domingo, 9 de agosto de 2009

Pobreza e meio ambiente

Há alguns dias, entrevistei Nereide Mazzucchelli, consultora em desenvolvimento local e meio ambiente, que levantou uma ideia muito interessante: será que não deveríamos ter uma “licença social” para grandes projetos de exploração de recursos naturais, assim como já temos a licença ambiental?
Grande parte dos impactos polêmicos que saem nos jornais e atrasam obras e geram reações judiciais que podem durar anos não são ambientais, mas sociais.
No caso das hidrelétricas do rio Madeira, o problema que ficou mais famoso foi o dos peixes migratórios, já que o presidente reclamava que “jogaram o bagre no colo dele”. Mas um empreendimento desse tamanho tem de lidar com os efeitos sobre as terras indígenas, as formas de realocar as populações atingidas e, acima de tudo, o problema das migrações em massa para onde os empregos estão sendo gerados.
Para isso, diz Nereide, não há roteiros e procedimentos pré-estabelecidos. Não tem órgão licenciador, enquanto o Ibama tem de tratar de questões alheias ao seu expertise. E as questões sociais seguem a reboque das ambientais.
Para mim, a cada vez que dizemos que o meio ambiente é um nó no Brasil, estamos fazendo uma presunção baseada no licenciamento ambiental, que é onde se dão os embates. Mas a pecha ambiental encobre uma boa parte da história.
Todos (órgão ambientais, empreendedores, gestores públicos) ainda têm muita dificuldade de lidar com as implicações sociais dos rumos do progresso. Ou daquilo que se entende por progresso. Mesmo com tantos pesquisadores há décadas apresentando estudos que comprovam sempre o mesmo padrão na Amazônia. Numa região em que quase a metade da população vive abaixo da linha da pobreza, sem alternativas de renda, uma mega obra sempre atrai migração descontrolada.
É o mesmo para hidrelétricas, para mineração, para estradas. Sigo vendo prefeitos e secretários extasiados com a possibilidade de um empreendimento gigante trazer desenvolvimento para locais empobrecidos, sem nunca perceberem que, se as localidades crescerem demais sem planejamento, eles podem ficar ainda mais pobres do que estavam de partida.
Muita gente se apavora com a possibilidade de mais burocracia. Mas me alegra que a ideia de “licença social” pelo menos insista em levantar questões esquecidas.

Fonte: Carolina Derivi- Eco Balaio

6 comentários:

  1. Regina Reinart (ITESP)18 de agosto de 2009 às 21:37

    O texto é forte, mas a imagem é forte demais. É símbolo da realidade atual e futuro, é chocante e me deixa boquiaberta. Nestes dias eu assisti o filma "Quem quer ser um milionário". A imagem aqui me fez lembrar deste filme que tem uma cena forte também. O menino pulando dentro de um esgoto. São estas imagens que nos levam a refletir cada vez mais sobre o meio ambiente e a consequência do descuidado humano.

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  2. Em relação à idéia de que um empreendimento gigante possa trazer desenvolvimento para locais empobrecidos, penso no caso da área Norte de Belo Horizonte. A periferia Norte de Belo Horizonte avança além fronteira do município, levando às cidades mais próximas a realidade de segregação e carência que essa área representa.
    Grandes projetos são direcionados para região Norte da Metrópole, afetando diretamente à vida da população que ali reside. Neste rol de novos e grandes projetos temos o Centro Administrativo de Minas Gerais (CAMG), o Contorno Viário Norte, e a Linha Verde.
    Essas “investidas” do Estado na região norte prometem levar até essa área o desenvolvimento urbano (infra-estrutura, acesso, serviços, indústrias) que até então é escasso ali. Porém, o que se percebe é um grande temor com as conseqüências para a população do entorno das obras. Há dúvidas diante da vinda dos novos empreendimentos. Com a valorização imobiliária que tais investimentos poderão causar na área, onde a população mais pobre vai morar? Será expulsa para regiões mais periféricas, invadindo terras, e até áreas de proteção ambiental sem qualquer serviço urbano que garanta mínima condição de moradia?
    Necessário é pormos fim à já combatida e denunciada “teoria do bolo”, pela qual há a crença de que a justiça social e a melhoria da qualidade de vida de todos moradores da cidade se dará a partir de crescimento econômico geral. Para uma situação de crescimento econômico fazer da cidade um local de reflexo positivo de melhorias, este tem que vir acompanhado de intervenções e políticas públicas locais que atinjam diretamente as áreas de pobreza e segregação. Soluções automáticas e indiretas não funcionam frente à realidade urbana atual.

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  3. nossa fiquei chocada!! enquanto a alta classe se esbalda comendo e transando essa gente passa por essas ai......

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    1. meu cara nao e bem isso que acontece nao...

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    2. as pessoas tem que cuidar muito o que falam para nao acabar falando besteiras..

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  4. o pior que e muito triste isso que acontece com essas pessoas da classe mais baixa sem nenhuma opçao eu lamento por isso...

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