segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tarefas ecológicas das Religiões

Apresentamos aqui a última parte do artigo de Marcial Maçaneiro, que aponta mais quatro tarefas das religiões a respeito da ecologia. As três primeiras já foram publicadas anteriormente neste blog.

4. Promover a ética ecológica pessoal, comunitária e global

As religiões (de cunho profético, místico ou sapiencial), chaves hermenêuticas sobre o mundo e a condição humana, constroem sentido existencial, inserem o ser humano no cosmo, propõem valores. Antes da emancipação histórica da ética, do direito e das artes, as religiões se ocupavam (como em parte ainda se ocupam) das esferas moral, jurídica e estética. Hoje, a sociedade setorizou-se e o sujeito é nutrido por várias fontes, professando ou não um determinado credo. Contudo as religiões não podem renunciar à sua responsabilidade pela vida, pelo mundo — que perdura, se aprimora e é convidada a reler-se no curso da história.
Vários autores e líderes acreditam que as religiões podem ser parceiras valiosas na promoção de uma ética ecológica, de nível triplo: pessoal, comunitária e global.

5. Dialogar em conjunto sobre questões ecológicas
Edgar Morin preconiza a tolerância proativa, cultural, consciente. Afirma que educar para tal é missão de toda pessoa humana e de toda instituição que se crê legítima. O mesmo lemos em L. Boff, M. Barros, M. Amaladoss, R. Panikkar, F. Teixeira,
Dalai Lama, João Paulo II e outros líderes. As religiões formam um cenário auspicioso para o diálogo entre ecologia da natureza e ecologia do ser humano: seu patrimônio místico, seus valores, sua força de convocação, com núcleos distribuídos nas cidades, países e continentes, possibilitam avançar em tal sentido. Aos poucos, vemos surgir fóruns, ONGs, cátedras, institutos e outros organismos, locais e internacionais, em que a ecologia é assunto da pauta interreligiosa.

6. Atuar em conjunto em causas ecológicas
Agir é o desdobramento consequente do diálogo proposto acima. Mas há também casos emergenciais, em que o agir antecede o diálogo (situações críticas, estratégias humanitárias, encontros espontâneos, ações solidárias em caso de calamidades, guerras ou exclusão). Muitos dos autores citados acima alertam para a possibilidade (aliás, feliz) de as religiões atuarem mais conjuntamente em benefício da justiça, da paz e da ecologia.

7. Reencantar a natureza
Re-encantar a natureza não significa simplesmente remitologizar o mundo. Isso seria atraente do ponto de vista psicológico-afetivo, mas poderia resvalar numa postura ingênua e pouco incidente diante dos fatores políticos, econômicos, técnicos e gerenciais que tocam à ecologia. O “re-encantamento” da natureza é proposto, não com base numa leitura anacrônica das mitologias, mas com base nos conteúdos e valores milenares delas — arquetípicos, centrais e duradouros —, capazes de educar comportamentos sustentáveis. Em termos simples, trata-se de fazer uma leitura oportuna das mitologias, símbolos e ritos referentes à condição humana na Terra, otimizando seu potencial hermenêutico (leitura do valor) e pedagógico (educador de atitudes).
Alguns autores têm oferecido elementos significativos para tal. L. Boff se concentra na sacralidade da vida — fonte de um re-encantamento conexional, cultural e ético da natureza. Outros, como Orlando Figueiredo, teórico português, propõem o paradigma de Gaia: a Terra, segundo ele, é organismo vivo, auto-organizante, que tem sido ferido, entristecido, desrespeitado, com efeitos arriscados à existência humana. Segundo esse autor, conceber a Terra como Gaia ajudaria a superar o dualismo funcionalista pessoa/natureza de estilo sujeito/objeto para tratar o planeta como “entidade” que hospeda, nutre e dialoga com a humanidade.
Outros propõem a via da compaixão (Dalai Lama); da valorização das tradições ancestrais, ligadas à identidade das culturas (Reginaldo Prandi); ou ainda, o reencantamento através da dialogicidade profunda entre sujeito e natureza (Thomas Merton e animadores do DIM – Diálogo Interreligioso Monástico). Cremos que, em perspectiva cristã, contribuem para tal a obra de Hildegard de Bingen e Francisco de Assis, entre outros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário