terça-feira, 9 de julho de 2013

Forum Temático: Religião, ecologia e cidadania planetária (2)

Eis a síntese das comunicações de cada um dos membros do Forum Temático 2: Religião, ecologia e cidadania planetária, durante a 26º Congresso da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião).

1. Direitos da Terra, Bem-viver e superação do especismo: incidências no cristianismo
Pedro A. Ribeiro de Oliveira. Doutor em sociologia – PUC-Minas pedror.oliveira@uol.com.br
A Carta da Terra levou o debate sobre consciência planetária do restrito âmbito de ambientalistas e pensadores/as para o público externo à academia. Embora esse público ainda seja pequeno, é certo que o tema tem-se desdobrado em várias questões que atingem um número cada vez maior de pessoas, muitas delas com forte marca cristã. Tendo presente a tradução antropocêntrica do cristianismo, cabe perguntar sobre as incidências dessas três dessas questões – Direitos da Terra, Bem-viver e especismo – na concepção cristã. Onde percebe-se pontos de resistência e de aceitação.

2. Culpa e mérito do Ocidente Cristão na Crise Ambiental
Douglas Jorge Arão. Doutor em Filosofia. PUC-Minas. djarao@gmail.com
Lynn White Jr., em seu celebre artigo “As raízes históricas da nossa crise ecológica”, não somente lamenta que o mandamento de Deus ao homem no livro do Gênesis seja de “dominar” a natureza, lamenta também o fato de ser um mandamento de “multiplicar” o número de descendentes deste homem primordial. De fato, Lynn White Jr., começa seu artigo mencionando Audous Huxley, e o efeito que o crescimento da população humana teve na degradação ambiental. A partir da constatação que a cristandade haveria uma enorme culpa no que diz respeito à crise ambiental, o autor duvida que a solução a esta crise possa estar no correto uso da ciência e da técnica e propõe uma visão alternativa àquela cristã. Mesmo depois de Copérnico ainda acreditaríamos na centralidade do nosso mundo, e mesmo depois de Darwin ainda “não seriamos capazes de nos conceber como membros do mundo natural”, segundo White. Ainda acreditamos na nossa superioridade e isso seria deplorável para o autor. Um ponto de fuga dessa visão seria o fato do autor salvar a figura de São Francisco de Assis, que White chama simplesmente Francis, como a figura cristã de maior impacto depois do próprio Cristo. Sua concepção democratiza a relação entre as criaturas de Deus, considerados como irmãos. White afirma que São Francisco “queria substituir o papel ilimitado do homem no cenário natural por uma idéia de igualdade entre as criaturas inclusive o homem” (..) A solução para a crise ecológica, profundamente enraizada em solo religioso, precisa de um remédio que seja igualmente religioso e a figura de São Francisco é de vital importância nesta empresa. Partindo da atualidade desta visão que vê uma grande culpabilidade a tradição Cristã no atual estado de alarme ecológico, analiso outros autores e outras versões do mesmo problema, comparando, principalmente com as ideias do economista e professor David Landes e sua obra "A Riqueza e pobreza das nações: Porque umas são tão ricas e outras tão pobres".

3. Viabilidade da Ética e Espiritualidade biocêntricas na Igreja Católica: uma análise do Catecismo romano
Luiz Eduardo S. Pinto. Mestre em Ciências da Religião. UNIMONTES. eduardosouzait@yahoo.it
Esta comunicação tem por objetivo apontar as contribuições e os limites do catolicismo romano a uma ética e espiritualidade biocêntricas. Ele toma como pressuposta a matriz antropocêntrica das religiões abraâmicas – entre as quais se inclui o cristianismo – mas levanta a hipótese de sua abertura a uma concepção biocêntrica. O campo empírico da busca é o Catecismo da Igreja Católica (CIC). O Catecismo é o documento oficial sobre a prática da fé e do ensinamento da doutrina. Nele estão contidos elementos que servem de orientações para a prática do catolicismo em todo o mundo, é um documento oficial de referência para os católicos. Nele há instruções sobre a profissão de fé, os sacramentos, a vida e a oração, sendo o mais completo documento da Igreja Católica acerca de sua doutrina. Justamente por isso serve de referência para qualquer estudo que se desenvolva sobre esta instituição religiosa. O período de elaboração do CIC (1985-1992) coincide com o início dos debates em várias partes do globo sobre questões como a extinção de espécies, o desmatamento, a poluição, o aquecimento global, o efeito estufa e o desenvolvimento sustentável. É um período de florescimento acentuado da consciência ambiental e das discussões sobre a relação dos humanos com a natureza. Nessa fase a perspectiva biocêntrica começa a entrar na pauta de discussão de intelectuais e instituições internacionais, dentre elas a Igreja Católica.

4 . As sete chaves da consciência planetária à luz da ecoteologia.
Afonso T. Murad. Doutor em Teologia, FAJE. murad4@hotmail.com
Inicialmente, caracterizaremos de forma breve os elementos que compõem o conceito de “Consciência planetária” e “Ecoteologia”. A seguir, apresentaremos as sete chaves, a saber:
- Encantamento: experiência sensível de contato com o meio ambiente, que desperta no ser humano o sentimento de reverência diante do mistério de todos os seres.
- Indignação: postura ética de “desconforto” diante das situações que atentam contra a dignidade dos seres humanos, sobrecarregam os ecossistemas e comprometem a continuidade da “teia da vida” no planeta.
- Informação: conhecer a situação dos ecossistemas no planeta, os impactos ambientais, a configuração do antropoceno e as alternativas de sustentabilidade.
- Visão sistêmica: superação da visão analítica que fragmenta a realidade, através do exercício da “alfabetização ecológica”, de compreensão holística e holográfica.
- Mística: desenvolvimento da eco-espiritualidade a partir da Bíblia, da Tradição Eclesial, do diálogo interreligioso e da sensibilidade aos Sinais dos Tempos, favorecendo a unidade da experiência salvífica cristã (criação – encarnação – redenção – recapitulação).
- Atitudes pessoais: posturas individuais, traduzidas em ações cotidianas referentes ao consumo de produtos e serviços e ao exercício da cidadania.
- Ações coletivas: complexo de iniciativas que abrange diversos âmbitos, do nível local à governança global, incluindo educação ambiental, gestão sócio-ambiental, comunicação, legislação e comunicação.

5. Um olhar essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os candomblecistas.
Amarildo Fernando de Almeida. Mestre em Ciências da Religião. PUC-Minas. amarildo-fernando@uol.com.br
Um olhar essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os candomblecistas. Para os candomblecistas o simbolismo das águas ultrapassa, e muito, o seu significado dos seus compostos químicos e das suas variadas formas de benefícios e de utilização do/no mundo moderno. O significado das águas nos terreiros de Candomblé situa-se num amplo universo de narrativas sagradas seculares, salvaguardando suas similaridades e suas diferenças com outras tradições religiosas, pois jamais se pode permitir ser interpretado e analisado com os procedimentos e os métodos da racionalidade cartesiana do mundo moderno. Dessa forma, as águas devem ser interpretadas a partir de “hidrofanias”, uma outra forma de ser no mundo: sagrada/profana. Assim sendo, a água no Candomblé é um elemento essencial e primordial a partir do qual tudo se configura e estrutura. E a água está presente na quartinha dos orixás; nos banhos e purificação dos corpos, dos animais, dos alimentos e folhas sagradas; ela restabelece a força regeneradora da energia vital; cura as diversas moléstias do corpo e da alma... E, necessário se faz lembrar, os candomblecistas ritualizam os significados primordiais das suas narrativas sagradas dos diferentes tipos de água: lamacenta, Nanã; doce, Oxum; salgada, Iemanjá. Portanto, diferente da racionalidade cartesiana que utiliza e beneficia da água em diversos momentos da sua comercialização, pois água é fonte de lucro e de riqueza.

6. Dimensão pública da teologia messiânica: ensaios sobre a constituição de uma ecoteologia
Andrea G. Santiago Tomita. Doutora em Ciências da Religião. Faculdade Messiânica. andreatomita@hotmail.com
O curso de Teologia da Faculdade Messiânica foi reconhecido pelo MEC em 2011 e tem uma proposta diferenciada de currículo que integra eixos de conhecimentos teológicos gerais com os específicos de uma teologia sui generis: a teologia da Igreja Messiânica Mundial (IMM - religião de origem japonesa fundada em 1935). Nesta comunicação pretendemos apresentar aspectos da proposta missionária da IMM que integra aspectos religiosos e práticas sociais (em terminologia messiânica denominada ‘ultrarreligião’) que conferem uma dimensão pública à sua teologia. Em especial, nos debruçaremos na análise do conteúdo e métodos de uma teologia prática com ênfase na visão do Fundador Meishu-Sama sobre “Arte da Agricultura Natural”; nos desdobramentos de uma práxis peculiar no campo da saúde, agricultura e meio ambiente e, finalmente, na reflexão sobre os possíveis fundamentos de uma ecoteologia messiânica.

7. O lugar da teoria da complexidade na ética ecológica de Leonardo Boff
Gabriel do Nascimento Vieira. Doutorando em Ciências da Religião. UNIMONTES. bielvi@ig.com.br
Esta pesquisa se propõe a esclarecer os vínculos da Teoria da Complexidade, interpretada a partir de Edgar Morin, com a Ética Ecológica Planetária proposta por Leonardo Boff. Ela ganha importância à medida que enfatiza o pensamento complexo como sustentação teórica dos problemas globalizados apontados por Boff e que, por sua vez exigem soluções complexas que atendam a diversidade de povos e culturas. Não dá mais para esperar soluções milagrosas vindas de um determinado segmento religioso, científico ou político que atenda a todos de maneira satisfatória. Deve-se aprender a pensar de outro modo, como diz Edgar Morin em seu escrito sobre o método, (sexto volume: tema ética a exigência da solidariedade e da responsabilidade como meios de religação ética entre os seres humanos e o planeta terra, nossa pátria-mãe).

2 comentários:

  1. O Fórum Temático “Religião, Ecologia e Cidadania Planetária” apresentou discussões de alto nível acadêmico. Foi conduzido de forma democrática o que fomentou interessantes debates. Parabéns professor Afonso Murad, mais uma vez.

    Luiz Eduardo de Souza Pinto

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  2. Ola pessoal do FT Religião, Ecologia e cidadania planetária. Foi um prazer estar com vcs na SOTER. Aprendi muito e deixo-lhes o convite para nos visitarem quando vierem a SP.
    www.faculdademessianica.edu.br
    www.solosagrado.org.br
    Abraços e até breve!

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