sábado, 31 de dezembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Francisco no 3º Encontro Mundial dos Mov. Sociais (4)
Tema: os riscos dos movimentos sociais na política
Quero destacar os riscos que giram em torno da relação entre
os movimentos populares e a política: o risco de ser absorvido pelo sistema e o
risco de se deixar corromper.
Primeiro, não ser absorvido, porque alguns falam de sua
cooperativa, sua horta agroecológica, dos programas contra a fome, do
microempreendimento, do desenho dos planos assistenciais… até aí está bem.
Enquanto se mantenham no âmbito das “políticas sociais”, enquanto não
questionem a política econômica ou a Política com maiúscula, são tolerados.
Essa ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres
mas nunca com os pobres, nunca sendo um direito dos pobres e muito menos
inserta num projeto que reunifique os povos às vezes me parece uma espécie de
trator discursivo, uma maquiagem para conter a falência do sistema. Quando
vocês, desde a sua organização arraigada com as comunidades, desde a realidade
cotidiana, do bairro, do trabalho comunitário, das relações pessoa a pessoa, se
atrevem a questionar as “macrorrelações”, quando chiam, quando gritam, quando
pretendem mostrar ao poder um planteamento mais integral, quando fazem isso já
não são mais tolerados, por colocarem em risco o sistema, se metendo no terreno
das grandes decisões – um privilégio que alguns pretendem manter nas mãos de
pequenas castas. Assim, a democracia se atrofia, se torna um nominalismo, uma
formalidade, perde representatividade, vai se desencarnando, porque deixa de
fora o povo, em sua luta cotidiana pela dignidade, pela construção do seu
destino.
Vocês, as organizações dos excluídos e tantas organizações
de outros setores da sociedade, foram convocados a revitalizar, a refundar as
democracias que passam por uma verdadeira crise. Não caiam na tentação do
sistema que os reduz a atores secundários, ou pior ainda, a meros
administradores da miséria existente. Nestes tempos de paralisia, de
desorientação e de propostas destrutivas, a participação dos povos como
protagonistas do seu destino, buscando o bem comum, e pode se impor, com a
ajuda de Deus, contra os falsos profetas que exploram o medo e a desesperança,
que vendem fórmulas mágicas de ódio e crueldade, ou de um bem-estar egoísta e
uma segurança ilusória.
Sabemos que “enquanto não se resolvam radicalmente os
problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da
especulação financeira e atacando as causas estruturais da iniquidade, não se
resolverão os problemas do mundo. A iniquidade é a raiz dos males sociais” (exortação apostólica pós-sinodal Evangelii Gaudium).
Por isso, eu disse e repito: “o futuro da humanidade não está unicamente nas
mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está
fundamentalmente nas mãos dos povos, em sua capacidade de se organizar, e
também nas mãos que regam com humildade e convicção este processo de mudanças” (Discurso no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares). A Igreja também pode e deve de
pronunciar, sem pretender ter o monopólio da verdade, e atuar especialmente com
respeito às “situações onde se tocam as chagas e o sofrimento dramático, e nas
quais estão implicados os valores, a ética, as ciências sociais e a fé” (discurso na Cúpula de Juízes e Magistrados contra o Tráfico de Pessoas e o
Crime Organizado, no Vaticano, 3 junho 2016).
O segundo risco que eu dizia é o de não se deixar corromper.
Assim como a política não é um assunto exclusivo dos “políticos”, a corrupção
não é um vício exclusivo da política. Há corrupção na política, há corrupção
nas empresas, há corrupção nos meios de comunicação, há corrupção nas igrejas e
também há corrupção nas organizações sociais e nos movimentos populares. É
justo dizer que há uma corrupção naturalizada em alguns âmbitos da vida
econômica, em particular à atividade financeira, e que tem menos imprensa que a
corrupção diretamente ligada ao âmbito político e social. É justo dizer que os
casos de corrupção muitas vezes são manipulados com más intenções. Mas também é
importante esclarecer que aqueles que optaram por uma vida de serviço têm uma
obrigação adicional à da honestidade, com a que qualquer pessoa deve atuar na
vida. A exigência é maior: é preciso viver a vocação de servir com um forte
sentido de austeridade e humildade. Isso vale para os políticos, mas também
vale para os dirigentes sociais e para nós, os pastores.
Qualquer pessoa que tenha demasiado apego pelas coisas
materiais ou pelo espelho, qualquer pessoa que gosta tanto do dinheiro, dos
banquetes exuberantes, das mansões luxuosas, dos trajes refinados, dos carros
de último modelo, eu aconselharia que preste atenção no que está acontecendo em
seu coração, e reze para que Deus o libere destas ataduras. Contudo,
parafraseando o ex-presidente latino-americano que está aqui presente (Pepe
Mujica), aquele que tem obsessão por essas coisas, por favor, não se meta na
política, não se meta numa organização social ou num movimento popular, porque
causará um enorme dano a si mesmo e ao próximo, e manchará a nobre causa que
diz defender.
Diante da tentação da corrupção, não há melhor antídoto que
a austeridade, e praticar a austeridade é, antes de tudo, predicar com o
exemplo. Peço a vocês que não subestimem o valor do exemplo, que tem mais força
que mil palavras, que mil cartazes, que mil likes, que mil retweets, que mil
vídeos de youtube. O exemplo de uma vida austera a serviço do próximo é a
melhor forma de promover o bem comum e o projeto-ponte das “três Ts”. Peço aos
dirigentes que não se cansem de praticar a austeridade, e peço a todos que
exijam dos dirigentes essa austeridade, a qual – por outra parte – os fará
muito felizes.
Queridas irmãs e queridos irmãos, a corrupção, a soberba, o
exibicionismo dos dirigentes aumenta a descrença coletiva, a sensação de
desamparo e retroalimenta o mecanismo do medo que sustenta este sistema iníquo.
Para finalizar, queria pedir a vocês que sigam enfrentando
o medo com uma vida de serviço, solidariedade e humildade em favor dos povos e,
em especial dos que mais sofrem. Vocês vão se equivocar muitas vezes, pois
todos nos equivocamos, mas se perseveramos neste caminho, mais cedo ou mais
tarde nós vamos ver os frutos. E, insisto, o maior antídoto contra o terror é o
amor. O amor cura tudo. Alguns sabem que depois do Sínodo da família eu escrevi
Amoris Laetitia, um documento (publicado em abril deste ano) sobre o amor na
família de cada um, mas também nessa outra família que é o bairro, a
comunidade, o povo, a humanidade. Um de vocês me pediu que distribuísse um
caderninho que contém um fragmento do capítulo quarto desse documento. Creio
que vai ser entregue na saída. Vai então com a minha bênção. Ali estão alguns
“conselhos úteis” para praticar o mais importante dos mandamentos de Jesus.
Em Amoris Laetitia eu cito um falecido dirigente
afro-americano, Martin Luther King, que insistia em optar pelo amor fraternal
mesmo estando em meio às piores perseguições e humilhações. Quero recordá-lo
hoje com vocês: “quando nos elevamos ao nível do amor, de sua grande beleza e
poder, buscamos derrotar os sistemas malignos. As pessoas aprisionadas por esse
sistema são pessoas que amamos, e por isso pretendemos derrotar esse sistema
[…] A regra do ódio por ódio só intensifica a existência do ódio y do mal no
universo. Se eu te bato e você me bate, e eu te devolvo o golpe e você me
devolve outro, e assim sucessivamente, é evidente que se chega até o infinito.
Nunca terminará, nem para nós, nem para ninguém. Em algum lugar, alguém deve
ter um pouco mais de sentido, e essa pessoa é a pessoa forte. A pessoa forte é
aquela que pode romper a cadeia do ódio, a cadeia do mal”. Isso disse Martin
Luther King, em 1957.
Agradeço novamente pela presença de vocês. Agradeço pelo seu
trabalho. Quero pedir por vocês ao nosso Pai, que os acompanhe e os abençoe,
que os colme com seu amor e os defenda no caminho, dando a vocês, em quantidade
abundante, essa força que nos mantêm de pé, que nos dá a coragem necessária
para romper as correntes do ódio: essa força que se chama esperança.
Peço a vocês, por favor, que rezem por mim. E aos que não
podem rezar, já sabem, basta um pensamento positivo, dedicar seus bons
sentimentos. Obrigado. (5 nov 2016)
Francisco no 3º Encontro Mundial dos Mov. Sociais (3)
Parte 3:
O amor e as pontes
Num dia como hoje, um sábado, Jesus fez duas coisas que,
segundo nos diz o Evangelho, precipitaram a conspiração para matá-lo. Ele
passava com seus discípulos por um campo. Os discípulos tinham fome e comeram
as espigas. Nada se diz sobre o “dono” daquele campo… subjazia o destino
universal dos bens. A verdade é que, diante da fome, Jesus priorizou a
dignidade dos filhos de Deus sobre uma interpretação formalista, acomodatícia e
interessada da norma. Quando os doutores da lei se queixaram com indignação
hipócrita, Jesus lhes recordou que Deus quer amor e não sacrifícios, e explicou
que o sábado está feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado
(Marcos 2, 27). Ele enfrentou o pensamento hipócrita com a inteligência humilde
do coração, que prioriza sempre o ser humano e rejeita determinadas lógicas que
obstruem sua liberdade de viver, amar e servir ao próximo.
Depois, nesse mesmo dia, Jesus fez algo “pior”, algo que
irritou ainda mais os hipócritas e soberbos que o estavam vigilando, que
buscavam alguma desculpa para capturá-lo. Ele curou a mão atrofiada de um
homem. A mão, esse signo tão forte do trabalho. Jesus devolveu a esse homem a
capacidade de trabalhar, e com isso lhe devolveu a dignidade. Quantas mãos atrofiadas,
quantas pessoas privadas da dignidade do trabalho. Porque os hipócritas, para
defender sistemas injustos, se opõem a que elas sejam curadas. Às vezes penso
que quando vocês, os pobres organizados, inventam seus próprios trabalhos,
criando uma cooperativa, recuperando uma fábrica em bancarrota, reciclando os
dejetos da sociedade de consumo, enfrentando as inclemências do tempo para
vender numa praça, pedindo uma parcela de terra para cultivar e alimentar os
famintos, estão imitando Jesus, porque buscam curar, mesmo que seja um
pouquinho, mesmo que precariamente, essa atrofia do sistema socioeconômico
imperante que é o desemprego. Não me estranha que às vezes vocês também sejam
vigiados e perseguidos. Tampouco me estranha que os soberbos não liguem para o
que vocês dizem.
Jesus, naquele sábado, arriscou sua a vida ao sanar essa
mão, já que os fariseus e os herodianos, dois grupos em conflito, temiam o povo
e também o Império Romano, fizeram seus cálculos e se confabularam para
matá-lo. Sei que muitos de vocês arriscam suas vidas. Sei que alguns não estão
hoje aqui porque arriscaram suas vidas… mas não há maior amor do que dar a vida
em nome do que acredita. Isso foi o que Jesus nos ensinou.
As “três Ts” (terra, teto e trabalho), esse grito de vocês
que eu faço meu, tem algo dessa inteligência humilde, que é, ao mesmo tempo,
forte e sanadora. Um projeto-ponte dos povos contra o projeto-muro do dinheiro.
Um projeto que visa o desenvolvimento humano integral. Alguns sabem que nosso
amigo, o cardeal (Peter) Turkson preside agora o Dicastério que leva esse nome:
Desenvolvimento Humano Integral. O contrário do desenvolvimento seria atrofia,
a paralisia. Temos que colaborar para que o mundo seja curado de sua atrofia
moral. Este sistema atrofiado pode oferecer certos implantes cosméticos que não
contribuem para o verdadeiro desenvolvimento: crescimento econômico, avanços
técnicos, maior “eficiência” para produzir coisas que se compram, se usam e se
jogam fora, empurrando todos a uma vertiginosa dinâmica do descarte… mas ele
não permite o desenvolvimento do ser humano em sua integralidade, o
desenvolvimento que não se reduz ao consumo, que não se reduz ao bem-estar de
poucos, que inclui a todos os povos e pessoas na plenitude de sua dignidade,
desfrutando fraternalmente da maravilha da criação. Esse é o desenvolvimento
que necessitamos: humano, integral e respeitoso da criação.
Bancarrota e resgate
Queridos irmãos, quero compartilhar com vocês algumas
reflexões sobre outros dois temas que, junto com as “três Ts” e a ecologia
integral, foram elementos primordiais nos debates sobre os últimos dias e são
também importantes neste tempo histórico.
Sei que dedicaram uma jornada ao drama dos imigrantes,
refugiados e desterrados. O que fazer diante desta tragédia? No Dicastério do
cardeal Turkson há um departamento para a atenção destas situações. Decidi que,
ao menos por um tempo, esse departamento vai depender diretamente do Pontífice,
porque aqui há uma situação infamante, que só posso descrever com uma palavra,
que me surgiu espontaneamente em Lampedusa: vergonha.
Ali, como também em Lesbos, pude sentir de perto o
sofrimento de tantas famílias que foram expulsas de suas terras por razões
econômicas ou por violências de todo tipo, multidões desterradas como
consequência de um sistema socioeconômico injusto, e de conflitos bélicos que
não buscaram, que não foram criados por aqueles que hoje padecem o doloroso
desarraigamento de seu solo pátrio, mas sim por muitos daqueles que agora se
negam a recebê-los.
Faço minha as palavras de meu irmão, o arcebispo Jerônimo II
de Atenas: “quem vê os olhos das crianças que encontramos nos campos de
refugiados é capaz de reconhecer de imediato, em sua totalidade, a `bancarrota´
da humanidade” – discurso no campo de refugiados de Moria, em Lesbos, no dia 16
de abril de 2016. O que acontece no mundo de hoje? Por que, quando se produz a
bancarrota de um banco, aparecem imediatamente montantes escandalosos de
recursos para resgatá-los, mas quando se produz esta bancarrota da humanidade
quase não vemos a ajuda para salvar a esses irmãos que sofrem tanto? E assim o
Mediterrâneo se transforma num cemitério, e não só o Mediterrâneo… tantos
cemitérios ao lado dos muros, muros manchados de sangue inocente.
O medo endurece o coração e se transforma em crueldade cega,
que se nega a ver o sangue, a dor, o rosto do outro. Como disse o meu irmão, o
patriarca Bartolomeu I de Constantinopla: “quem tem medo de vocês não os olhos
nos olhos. Quem tem medo de vocês não viu os seus rostos. Quem tem medo não vê
os vossos filhos, esquece que a dignidade e a liberdade transcendem o medo e a
divisão. Esquecem que a migração não é um problema do Oriente Médio e do norte
da África, da Europa e da Grécia. É um problema do mundo” discurso no campo de
refugiados de Moria, em Lesbos, no dia 16 de abril de 2016.
É, de verdade, um problema do mundo. Ninguém deveria se
verse obrigado a fugir de sua pátria. Mas o mal é duplo quando, além dessas
circunstâncias terríveis, o imigrante se vê lançado às garras dos traficantes
de pessoas para cruzar as fronteiras, e é triplo se, ao chegar na terra onde
acreditou que encontraria um futuro melhor, precisa enfrentar o desprezo e a
exploração, ou até mesmo a escravidão. Isso se pode ver em muitos lugares, em
centenas de cidades.
Peço a vocês que façam tudo o que possam e nunca se esqueçam
que Jesus, Maria e José experimentaram também a condição dramática dos
refugiados. Peço a vocês que exercitem essa solidariedade tão especial que
existe entre os que já sofreram. Vocês sabem recuperar fábricas da bancarrota,
reciclar o que outros jogam fora, criar postos de trabalho, lavrar a terra,
construir moradias, integrar bairros segregados e reclamar sem descanso como
essa viúva do Evangelho que pede justiça insistentemente (Lucas 18, 1-8).
Talvez, com o seu exemplo e sua insistência, alguns Estados e organismos
internacionais abram os olhos e adotem as medidas adequadas para acolher e
integrar plenamente a todos os que, por uma ou outra circunstância, buscam
refúgio longe do seu lar. E também para enfrentar as causas profundas pelas
quais milhares de homens, mulheres e crianças são expulsas a cada dia de sua
terra natal.
Dar o exemplo e reclamar justiça são formas de fazer
política, e isso me leva ao segundo eixo que debateram durante o Encontro: a
relação entre o povo e a democracia. Uma relação que deveria ser natural e
fluída, mas que corre o risco de se desfazer, e de se tornar irreconhecível. A
brecha entre os povos e nossas formas atuais de democracia aumenta cada vez
mais de tamanho, como consequência do enorme poder dos grupos econômicos e
midiáticos que parecem dominá-las. Eu sei que os movimentos populares não são
partidos políticos, e deixe-me dizer que, em grande medida, nisso radica a sua
riqueza, porque expressam uma forma distinta, dinâmica e vital de participação
social na vida pública. Porém, não tenham medo de participar das grandes
discussões, da Política com maiúscula, e cito novamente o Papa Paulo VI: “a
política oferece um caminho sério e difícil – embora não o único – para cumprir
o importante dever dos cristãos e das cristãs: o de servir aos demais” (carta
apostólica Octogesima Adveniens, de 14 de maio de 1971).
Francisco no 3º Encontro Mundial dos Mov. Sociais (2)
(Parte 2: Os muros e o medo)
A germinação pela justiça, que é lenta, que tem seus tempos
como toda gestação, é ameaçada pela velocidade de um mecanismo destrutivo que
opera no sentido contrário. Há forças poderosas que podem neutralizar este
processo de maturação de uma mudança que seja capaz de substituir a primazia do
dinheiro e colocar o ser humano novamente no centro das atenções. Esse “fio
invisível” sobre o qual nós falamos na Bolívia, essa estrutura injusta que
enlaça todas as exclusões que vocês sofrem, pode se endurecer e se transformar
numa chibata, um látego existencial que, como no Egito do Antigo Testamento,
escraviza, rouba a liberdade, açoita sem misericórdia a uns e ameaça
constantemente a outros, para arriar a todos como gado na direção onde o
dinheiro divinizado quer que sigamos.
Quem governa então? O dinheiro. Como governa? Com o chicote
do medo, da iniquidade, da violência econômica, social, cultural e militar que
engendra mais e mais violência, num espiral descendente que parece não acabar
jamais. Quanta dor, quanto medo! Existe, como eu disse há pouco, um terrorismo
de base que emana do controle global do dinheiro sobre a terra, e que atenta
contra a humanidade inteira. Esse terrorismo básico alimenta os terrorismos
derivados, como o narco terrorismo, o terrorismo de Estado e o que erroneamente
alguns chamam de terrorismo étnico ou religioso. Nenhum povo, nenhuma religião
é terrorista. É verdade que há pequenos grupos fundamentalistas em todos os
lados, mas o terrorismo começa “quando se rejeita a maravilha da criação, o
homem e a mulher, e se dá prioridade ao dinheiro”. Esse sistema é terrorista.
Há quase cem anos, Pio XI previa o crescimento de uma
ditadura econômica mundial que ele chamou de “imperialismo internacional do
dinheiro” – trecho da carta encíclica Quadragesimo Anno, de 15 de maio de 1931.
O recinto em que estamos agora se chama Salão Paolo VI, e foi o Papa Paulo VI
quem denunciou, há quase cinquenta anos, a “nova forma abusiva de ditadura
econômica no campo social, cultural e inclusive político” – carta apostólica Octogesima
Adveniens, de 14 de maio de 1971. São palavras duras, porém justas, escritas
pelos meus antecessores, que antecipavam o futuro. A Igreja e os profetas
disseram, há milênios, que tanto escandaliza ver um Papa repetir, nestes tempos
em que tudo o que se diz alcança expressões inéditas. Toda a doutrina social da
Igreja e o magistério de meus antecessores se rebelam contra o ídolo dinheiro
que reina no lugar de servir, tiraniza e aterroriza a humanidade.
Nenhuma tirania se sustenta sem explorar nossos medos. Logo,
toda tirania é terrorista. E quando esse terror, que se semeou nas periferias
com massacres, saques, opressão e injustiça, e que explode nos centros com
distintas formas de violência, inclusive com atentados odiosos e covardes, os
cidadãos que ainda conservam alguns direitos são tentados com a falsa segurança
dos muros físicos ou sociais. Muros que aprisionam a uns e exilam a outros.
Cidadãos amuralhados, aterrorizados, de um lado, excluídos, desterrados, mais
aterrorizados ainda do outro. Essa é a vida que o nosso Pai quer para os seus
filhos?
Esse medo é alimentado, manipulado… Porque o medo, além de
ser um bom negócio para os mercadores de armas e de morte, nos debilita, nos
desequilibra, destrói nossas defesas psicológicas e espirituais, nos anestesia
diante do sofrimento alheio e, ao final, nos torna cruéis. Quando escutamos que
se festeja a morte de um jovem que talvez errou em seu caminho, quando vemos
que se prefere a guerra ao invés da paz, quando vemos que se generaliza a
xenofobia, quando constatamos que as propostas intolerantes ganham terreno,
vemos que por trás dessa crueldade que parece que vai se massificando está o
frio alento do medo. Peço a vocês que rezemos por todos os que têm medo,
rezemos para que Deus lhes dê a coragem e que, neste ano da misericórdia
possamos abrandar nossos corações. A misericórdia não é fácil, não é fácil…
requer coragem. Por isso Jesus nos diz: “não tenham medo” (Mateus 14, 27), pois
a misericórdia é o melhor antídoto contra o medo. É muito melhor que os
antidepressivos e os ansiolíticos. Muito mais eficaz que os muros, as grades,
os alarmes e as armas. E é grátis: é um dom de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, todos os muros caem. Não nos
deixemos enganar. Como disseram vocês mesmos: “sigamos trabalhando para
construir pontes entre os povos, pontes que nos permitam derrubar os muros da
exclusão e da exploração” (documento conclusivo do II Encontro Mundial dos
Movimentos Populares, de 11 de julho de 2015, em Santa Cruz de la Sierra,
Bolívia). Enfrentemos o terror com o amor.
Papa Francisco no 3° Encontro Mundial dos Movimentos Populares (Parte 1)
Irmãs e irmãos. Neste nosso terceiro Encontro, expressamos a
mesma sede, a sede de justiça, o mesmo clamor: terra, teto e trabalho para
todos. Agradeço aos delegados, que chegaram das periferias urbanas e rurais,
aos representantes do mundo do trabalho que vieram dos cinco continentes, de
mais de 60 países, para debater uma vez mais as propostas sobre como defender
estes direitos que nos convocam.
Agradeço aos bispos que os acompanham, e também aos milhares
de italianos e europeus que se uniram hoje, no encerramento deste Encontro.
Agradeço aos observadores e aos jovens comprometidos com a vida pública que
vieram com humildade, para escutar e aprender. Quanta esperança tenho nos
jovens! Agradeço também a você, senhor cardeal (Peter) Turkson, pelo trabalho
feito no Dicastério, e também gostaria de mencionar a importante colaboração do
ex-presidente uruguaio José Mujica, que está presente.
Em nosso último encontro, na Bolívia, com maioria de
latino-americanos, falamos sobre a necessidade de uma mudança para que a vida
seja digna, uma mudança nas estruturas, e também falamos sobre como vocês, os
movimentos populares, são os semeadores dessa mudança, promotores de um
processo no qual confluem milhões de ações grandes e pequenas encadeadas
criativamente, como numa poesia. Por isso, prefiro chamá-los de “poetas
sociais”. Também enumeramos algumas tarefas imprescindíveis para marchar no
rumo de uma alternativa humana à globalização da indiferença: 1 – fazer com que
a economia esteja a serviço das pessoas, 2 – construir a paz e a justiça, 3 –
defender a Mãe Terra.
Naquele dia, através das vozes de uma catadora e de um
camponês, foram lidas as conclusões, os dez pontos de Santa Cruz de la Sierra,
onde a palavra mudança estava cheia de grande conteúdo, enlaçada a elementos
fundamentais que vocês reivindicam: trabalho digno para os excluídos do mercado
de trabalho, terra para os camponeses e povos originários, moradia para as
famílias sem teto, integração urbana para os bairros populares, erradicação da
discriminação, da violência contra a mulher e das novas formas de escravidão, o
fim de todas as guerras, do crime organizado e da repressão, a defesa da
liberdade de expressão e comunicação democráticas, a promoção da ciência e da
tecnologia a serviço dos povos.
Escutamos também como se comprometeram a abraçar um projeto
de vida que rechaça o consumismo e recupera a solidariedade, o amor entre nós e
o respeito à natureza como valores essenciais. É a felicidade de “viver bem” o
que vocês demandam, a “vida boa”, e não esse ideal egoísta que enganosamente
inverte as palavras e propõe a “boa vida”.
Os que estão aqui hoje, de diferentes origens e possuidores
de crenças e ideias diversas, talvez não estarão de acordo em tudo o que foi
conversado, pois nossos pensamentos certamente não concordaram em muitas
coisas, mas estamos de acordo nos objetivos que buscamos. Soube que os
encontros e debates realizados em diferentes países multiplicaram este evento,
para que estes debates se reproduzam sob a luz da realidade de cada comunidade.
Isso é muito importante, porque as soluções reais às
problemáticas atuais não vão sair de uma, três ou mil conferências: devem ser
fruto de um discernimento coletivo que amadureça nos territórios, junto aos
irmãos. Um discernimento que se converte em ação transformadora, “segundo os
lugares, os tempos e as pessoas”, como diria São Inácio.
Senão, corremos o risco das abstrações, “dos nominalismos declaratórios
(slogans) que são belas frases, mas que não servem para sustentar a vida de
nossas comunidades” – menção à Carta ao Presidente da Pontifícia Comissão Para
a América Latina, de 19 de março de 2016.
O colonialismo ideológico globalizante procura impor
receitas supraculturais, que não respeitam a identidade dos povos. Vocês vão
por outro caminho, que é, ao mesmo tempo, local e universal. Um caminho que me
faz recordar como Jesus pediu para organizar a multidão em grupos de cinquenta
para dividir o pão.
Recentemente, pudemos ver o vídeo apresentado na conclusão
deste terceiro Encontro. Vemos os rostos de vocês nos debates sobre o que fazer
“diante da iniquidade que engendra violência”. Tantas propostas, tanta
criatividade, tanta esperança na voz de vocês, que talvez sejam os que mais
motivos têm para se queixar, deixar que o conflito nos leve ao derrotismo, cair
na tentação do negativo.
Entretanto, vocês olham para frente, pensam, discutem,
propõem e atuam. Eu os felicito, os acompanho, e peço que continuem abrindo
caminhos e lutando. Isso me dá força, nos dá força. Creio que este nosso
diálogo, que agrega o esforço de tantos milhões que trabalham cotidianamente
pela justiça no mundo todo, vai consolidando suas raízes.
(Em 5 novembro 2016)
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Um ano do crime ambiental de Mariana
Partilho com você a
nota emitida pela articulação internacional de pessoas e comunidades atingidas
pela Vale, por ocasião de 1 no do crime ambiental de Mariana.
Em 05 de novembro de 2015 a vida de milhares de pessoas e
comunidades foi profundamente violentada. A lama de minério da empresa Samarco
(joint venture da Vale S.A. e BHP Billiton) destruiu casas, memórias, sonhos, modos
de vida, relações sociais, causando o maior desastre socioambiental do Brasil.
A lama da cobiça do lucro desenfreado ceifou a vida de 19 pessoas e modificou
para sempre a realidade de milhares de pessoas que vivem de Mariana (MG) a
Regência (ES).
Após um ano do crime da Samarco/Vale/BHP a situação
permanece crítica. Pouco foi feito para atender os atingidos e atingidas e para
compensar ou mitigar os incalculáveis impactos ambientais ao longo da Bacia do
Rio Doce. A captação e a qualidade da água ainda continuam sendo um problema
para os mais de 35 municípios atingidos. Órgãos públicos não têm sido capazes
de fazer um monitoramento adequado de toda a água e lama em pontos diferentes
da bacia e com regularidade, disponibilizando publicamente laudos efetivos
sobre as condições da água e as possibilidades de contaminação. Deste modo,
comunidades inteiras, pessoas que viviam da pesca e da agricultura perderam seu
modo principal de reprodução econômica e social.
Agricultores familiares, quilombolas e indígenas ainda lutam
para terem seus direitos reconhecidos e garantidos. Na maior parte dos
distritos atingidos da Bacia do Rio Doce, a presença da Samarco é mais forte do
que a de órgãos públicos, como Prefeituras Municipais, Defensoria e Ministério
Públicos. Deste modo, a empresa encontra espaço para dividir comunidades e
fazer valer as suas próprias leis. A própria empresa autora da tragédia é hoje
responsável por definir quem serão as pessoas, atingidos e atingidas, que terão
direito às indenizações.
O acordo assinado entre as empresas Samarco, Vale e BHP, os
estados de Minas Gerais e Espírito Santo e governo federal foi fruto da força
das empresas e do interesse do Estado em acelerar supostas medidas de reparação
e esconder suas responsabilidades.. O Superior Tribunal de Justiça suspendeu
esse acordo, mas a Samarco permanece tendo poder de definição das medidas a
serem implementadas e quais pessoas serão contempladas por elas. (...)
Para, nós, da Articulação Internacional dos Atingidos e
Atingidas pela Vale é fundamental que:
(1) a Justiça Federal
receba prontamente a denúncia apresentada pelo MPF e promova a ação penal de
forma célere para que ao final sejam as pessoas físicas e jurídicas acusadas
pelo MPF exemplarmente condenadas pelos crimes cometidos;
(2) a definição sobre
quem foi atingido pelo crime e sobre a intensidade dos danos a serem reparados
não fique a cargo das empresas tidas como responsáveis pela tragédia;
(3) a legislação nacional
seja aprimorada a fim de que sejam reconhecidos os direitos dos atingidos e
atingidas por projetos de mineração e barragens;
(4) o Estado
brasileiro promova um novo modelo extrativo, com o protagonismo de comunidades
e trabalhadores na definição dos ritmos, taxas e locais de mineração;
(5) seja reconhecido
e definitivamente interrompido o modus operandi de violações sistemáticas de
direitos comumente aplicado pela Vale e que também está presente no crime da
Samarco/Vale/BHP;
(6) sejam tomadas medidas
para evitar que outras Marianas aconteçam às escondidas ou “gota-a-gota”, nas
diversas regiões do mundo onde a empresa Vale
opera diretamente ou através de suas coligadas ou joint-ventures;
(7) não se permita
que o interesse minerário se sobreponha a interesses verdadeiramente sociais
como a reforma agrária, os direitos ao acesso à terra, à saúde, à moradia
digna, de ir e vir, entre outros.
(8) sejam respeitados
os direitos e aplicadas as normas previstas na Convenção nº169 da OIT,
ratificada pelo Brasil há mais de 10 anos, em especial quanto à consulta para
averiguação sobre o consentimento livre, prévio e informado. Isto para que
populações atingidas por todo e qualquer empreendimento, inclusive minerário,
possam intervir diretamente no projeto, inclusive na sua aprovação. Entendemos
que o mecanismo de audiências públicas previsto na legislação ambiental, por si
só, não se faz suficiente diante da maquiagem democrática plasmada nestas
arenas como estratégia do capital econômico e do Estado para o represamento de
diálogos críticos e combativos pelas populações atingidas;
(9) que o Estado
brasileiro decrete a caducidade de todas as concessões minerárias e revogue
todas as licenças ambientais concedidas à Samarco Mineração S.A. a fim de que
ela jamais volte a operar no território nacional, uma vez já ter demonstrado
não possuir condições mínimas para operar com segurança e tampouco para assumir
a responsabilidade e remediar eficazmente os danos causados pelo trágico evento
de 05 de novembro de 2015.
Articulação
Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale S.A.
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
terça-feira, 4 de outubro de 2016
A extinção massiva dos rios brasileiros
Roberto Malvezzi (Gogó)
O fenômeno da Pororoca, mundialmente conhecido, já não existe mais. Você sabia disso? As águas do rio Araguari, no Amapá, já não têm forças para chegar à foz e sofrer a força reversa das águas, o que gerava as ondas. Construíram barragens em seu leito para gerar energia, que vem para o sul do país, além de pisotear suas margens com manadas de búfalos.
As águas do Araguaia estão cada vez mais escassas. Muitos de seus afluentes, antes perenes, agora também são intermitentes.
O São Francisco agora terá uma vazão de apenas 700 m3/s. Um rio que, segundo o discurso oficial do antigo governo federal, tinha uma vazão “firme” de 1800 m3/s a partir de Sobradinho. E olha que a Transposição sequer começou. Onde Domingos Montagner morreu, na verdade, o que existe é um fiapo de água, em comparação com o que era o Cânion do São Francisco.
O mais emblemático, sem dúvida, é o rio Doce. A tragédia da Samarco não tem precedentes em território nacional, mas está sendo tratada como algo secundário e como se fosse apenas um acidente de percurso.
Se falarmos, então, da qualidade de nossas águas, teremos que lembrar do Tietê e do Pinheiros, a cara, a cor e o cheiro do desenvolvimento de São Paulo.
O que acontece não é fruto apenas de como se trata as calhas principais de nossos rios, mas de todo o desmatamento do território dessas bacias. A destruição do Cerrado – reconhecimento rotineiro nos meios científicos e socioambientais – levará consigo os rios que dependem do Cerrado. Já em 2004 tínhamos a informação que, apenas no Norte de Minas, cerca de 1200 rios menores tinham sido eliminados. Sem o Cerrado, nos dizem os cientistas, não haverá São Francisco, Araguaia e tantas rios que dependem dos aquíferos do Planalto Central. A criação do MATOPIBA – território do agronegócio no Cerrado – levará às profundezas esse modelo predador do bioma.
A curva de decadência de nossos rios coincide exatamente com a expansão das monoculturas, seja de grãos, de gado, ou outra qualquer. É só comparar os gráficos a partir da década de 1970.
Assim, nesse dia de São Francisco, como os profetas dos tempos antigos, que amaldiçoavam o dia que tinham nascido, não nos cansamos de trazer más notícias, ainda que sejam em forma de denúncia (Jeremias 20,14-18).
Toda classe política, todo mundo econômico – exceções de sempre - está a alguns anos-luz distante de enxergar o país por esse ângulo. Então, prosseguimos em linha reta rumo ao abismo.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Conhecer a Laudato Si – Um roteiro para encontros
Afonso Murad
Fonte: capítulo 16 do
livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas, 2016, p.225-235
Seguem algumas sugestões com elementos básicos para
encontros de reflexão, partilha e oração, a partir da Laudato Si. Caso não seja viável realizar todos os encontros, escolha
alguns deles. A ordem também pode ser alterada, conforme a realidade do grupo.
Sugerimos que um “encontro motivacional” seja realizado em
um parque, bosque, área de conservação, ou qualquer outro espaço onde, antes de
refletir, as pessoas exercitem seus sentidos (tocar, cheirar, ver, respirar,
ouvir), percebendo-se como parte do meio ambiente. Ele visa a aproximar-se do
ecossistema com abertura para a admiração e o encanto, deixar falar a língua da
fraternidade e da beleza (LS 11). Tal momento para estimular a sensibilidade e
o encantamento pode estar associado ao primeiro encontro, ou não. Outra
possibilidade consiste em criar um momento especial de celebração no meio do
processo ou após terminar os encontros de reflexão.
(1º) Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas
Finalidade: (a)
Agradecer a Deus pela beleza da criação; (b) Tomar conhecimento das motivações
da encíclica; a quem ela destina; suas grandes linhas, as convicções centrais,
o mapa para percorrê-la (esquema dos capítulos); (c) Compreender porque
Francisco de Assis é modelo do cuidado com a casa comum.
Canto: Cântico das
Criaturas, de São Francisco
Começo de conversa:
Qual a experiência mais forte que você viveu de sentir a beleza da criação?
Textos da Encíclica:
(1) O que é
a Encíclica Laudato Si (LS)
- Faz parte
do Ensino Social da Igreja. A LS foi
escrita “para nos ajudar a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do
desafio que temos pela frente”: cuidar da casa comum, a Terra (LS 15).
- Como
Francisco e seus assessores organizaram a encíclica em seis capítulos (LS 15).
- A Terra é
para nós como a casa onde habitamos
com as outras criaturas, uma irmã com
que partilhamos a existência, uma boa mãe
que nos acolhe nos seus braços (LS 1). Ela clama contra a violência que lhe
provocamos. Esquecemos de que nós mesmos somos parte da Terra (LS 2).
- Francisco
faz um grande apelo: unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento
sustentável e integral (13).
- Eixos que
perpassam toda a encíclica: (LS 16).
(2) São Francisco: exemplo do cuidado pelo que é frágil, por
uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. Aquele que reconhece
o planeta como um livro maravilhoso de Deus, que nos fala de sua bondade e
beleza (LS 10,11,12).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Cantar novamente o Cântico das criaturas. Continuar o louvor espontaneamente,
repetindo um refrão de agradecimento.
Textos complementares
para leitura: artigos de L.Boff (pag. 15-23) e F. Aquino Júnior (pag. 24-39),
no livro: Cuidar da Casa Comum.
Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(2º) O que está acontecendo com a nossa casa
Finalidade: fazer
uma resenha das questões socioambientais que devem causar inquietação nos
cristãos. Despertar a indignação. “Tomar consciência, ousar transformar em
sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a
contribuição que cada um lhe pode dar” (LS 18).
Canto: Oremos pela
Terra (Padre Zezinho – CD “A vida em nossas mãos” – Paulinas. Disponível no
blog: ecologiaefe.blogspot)
Começo de conversa:
Há um problema ambiental que você e sua família sentem “na pele”? Qual? Em sua
opinião, quais são os principais problemas ambientais da sua cidade? E do nosso
país?
Observações:
O capítulo 1 é uma grande síntese das principais questões
socioambientais do mundo. Impossível apresentar todos os aspectos numa única
reunião de grupo. Seria bom escolher alguns temas, começando por aqueles que
atingem mais de perto as pessoas de sua cidade e região. Não necessariamente na
ordem proposta pelo documento. O importante é perceber que as questões
socioambientais estão interligadas. Pode-se partir da grande questão global
(mudanças climáticas), ou de um tema mais próximo, como água e resíduos.
Para grupos com visão profunda e crítica, convém mostrar as
raízes dos problemas: o sistema de produção-consumo-descarte do mercado, que
rompe com os ciclos de matéria e energia do planeta (LS 22); o poder econômico
e financeiro que abandona a ética (LS 56).
Por fim, é bom ressaltar que já existem iniciativas
positivas e formas de enfrentar algumas destas questões (LS 58 e 180). Os
problemas não podem gerar sensação de impotência ou de indiferença.
Estes temas podem ser abordados em forma de painel, no qual
cada pessoa se ocupa de um tema, previamente escolhido, e o apresenta aos
outros. Em outros casos, vale convidar pesquisadores ou membros de movimentos
socioambientais para partilharem suas lutas em defesa do planeta. Ou ainda
recorrer a pequenos vídeos da internet, para provocar a reflexão.
Textos da Encíclica:
Propomos os
seguintes tópicos:
- Poluição e
resíduos (LS 20-21);
- Mudanças
Climáticas e suas consequências (LS 25);
- Água (LS
28);
- Perda da
biodiversidade (LS 32);
- Diminuição
da qualidade de vida nas cidades (LS 44);
-
Desigualdade planetária (LS 48).
- Respostas
positivas à crise do planeta (LS 58 e 180)
Oração final:
Oração pela nossa Terra (Ver: LS 246a)[1]
Textos complementares
para leitura: Artigos de Frei Gilvander Moreira (p.197-217) e Frei Rodrigo
Peret (p.182-196), no livro: Cuidar da
Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si.
Paulinas.
(3º) O Evangelho da Criação
Finalidade:
Superar uma concepção literal e estática da origem da Terra. Ampliar a visão
cristã sobre a criação e a nossa responsabilidade para com ela. Perceber que a
teologia da criação não está somente em Gên 1-2. Ela percorre toda a Bíblia, em
estreita relação com a salvação.
Canto: Escolha um
Salmo de Louvor com a criação.
Começo de conversa:
Levantar com o grupo os textos bíblicos sobre
a nossa relação com a Terra. (A pergunta fará a diferença: não somente a
respeito dos outros seres - água, solo, ar, plantas, pássaros, animais - , mas
sim como eles participam conosco no projeto criador e salvador de Deus).
Textos da Encíclica:
- Narrações
da criação: relação do humano com Deus, o próximo e a terra (LS 66).
- Releitura
de Gn1 e 2: de dominar para cuidar (LS 67).
- Caim e
Abel: a terra clama (LS 70a).
- Noé: tudo
está interligado (LS 70b). Basta um homem bom para haver esperança (LS 71a).
- Salmos e o
louvor pela criação (LS 72).
- De
“natureza” para “criação”: a diferença (LS 76).
- Cada ser é
importante. Tudo é carícia de Deus (LS 84).
- Uma
comunhão universal: respeito sagrado, amoroso e humilde (LS 89).
- O olhar de
Jesus de Nazaré (LS 97-98).
- Cristo
glorificado e a Nova Criação (LS 100).
Conclusões:
“Tudo está
relacionado e os seres humanos caminham juntos como irmãos e irmãs numa
peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das
suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã
lua, ao irmão rio e à mãe terra” (LS 92b).
Essas convicções da nossa fé, a partir da bíblia, provocam
uma conversão ecológica (LS 221).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Cantar outro Salmo de Louvor com a criação. Continuar com uma oração
espontânea.
Texto complementar
para leitura: artigo de Marcelo Barros, p. 103-114, no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura
teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(4º) Ecologia integral
Finalidade:
Compreender que, segundo a Igreja, a ecologia não é somente um estudo sobre o
meio ambiente. A ecologia integral compreende a nossa relação com o meio
ambiente, as questões sociais, a economia justa, a cultura, a maneira de viver
na cidade e as práticas cotidianas.
Canto: Sal da
Terra, de Betto Guedes (Disponível no blog: ecologiaefe.blogspot.com).
Começo de conversa:
o que você entende por ecologia? Como este tema aparece na TV, nas revistas e
na internet?
Observação:
O capítulo IV da LS reflete sobre a Ecologia integral e
seus componentes: ecologia ambiental, econômica e social (LS 138-142), ecologia
cultural (LS 143-146), ecologia da vida cotidiana (LS 147-155). Relaciona a
ecologia com o conhecido princípio do bem
comum e a opção preferencial pelos pobres (LS 156-158). Termina com o apelo
de estender o nosso compromisso para com as futuras gerações (LS 159-162).
Como no capítulo III (que não
trataremos aqui), papa Francisco utiliza aqui vários termos técnicos, que são
familiares aos pesquisadores e aos membros de movimentos socioambientais, mas
desconhecidos pelo católico comum. Por exemplo: modelos de desenvolvimento,
produção e consumo; impacto ambiental, ecossistemas, uso sustentável,
capacidade regenerativa, culturas homogeneizadas, ecologia humana, grandes
projetos extrativistas, paisagem urbana, solidariedade intergeracional. Por que
usar estas palavras? Para permitir um diálogo real com as pessoas que não fazem
parte da Igreja; para ampliar a visão dos cristãos e superar esquemas ingênuos
e insuficientes, a fim de que a Boa Nova do Evangelho seja significativa na
sociedade contemporânea.
A grande parte dos evangelizadores
(leigos/as, religiosas/as, presbíteros e bispos) quando falam em ecologia,
tendem a identificá-la simplesmente com “preservação da natureza”. Mas o
empenho ecológico não consiste somente em manter intacto algo, mas, sobretudo,
em estabelecer processos sustentáveis,
que respeitem os ciclos de matéria e energia no planeta. Além disso, a ecologia
não diz respeito somente à natureza, compreendida numa visão idealizada e fora
de nós. A grande novidade da ecologia contemporânea é a interdependência. Nós,
humanos, estamos em constante relação, entre nós mesmos e com a comunidade de vida do planeta, os
ecossistemas. Fazemos parte da Terra, mas ao mesmo tempo somos diferentes dos
outros seres. Ecologia não é sinônimo de natureza estática, e sim da busca por
um planeta habitável para nós e outros seres. Por fim, com a grande
concentração de pessoas nas cidades, ganha importância a ecologia urbana, que diz respeito à qualidade da existência humana
e de seu meio, especialmente para os mais pobres.
A ecologia integral amplia os
horizontes humanos e busca integrar o que a ciência moderna fragmentou: o ser
humano com todas as suas relações. Por isso, o Papa usa a feliz expressão:
“cuidado da casa comum”. Nesta casa habitamos todos: os seres abióticos (solo,
água, ar, energia do sol), os seres vivos nos mais distintos graus (como
microorganismos, plantas, animais) e os humanos. Oxalá a visão da ecologia
integral penetre nas nossas comunidades e faça parte do nosso horizonte
cristão.
Textos da Encíclica:
Como há muitos aspectos neste capítulo, sugerimos apenas
alguns. Você e sua equipe podem escolher outros, conforme sua realidade local.
(1)
Ecologia da vida cotidiana das cidades:
- Verdadeiro progresso: melhoria global da qualidade de vida
(LS 147).
- Esforços para melhorar o ambiente vizinho. A rede de
comunhão e pertença (LS 148-149).
- Cuidado com os espaços comuns e a intervenção na paisagem
urbana (LS 151).
- Acesso à moradia e um projeto urbano humanizador (LS 152).
- Transporte particular e transporte público (LS 153).
(2)
Ecologia e vida humana
- Nós fazemos parte do ambiente. Buscamos soluções integrais:
ecológicas e sociais (LS 139).
- O bem comum está ligado à promoção social dos mais pobres (LS 158).
- É preciso buscar a qualidade de vida pensando nas novas gerações do
presente e do futuro (LS 159 e 162).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Preces de louvor e súplica.
Textos complementares
para leitura: artigos de Pedro R. Oliveira (p. 90-102) e Manfredo Oliveira
(p.129-145), no livro: Cuidar da Casa
Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
(5º) Espiritualidade ecológica
Finalidade:
Estimular a conversão ecológica, que suscita novas atitudes pessoais e
comunitárias. Descobrir a espiritualidade ecológica e assimilá-la em sua
existência.
Canto: Abençoa
nossa Terra (Padre Zezinho – CD “A vida em nossas mãos” - Paulinas)
Começo de conversa:
Você deve estar fazendo várias descobertas, com a leitura da Laudato Si. Você sentiu algum apelo para
mudar sua forma de rezar e de se relacionar com Deus, a partir dos nossos
encontros? O papa Francisco fala em “conversão ecológica”. O que você pensa que
seja essa “conversão ecológica”?
Textos da Encíclica:
(1) O apelo à conversão ecológica
- A espiritualidade está ligada ao corpo, à natureza e às realidades
deste mundo (LS 216).
- Conversão ecológica: deixar emergir, nas relações com o mundo em que
vivemos, todas as consequências do encontro com Jesus. Sermos guardiães da
criação (LS 217).
(2) Espiritualidade ecológica
- Espiritualidade simultaneamente pessoal e comunitária (LS 218).
- Viver com alegria e simplicidade (LS 222).
- A felicidade com poucas coisas (LS 223).
- Paz interior e equilíbrio de vida (LS 225-226)
(3) Os sacramentos em
perspectiva ecológica
- Sacramentos e visão integradora do mundo (LS 235).
- Eucaristia, ato de amor cósmico (LS 236).
Síntese: (em
duplas, seguido de partilha para todo o grupo) O que você aprendeu no encontro
de hoje, e vai levar para sua vida?
Oração final:
Repetir alguma frase da Encíclica, em forma de ação de graças.
Tarefa para o próximo
encontro: Cada um(a) pense qual ação coletiva (comunitária) será assumida
pela comunidade como forma concreta de atender ao apelo do Papa Francisco na Laudato Si. Por vezes, já existem
iniciativas bem sucedidas em sua cidade, que precisam de apoio e colaboração.
Procure descobri-las, antes da reunião. Conforme o caso, convidar membros de
movimentos socioambientais para participar do próximo encontro.
Textos complementares
para leitura: Artigos de Frei Luis Carlos Susin (p.40-51), Frei Betto (p.157-168)
e Maria Clara Bingemer (p.169-181), no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas.
(6º e 7º) Atitudes
individuais e ações coletivas de cuidado com a casa comum
Finalidade:
Colocar em prática a mensagem da Encíclica Laudato Si.
Canto: Momento Novo ou outro cântico que
estimule a ação conjunta.
Observações
Estes encontros têm caráter prático, concreto. O mais
importante é que a comunidade assuma algumas ações coletivas de cuidado com a
casa comum, conforme sua realidade local. Embora esteja colocado no final da
série, podem ser realizados no meio do processo. As ações comunitárias suscitam
consciência e nos permitem fazer uma ligação entre a prática e a teoria.
Sugerimos dois encontros, para amadurecer as propostas, escolher as pessoas e
organizar as atividades.
Sugestão de método:
O animador(a) inicia recolhendo as sugestões dos participantes. Escreve-se ou
se projeta tudo o que foi sugerido. Convém distinguir as iniciativas já
existentes e as novas propostas. Em seguida, um tempo de cochicho, para
escolher as viáveis. Caso haja pessoas convidadas, que representam movimentos
existentes, elas devem brevemente colocar o que realizam. Depois, segue-se a
discussão em vista da decisão. Por fim, na reunião seguinte, aprofundamento e
escolha das opções, com as respectivas pessoas encarregadas e o cronograma de
execução.
Ações comunitárias: Essas são realizadas
com a finalidade de efetivamente contribuir para a melhoria da qualidade da
vida. Além disso, despertam a consciência para o cuidado com a Casa comum. O
papa Francisco insiste que devemos construir juntos uma terra habitável. Quando
já existem iniciativas da sociedade civil, devemos nos unir a elas, ou realizar
um trabalho de parceria. Se não há nada na cidade, é momento de começar.
Existem no mínimo dois tipos de ações comunitárias:
campanhas e processos. As campanhas visam desinstalar as pessoas e mobilizá-las
para mudar de atitudes e empreender ações de impacto, durante um tempo fixado.
Já os processos são duradouros (embora devam ser avaliados a cada ano, para
melhorar ou modificar). Uma campanha pode desembocar num processo. Depende da
existência ou não de pessoas na comunidade que assumam a responsabilidade.
Tanto as campanhas como os processos devem ser bem preparados, com uma comunicação
eficiente, utilizando meios interpessoais e virtuais. Não basta que a proposta
seja boa. Ela deve começar bem, para ter futuro. Chegar até as pessoas, onde
elas estão. Hoje é necessário unir várias formas e canais de comunicação. Por
exemplo: um cartaz inteligente e bonito, afixado em locais por onde as pessoas
passam (como a escola e a padaria), abordagem na porta da Igreja, entrevista na
rádio da cidade, rede no What’s App, comunidade no Facebook...
Algumas destas iniciativas somente serão duradouras se
contarem com a ajuda de voluntários, ambientalistas e pessoas que tragam sua
experiência e contribuição técnica. Em outros casos, com o apoio das
associações locais e outras igrejas cristãs. Algumas atividades complexas
exigem a parceria com o poder público, especialmente a prefeitura. Evite-se a
submissão destas iniciativas ao apoio interesseiro de vereadores ou deputados.
O animador(a) deve estudar antes
da reunião as propostas viáveis, pesquisar na internet, entrar em contato com
pessoas na cidade. Ver as possibilidades e os riscos de cada iniciativa. E
estar aberto(a) às propostas que venham do grupo. Seguem algumas sugestões.
Você encontrará vários vídeos com experiências detalhadas na internet, que
podem servir de inspiração.
Textos da Encíclica:
- Ações
individuais: (LS 211 e 212).
- Amor civil
e político (LS 228 e 231).
Oração final: Após
momento espontâneo de louvor, encerrar com a Oração cristã com a criação (LS
246b).
Texto complementar
para leitura: artigo da Marcial Maçaneiro (p. 73-89) no livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura
teológicas e pastorais da Laudato Si. Paulinas.
[1]Em
um mesmo parágrafo da LS por vezes há assuntos diferentes. Para efeito
didático, colocamos a letra (a) ou (b), para indicar que o texto indicado se
encontra no início ou no final do tópico citado. Tal letra não existe no
documento.
Conhecer a Laudato Si - Pistas pastorais
Fonte: capítulo 16 do
livro: Cuidar da Casa Comum. Chaves de leitura teológicas e pastorais da
Laudato Si. Paulinas, 2016, p.219-224
Introdução
Quando o/a peregrina está num grande Santuário, como Aparecida,
além de rezar diante da “imagem da santa” e participar da missa, percorre
capelas e outros cantinhos, contempla as pinturas e esculturas, caminha na área
externa, visita as lojinhas, alimenta-se, ou ainda senta-se debaixo das árvores
para se abrigar do sol e descansar. Se alguém visita uma cidade histórica, como
Ouro Preto, sobe e desce as ladeiras, olha os casarões, entra nas igrejas,
prova a saborosa comida mineira, senta-se na praça, admira o artesanato de
pedra sabão. Diferentemente de outras culturas, o brasileiro(a) não costuma
usar mapas ou roteiros para percorrer santuários ou cidades. Por vezes, estes
instrumentais são importantes para a gente se guiar e desfrutar com mais
conhecimento e profundidade da experiência de peregrino ou enriquecer nosso
horizonte cultural. Mas, um mapa não substitui a prática de descobrir,
contemplar, rezar, comer, divertir-se ou descansar.
Assim também acontece com a leitura e a prática cristã que decorre de um documento eclesial, como a Encíclica Laudato Si. As chaves de leitura que apresentamos nos capítulos anteriores são como um mapa, um roteiro ou aquelas “dicas” que se busca na internet. Ora, a gente se torna peregrino quando chega ao santuário. Conhece uma cidade ou região quando caminha, vê, sente os odores, conversa com as pessoas e faz suas próprias fotos. A grande tarefa que se põe agora consiste em introduzir as pessoas para conhecer a Laudato Si e colocar em prática a sua proposta.
Quem organiza excursões ou peregrinações (e às vezes ambas fazem parte do mesmo “pacote”) coloca uma pergunta prévia: “a quem se destina?”. Ora, o conteúdo e a forma estão intimamente ligados ao tipo do público-alvo. Uma peregrinação para a terceira idade requer escolha de locais e uma programação próprias, diferente daquela dirigida a um grupo de jovens. De maneira semelhante, tal questão orienta bispos, presbíteros, religiosos(as) e outros agentes de pastoral quando introduzem os cristãos no conhecimento e na vivência da mensagem da Laudato Si. O importante é ajudar as pessoas e os grupos a realizarem uma “fusão de horizontes” da sua experiência pessoal e comunitária com o texto inspirador. E a partir daí, alargar sua visão de mundo, enriquecer a espiritualidade e suscitar práticas transformadoras. Isso requer o conhecimento específico de determinado grupo, com suas características de faixa etária, cultura local, interesses, tipo de religiosidade predominante e experiências de vida.
Apresentaremos aqui uma sugestão de trabalho com a Encíclica, dirigida a grupos eclesiais, pastorais e movimentos de adultos em paróquia urbana. Esse recorte também é amplo. Deve-se levar em conta vários fatores do público-alvo concreto, como acesso à leitura, condição social, prática de trabalho em grupo etc.
Deixamos claro: não se trata de um roteiro pronto, mas de
pistas para suscitar a criatividade local. Esperamos que se tomem iniciativas
semelhantes com os/as catequistas e as crianças, os jovens, os movimentos, as
pastorais específicas, especialmente as pastorais sociais.
O caminho da
aprendizagem: conteúdo e metodologia
- O Papa Francisco insiste que o “cuidado com a casa comum”
compreende ao mesmo tempo as atitudes individuais (ecologia do cotidiano) e a
prática do “amor civil e político” (LS 228-231). Por vezes, é difícil realizar
as duas dimensões. No momento, há um descrédito quanto à luta de grupos
organizados para garantir políticas públicas justas e sustentáveis. Além disso,
nos últimos anos desenvolveu-se na Igreja uma espiritualidade muito subjetiva e
centrada em práticas religiosas (piedade e liturgia), em detrimento da
ética.Sem contar a crescente influência do pentecostalismo, fascinado por
milagres e experiência religiosa emocional, mas avessa à reflexão. Neste
contexto, deve-se valorizar o louvor e partir da subjetividade. Por isso,
colocamos como primeiro tema o louvor pela criação e a referência a São
Francisco.
- Embora na igreja se fale pouco sobre o cuidado com o planeta, existe uma sensibilidade crescente na sociedade para com esta questão. O tema é atraente e cria condições para suscitar novas lideranças eclesiais. Atrairá homens e mulheres que desejam contribuir com uma sociedade sustentável. Trará “novos ares” para a espiritualidade e a ética cristã.
- A encíclica é dirigida não somente aos católicos(as), mas também a cristãos de outras Igrejas, crentes de outras religiões e todos os homens e mulheres que são chamados a cuidar de nosso planeta. Propositalmente, a Laudato Si tem poucos parágrafos explicitamente confessionais católicos, como as referências à Eucaristia (LS 236) e a Maria (LS 241). O texto do Papa pretende ser uma Boa Nova para a humanidade. Seria bom promover debates com fiéis de outras religiões, pesquisadores e membros de movimentos socioambientais. Isso exige uma metodologia diferente daquela que apresentamos aqui, voltada, sobretudo, a grupos que estão “dentro da Igreja”.
- Convém motivar as pessoas a conhecerem o texto inteiro da Encíclica e a meditarem sobre seu conteúdo. Além da versão escrita, editada em várias editoras católicas, as pessoas podem usar o texto na internet, no site do vaticano. Ele se encontra em Língua Portuguesa assim como é praticada em Portugal.
- Francisco nos pede para mudar nossa ecopercepção. Isso significa: superar aquela ideia do que o meio ambiente está fora de nós, vencer o preconceito de que ecologia é assunto de radicais verdes. Em outras palavras, compreender que tudo está interligado, que fazemos parte da Terra, que a ecologia é muito mais do que preservação da natureza. Inclui a consciência social, a busca de qualidade de vida na cidade, a espiritualidade integradora, a sensibilidade para a beleza, a gratuidade na existência, a renúncia ao consumismo, a adoção de um modelo de vida simples e alegre. Enfim, deter a espiral de destruição do planeta e acreditar que a humanidade pode ser diferente.
- Esta nova relação com a criação como um todo será alcançada também com uma metodologia que inclui os cinco sentidos (ver, tocar, cheirar, ouvir, sentir o gosto). Sugerimos que ao menos um encontro ou parte dele seja realizado num parque da cidade, em área de conservação, na beira do rio ou da praia, ou simplesmente embaixo de uma árvore. Somente nos sentiremos irmãs e irmãos das outras criaturas se nos aproximarmos delas conscientemente, experimentando, refletindo e rezando. Também podem ser úteis pequenos exercícios de autoconsciência e comunhão com a casa comum, como respirar, pisar e tocar na grama, molhar o rosto e o pescoço com a água fresca, fazer juntos e saborear uma bela salada com muitas cores.
- É fundamental que o estudo da Laudato Si se conclua com práticas concretas, perceptíveis, avaliáveis. A própria encíclica propõe algumas delas. Do ponto de vista das instituições eclesiais, como paróquias e escolas, é fundamental dar exemplos de práticas ambientais estimuladoras. Citamos aqui algumas: reutilização de água de chuva, substituição por lâmpadas econômicas, redução drástica do uso de material descartável, reutilização de produtos, separação e destinação do lixo seco para cooperativa de coletores. Isso se amplia com algumas iniciativas que partem do espaço eclesial e se destinam às famílias, tais como: incentivo à compostagem e horta/jardim de apartamento, oferecer mudas para replantio e cultivo de árvores frutíferas e do bioma local, centro para recolher e destinar à reciclagem o óleo de cozinha. Tais iniciativas devem ser realizadas em parceria com cooperativas, ONGs, empresas e poder público. Por vezes, eles já realizam iniciativas louváveis. O incentivo da Igreja e a motivação da fé permitem que seus frutos se multipliquem.
Se você começa a conhecer uma cidade ou região com um tempo limitado, deve necessariamente priorizar o que verá. Ou confiar no seu guia, quer fará isso por ele/a. Se vai a Salvador, seguramente será levado ao pelourinho. Quem passa por Belém, visitará o mercado “Ver o peso”. Em outra ocasião se deterá em outros pontos e fará seu próprio percurso. Impossível ver tudo de bom, ao mesmo tempo. Assim também procederemos aqui. Escolhemos alguns temas e parágrafos da Laudato Si, que nos parecem imprescindíveis para entrar no documento. Propomos alguns encontros, que podem ser aumentados ou diminuídos, conforme a natureza do grupo.
Algumas dicas
Vale relembrar alguns princípios metodológicos, tendo em
vista o público-alvo escolhido.
- Procure utilizar textos breves, na medida certa para seus
interlocutores. Textos extensos, muitas
citações da Encíclica, e longos
comentários levam ao desinteresse pelo tema ou perda do foco. Para cada
encontro propusemos alguns parágrafos da Laudato
Si. Mesmo assim, veja o que é mais apropriado para o seu grupo.
- Divida bem o tempo de cada encontro, de forma a incluir um momento de oração, o conhecimento de tópicos da Encíclica e o confronto com a vida das pessoas. Conforme o tema, dediquem-se ao discernimento de ações práticas, em âmbito pessoal, familiar e comunitário.
- O estudo da Laudato Si pode estar articulado com temas das Campanhas da Fraternidade que tratam de questões socioambientais.
- Conforme o público, utilize música, clipe ou vídeo, como motivação. Neste caso, escolha o material que desperte a mente e o coração, e ajude a fazer a “fusão de horizontes”. Evite filmes longos. Há bons vídeos na internet, especialmente para tratar de alguns temas dos capítulos I (Como anda nossa casa Comum) e IV (Ecologia Integral).
- Se você e seu grupo produzirem um material de uso coletivo (como texto, vídeo, música, desenhos, clipe), coloque-o na Internet, no site da sua pastoral, movimento, paróquia ou diocese, de forma que outras pessoas no Brasil possam utilizá-lo. Compartilhe com seus amigos em redes sociais. Mande-nos também o link para colaborarmos na sua divulgação: murad4@hotmail.com
- Colocamos à sua disposição
algumas apresentações em powerpoint,
que estão no blog: ecologiaefe.blogspot.com Tenha a liberdade de modificar, reduzir ou
ampliar.
- Também produzimos uma série
de programas de rádio sobre a Laudato Si,
de seis minutos cada um, que estão disponíveis no site da RCR ou em www.amigodaterra.com.br Divulgue na
emissora da sua cidade. Utilize como subsídio de áudio para discussão e
reflexão. Se você produziu algum programa ou entrevista em áudio, mande também
para nós, no email: murad4@hotmail.com
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
domingo, 5 de junho de 2016
domingo, 15 de maio de 2016
domingo, 24 de abril de 2016
Ecoespiritualidade e estilo de Vida
Preciosa contribuição da Laudato Si acerca de um estilo de vida alegre e simples.
sábado, 9 de abril de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Oração pela nossa Terra
Deus
Onipotente,
que
estás presente em todo o universo
e
na mais pequenina das tuas criaturas,
Tu
que envolves com a tua ternura
tudo
o que existe,
derrama
em nós a força do teu amor
para
cuidarmos da vida e da beleza.
Inunda-nos
de paz,
para
que vivamos como irmãos e irmãs
sem
prejudicar ninguém.
Ó
Deus dos pobres,
ajuda-nos
a resgatar
os
abandonados e esquecidos desta terra
que
valem tanto aos teus olhos.
Cura
a nossa vida,
para
que protejamos o mundo
e
não o depredemos,
para
que semeemos beleza
e
não poluição nem destruição.
Toca
os corações
daqueles
que buscam apenas benefícios
à
custa dos pobres e da terra.
Ensina-nos
a descobrir o valor de cada coisa,
a
contemplar com encanto,
a
reconhecer que estamos profundamente unidos
com
todas as criaturas
no
nosso caminho para a tua luz infinita.
Obrigado
porque estás conosco todos os dias.
Sustenta-nos
na nossa luta
pela
justiça, o amor e a paz.
(Papa Francisco, Laudato Si 246)
Ações coletivas a partir da Laudato Si
O Papa Francisco
pede que, ao mesmo tempo, mudemos nossas atitudes pessoais e realizemos ações
coletivas de cuidado com a nossa casa comum. Essas são
empreendidas com a finalidade de efetivamente contribuir para a melhoria da
qualidade da vida das pessoas, proteger o meio ambiente, favorecer a inclusão
social dos pobres, exercitar a cidadania e cultivar a espiritualidade ecológica.
Então, o estudo da Laudato Si desemboca necessariamente em atitudes e ações práticas,
realizadas em âmbito individual e coletivo. Quando já existem iniciativas da
sociedade civil, devemos nos unir a elas, ou realizar um trabalho de parceria.
Se não há nada parecido no nosso bairro ou cidade, é hora de começar. Vamos
lá!!!
Ações coletivas
Na LS 219, Francisco diz como clareza: para
resolver a grave situação socioambiental do planeta, que é tão complexa, não
basta que cada um seja melhor. São necessárias redes comunitárias, união de
força! Por isso, vamos sugerir algumas ações possíveis, que você pode realizar
com outras pessoas e grupos.
O Texto abaixo reproduz e atualiza parte do
capítulo 16, “Laudato Si – Pistas
pastorais para conhecer e colocar em prática”, do livro Cuidar da Casa Comum.
Chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si’. Paulinas, 2016.
Existem no mínimo dois tipos de ações
comunitárias: campanhas e processos.
As campanhas visam desinstalar as pessoas e mobilizá-las para mudar de atitudes
e empreender ações de impacto, durante um tempo fixado. Já os processos são
duradouros. E devem ser avaliados a cada ano, para melhorar ou modificar. Uma
campanha pode desembocar num processo. Depende da existência ou não de pessoas
na comunidade que assumam a responsabilidade.
Tanto as campanhas como os processos devem ser
bem preparados, com uma comunicação eficiente, utilizando meios interpessoais e
virtuais. Não basta que a proposta seja boa. Ela deve começar bem, para ter
futuro. Chegar até as pessoas, onde elas estão. É necessário unir várias formas
e canais de comunicação.
Algumas destas iniciativas somente serão
duradouras se contarem com a ajuda de voluntários, ambientalistas e pessoas que
tragam sua experiência e contribuição técnica. Em outros casos, com o apoio das
associações locais e outras igrejas cristãs. Algumas atividades complexas
exigem a parceria com o poder público, especialmente a prefeitura. Evite-se a submissão
destas iniciativas ao apoio interesseiro de vereadores ou deputados.
Antes da reunião,
vocês devem estudar as propostas viáveis, pesquisar na internet e prever os
passos necessários. Discernir sobre a viabilidade, os riscos e os eventuais
custos de cada iniciativa. E estar aberto(a) às propostas que venham do grupo.
Seguem abaixo algumas sugestões. Você encontrará vários vídeos com experiências
detalhadas na internet, que podem lhes servir de inspiração.
Sugestão de ações
concretas
a) Eventos e campanhas
- Feira de trocas:
podem ser realizadas com as mais diversas faixas etárias. A finalidade é
refletir sobre a maneira como compramos, usamos e descartamos os objetos. Na
feira de trocas, cada um(a) traz alguns objetos pessoais em bom estado, que ele/a
não usa mais, para trocar com outra pessoa. Descobre-se o valor de uso dos objetos e exercita-se o desapego. Veja algumas
experiências na internet (busque: “feira de troca”).
- Mutirão de limpeza:
mobiliza membros da comunidade para limpar um espaço de uso público, como um
parque, uma praça, a praia ou a beira do rio. Alerta as pessoas sobre a
necessidade de cuidar dos espaços comuns.
- Caminhada ecológica:
serve para muitas finalidades. Algumas vezes, destina-se a tomar consciência do
próprio corpo, fortalecer os laços interpessoais, e encantar-se com as belezas
da Terra (as árvores, as águas, o ar, os pássaros, as flores). Noutras
ocasiões, tem um caráter profético, de denúncia diante da destruição dos
ecossistemas. Em outros momentos, enfatiza a dimensão celebrativa, de louvor
com a criação. Ou pode conter simultaneamente todos estes elementos.
- Feira de produtos orgânicos e da economia
solidária:
pode acontecer algumas vezes no ano, ou ser um processo. As feiras fortalecem a
cadeia produtiva com alimentos saudáveis, estimulam as iniciativas de economia
solidária, conscientizam sobre o valor da alimentação sem agrotóxicos e
estimulam a inclusão social. Devem ser realizadas em parceria com produtores de
alimentos orgânicos, de agricultura familiar ou outras iniciativas de economia
solidária. Para saber mais, procure na internet: “economia solidária”. Para ver
notícias e experiências: http://cirandas.net/
- Passeio ciclístico:
visa despertar para o uso da bicicleta com meio de transporte ou diversão.
Chama a atenção para o importante tema da mobilidade urbana.
- Romaria da terra e das águas:
organizada pelas pastorais sociais, constitui importante momento para denunciar
o mau uso do solo e a degradação dos nossos rios, fortalecer as lutas
socioambientais e louvar a Deus com a água e o solo.
- Campanha de plantio de mudas:
em parceria com outras organizações, mobiliza membros da comunidade para
plantarem e cuidarem de árvores frutíferas ou do bioma onde você vive (como a
amazônia, mata atlântica, cerrado ou semi-árido). É bom contar com a ajuda de
técnicos que ensinam como plantar e cuidar das árvores, bem como escolher as
mais adequadas para sua região.
- Campanha de resgate de nascentes:
mais apropriada para áreas rurais (embora também seja útil na cidade), consiste
em localizar nascentes e zelar do seu entorno.
- Campanha de coleta de água de chuva:
a experiência bem sucedida de construção de cisternas caseiras em comunidades
rurais no semiárido do Brasil, com apoio da Caritas,
agora se estendeu para as cidades e outras regiões, para ajudar a superar a
crise de abastecimento da água.
- Campanha da compostagem e de jardim/horta
caseira: com informações claras, estimula a produção
de adubo orgânico em pequena escala e um espaço para cultivo de plantas. Busque
mais informações e experiências na internet.
- Campanha de redução do consumo de água e
energia: já há muitas iniciativas, com apoio das concessionárias. Devemos
ajudar as famílias a fazer um diagnóstico, para perceber onde e como há maior
impacto ambiental na sua casa. E então adotar atitudes sustentáveis.
b) Processos
-
Coleta de óleo de cozinha: organiza-se um
local para recolher o óleo de fritura utilizado nas casas ou organizações. E se
escolhe uma organização que recolhe e recicla o material coletado. Além de
reduzir a poluição das águas, o resto óleo de fritura serve de matéria prima
para fabricar sabão e detergente.
- Apoio
às cooperativas de coletores de material reciclado: a comunidade, ou um condomínio,
monta um sistema de separar e destinar o chamado “lixo seco”, para reduzir a
quantidade de resíduos e fortalecer empreendimentos populares de “catadores”.
Convém escolher qual material recolher (por exemplo: latinha, garrafas pet e
papel branco limpo). Esta iniciativa tem ajudado na promoção social de muitas
famílias pobres, além de reduzir o volume dos aterros sanitários da cidade.
-
Horta urbana coletiva: iniciativa
crescente em várias partes do mundo, consiste em aproveitar espaços urbanos para
plantio de hortaliças, realizado por um grupo. Ver na internet: “horta urbana”.
c)
Pressão sobre o poder público
Algumas mudanças duradouras exigem o
compromisso do governo municipal, através de leis, organismos, empreendimentos
e políticas públicas. Para isso, é necessário criar grupos de cidadãos que
farão um longo trabalho de conscientização, reivindicação e pressão sob o poder
público. A palavra oficial da Igreja, através de pastorais organizadas,
paróquias e dioceses, tem grande valor para fortalecer estas iniciativas.
Veja algumas mudanças importantes para a
cidade: implantação de aterro sanitário; apoio logístico aos coletores de
material reciclável, estação de tratamento de esgoto (ETE), criação de
ciclovias, criação e manutenção de parques públicos e áreas de conservação,
política de mobilidade urbana, controle da poluição do ar, controle da
qualidade dos alimentos.
d) Gestos institucionais da igreja
O Papa Francisco
está ensinando ao mundo que os gestos valem mais do que as palavras. E as
palavras se tornam dignas de credibilidade quando acompanhadas por atitudes.
Veja alguns gestos institucionais que podem ser assumidos pela Igreja local.
- Incorporar o
olhar da sustentabilidade em qualquer atividade promovida pela Igreja, (como
eventos, festas, celebrações) com gestos simples e visíveis. Por exemplo:
reduzir a geração de lixo (resíduos sólidos), separar e destinar o resíduo
reclicável para cooperativas de coletores, diminuir a distribuição inútil de
papel, adotar papel misto e reciclado nas publicações.
- Rever a
política de construção e reforma dos prédios, de forma assumir as conquistas do
“ecodesign” (configuração ecológica) e da construção sustentável. Por exemplo:
construir de acordo com o clima da região, para favoreça ventilação e
iluminação naturais, usar material que economize eletricidade e água, captar e
utilizar água da chuva dos imensos telhados das igrejas.
- Promover o
plantio de árvores da região em Casas de Encontros e de Retiros.
- Em encontros e
retiros, utilizar o ambiente externo, de forma que os participantes rezem em
sintonia com o solo, o ar, as árvores, os pássaros. Vivam momentos gratuitos em
contato com a paisagem; vejam as estrelas; sintam a energia do sol da manhã. E
cultivem a perspectiva cristã da gratidão, do louvor e do cuidado.
Compartilhe
conosco a(s) iniciativa(s) comunitária(s) que você empreendeu com sua
comunidade ou instituição cristã, a partir da Laudato Si. Envie um texto para nós, com uma foto significativa. Ou
mesmo um breve vídeo (máximo 5 minutos), narrando a experiência. Postaremos
algumas delas neste blog. Enviar para: murad4@hotmail.com
Vamos juntos cuidar da Nossa Casa Comum!
Vamos juntos cuidar da Nossa Casa Comum!
Ir. Afonso Murad
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