, da Agência Internacional de Energia, da
OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca detalhes em dados dos governos
dos próprios países.
O
número leva em conta o consumo global, a eficiência de produção de bens, o
tamanho da população e a capacidade da natureza de prover recursos e
biodegradar/reciclar resíduos. Isso é traduzido em unidades de "hectares
globais", que representam tanto áreas cultiváveis quanto reservas de
manancial e até recursos pesqueiros disponíveis em águas internacionais. A
emissão de gases de efeito estufa também entra na conta, e países ganham mais
pontos por preservar florestas que retêm carbono.
Apesar
de ter começado a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, a Global
Footprint compila dados que remontam a 1961. Desde aquele ano, a sobrecarga ambiental
dobrou no planeta, e a projeção atual é de que precisemos de duas Terras para
sustentar a humanidade antes de 2050. A mensagem é que esse padrão de
desenvolvimento não tem como se sustentar por muito tempo. "O problema
hoje não é só proteger o ambiente, mas também a economia pois os países têm
ficado mais dependentes de importação, o que faz o preço das commodities
disparar", diz Morales. "Isso ocorre porque os serviços ambientais
[benefícios que tiramos dos ecossistemas] já não são suficientes".
No
panorama traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ainda como um
"credor" ambiental, oferecendo ao mundo mais recursos naturais do que
consome. Isso se deve em grande parte à Amazônia, que retém muito carbono nas
árvores, e a uma grande oferta ainda de terras agricultáveis não desgastadas. Mas,
segundo a ONG WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa
margem de manobra está diminuindo (veja quadro à dir.), e exibe grandes
desigualdades regionais. "Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas
vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos", diz Maria
Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores
"devedores" ambientais.
Fonte: Folha de São
Paulo, 20 agosto 2013 (texto e imagem).
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