domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal cósmico (2)


Na noite de natal,
o universo inteiro se iluminou
a partir de tênue chama de Belém.
O Filho(a) de Deus se fez matéria finita,
habitou no mundo, também por ele criado.
E nessa inusitada solidariedade,
os humanos, os ecossistemas, a Terra,
as estrelas, os sóis e as Galáxias
se reconheceram como casa de Deus.
(Afonso Murad)
 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vertentes da Ecologia

Ecologia ambiental
Esta primeira vertente se preocupa com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfiguração, com qualidade de vida e com a preservação das espécies em extinção. Ela vê a natureza fora do ser humano e da sociedade. Procura tecnologias novas, menos poluentes, privilegiando soluções técnicas. Ela é importante porque procura corrigir os excessos da voracidade do projeto industrialista mundial, que implica sempre custos ecológicos altos. Se não cuidarmos do planeta como um todo, podemos submetê-lo a graves riscos de destruição de partes da biosfera e, no seu termo, inviabilizar a própria vida no planeta.
Bibliografia mínima de orientação
- Berry, T. O sonho da Terra, Vozes, Petrópolis 1991.
- Boff, L., Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Atica, S.Paulo 1995.
- Capra. F.,O ponto de mutação, Cultrix, S.Paulo 1991.
- Dajoz, R.,Ecologia gerl, Vozes, Petrópolis 1983.
- Lovelock,J.,Gaia, um novo olhar sobre a vida na Terra, Edições 70, Lisboa 1987.
- Varios, Cuidando do planeta Terra. Uma estratégia para o futuro da vida, publicação conjunta de UICN/ PNUMA/WWR, S.Paulo 1991.
- Wilson, E., O futuro da vida, Campus, Rio de Janeiro 2001.

Ecologia social
A segunda - a ecologia social - não quer apenas o meio ambiente. Quer o ambiente inteiro. Insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza. Preocupa-se não apenas com o embelezamento da cidade, com melhores avenidas, com praças ou praias mais atrativas. Mas prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. A injustiça social significa uma violência contra o ser mais complexo e singular da criação que é o ser humano, homem e mulher. Ele é parte e parcela da natureza.
A ecologia social propugna por um desenvolvimento sustentável. É aquele em que se atende às carências básicas dos seres humanos hoje sem sacrificar o capital natural da Terra e se considera também as necessidades das gerações futuras que têm direito à sua satisfação e de herdarem uma Terra habitável com relações humanas minimamente justas. Mas o tipo de sociedade construída nos últimos 400 anos impede que se realize um desenvolvimento sustentável. É energívora, montou um modelo de desenvolvimento que pratica sistematicamente a pilhagem dos recursos da Terra e explora a força de trabalho.

No imaginário dos pais fundadores da sociedade moderna, o desenvolvimento se movia dentro de dois infinitos: o infinito dos recursos naturais e o infinito do desenvolvimento rumo ao futuro. Esta pressuposição se revelou ilusória. Os recursos não são infinitos. A maioria está se acabando, principalmente a água potável e os combustíveis fósseis. E o tipo de desenvolvimento linear e crescente para o futuro não é universalizável. Não é, portanto, infinito. Se as famílias chinesas quisessem ter os automóveis que as famílias americanas têm, a China viraria um imenso estacionamento. Não haveria combustível suficiente e ninguém se moveria.
Carecemos de uma sociedade sustentável que encontra para si o desenvolvimento viável para as necessidades de todos. O bem-estar não pode ser apenas social, mas tem de ser também sociocósmico. Ele tem que atender aos demais seres da natureza, como as águas, as plantas, os animais, os microorganismo, pois todos juntos constituem a comunidade planetária, na qual estamos inseridos, e sem os quais nós mesmos não viveríamos.
Bibliografia mínima de orientação
- Boff, L., Ecologia, mundialização, espiritualidade, Atica, S.Paulo 1996.
- Boff, L., Do iceberg à arca de Noé, Garamond, Rio de Janeiro 2002.
- Boff, L., Ecologia social em face da pobreza e da exclusão, em Etica da vida, Letraativa, Brasilia 2000, pp. 41-72.
- Minc, C., Como fazer movimento ecológico e defender a natureza e as liberdades, Vozes, Petrópolis 1987.
- Müller, R, O nascimento de uma civilização global, Aquariana, S.Paulo 1993.
- Vários. Nosso futuro comum. Comissão Mundial sobre o Meio Ambiene, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro 1988.

Ecologia mental
A terceira, a ecologia mental, chamada também de ecologia profunda, sustenta que as causas do déficit da Terra não se encontram apenas no tipo de sociedade que atualmente temos. Mas também no tipo de mentalidade que vigora, cujas raízes alcançam épocas anteriores à nossa história moderna, incluindo a profundidade da vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica.
Há em nós instintos de violência, vontade de dominação, arquétipos sombrios que nos afastam da benevolência em relação à vida e à natureza. Aí dentro da mente humana se iniciam os mecanismos que nos levam a uma guerra contra a Terra. Eles se expressam por uma categoria: a nossa cultura antropocêntrica. O antropocentrismo considera o ser humano rei/rainha do universo. Pensa que os demais seres só têm sentido quando ordenados ao ser humano; eles estão aí disponíveis ao seu bel-prazer. Esta estrutura quebra com a lei mais universal do universo: a solidariedade cósmica. Todos os seres são interdependentes e vivem dentro de uma teia intrincadíssima de relações. Todos são importantes.

Não há isso de alguém ser rei/rainha e considerar-se independente sem precisar dos demais. A moderna cosmologia nos ensina que tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. O ser humano esquece esta realidade. Afasta-se e se coloca sobre as coisas em vez de sentir-se junto e com elas, numa imensa comunidade planetária e cósmica. Importa recuperarmos atitudes de respeito e veneração para com a Terra.
Isso somente se consegue se antes for resgatada a dimensão do feminino no homem e na mulher. Pelo feminino o ser humano se abre ao cuidado, se sensibiliza pela profundidade misteriosa da vida e recupera sua capacidade de maravilhamento. O feminino ajuda a resgatar a dimensão do sagrado. O sagrado impõe sempre limites à manipulação do mundo, pois ele dá origem à veneração e ao respeito, fundamentais para a salvaguarda da Terra. Cria a capacidade de re-ligar todas as coisas à sua fonte criadora que é o Criador e o Ordenador do universo. Desta capacidade re-ligadora nascem todas as religiões. Precisamos hoje revitalizar as religiões para que cumpram sua função religadora.
Bibliografia mínima de orientação
-Berry, T., O sonho da Terra, Vozes, Petrópolis 1991.
- Boff, L., A nova era: a civilização planetária, Atica, S.Paulo 1995.
- Boff, L.,Eco-espiritualidade:sentir, pensar e amar como Terra, em Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Atica, S.Paulo 1995, pp.285-307.
- Lutzenberger, J., Gaia, o planeta vivo(por um caminho suave), L&PM 1990, Porto Alegre 1990.
- Prigogine, I. E Stengers I, A nova aliança, Editora da Universidade de Brasilia, Brasilia 1990.
- Sagan, C., Pálido ponto azul, Companhia das Letras, S.Paulo 1996.
- Unger, N.M., Encantamento do humano:ecologia e espiritualidade, Loyola, S.Paulo 1997.
-Zohar, D.e Dr. Ian Marshall, QS, Inteligência espiritual, Record, Rio de Janeiro 2000.

Ecologia integral
Por fim, a quarta - a ecologia integral - parte de uma nova visão da Terra. É a visão inaugurada pelos astronautas a partir dos anos 60 quando se lançaram os primeiros foguetes tripulados. Eles vêem a Terra de fora da Terra. De lá, de sua nave espacial ou da Lua, como testemunharam vários deles, a Terra aparece como resplandecente planeta azul e branco que cabe na palma da mão e que pode ser escondido pelo polegar humano.
Daquela perspectiva, Terra e seres humanos emergem como uma única entidade. O ser humano é a própria Terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera. A Terra emerge como o terceiro planeta de um Sol que é apenas um entre 100 bilhões de outros de nossa galáxia, que, por sua vez, é uma entre 100 bilhões de outras do universo, universo que, possivelmente, é apenas um entre outros milhões paralelos e diversos do nosso. E tudo caminhou com tal calibragem que permitiu a nossa existência aqui e agora. Caso contrário não estaríamos aqui. Os cosmólogos, vindos da astrofísica, da física quântica, da biologia molecular, numa palavra, das ciências da Terra, nos advertem que o inteiro universo se encontra em cosmogênese. Isto significa: ele está em gênese, se constituindo e nascendo, formando um sistema aberto, sempre capaz de novas aquisições e novas expressões. Portanto ninguém está pronto. Por isso, temos que ter paciência com o processo global, uns com os outros e também conosco mesmo, pois nós, humanos, estamos igualmente em processo de antropogênese, de constituição e de nascimento.

Três grandes emergências ocorrem na cosmogênese e antropogênese: (1) a complexidade/diferenciação, (2) a auto-organização/consciência e (3) a religação/relação de tudo com tudo. A partir de seu primeiro momento, após o Big-Bang, a evolução está criando mais e mais seres diferentes e complexos (1). Quanto mais complexos mais se auto-organizam, mais mostram interioridade e possuem mais e mais níveis de consciência (2) até chegaram à consciência reflexa no ser humano. O universo, pois, como um todo possui uma profundidade espiritual. Para estar no ser humano, o espírito estava antes no universo. Agora ele emerge em nós na forma da consciência reflexa e da amorização. E, quanto mais complexo e consciente, mais se relaciona e se religa (3) com todas as coisas, fazendo com que o universo seja realmente uni-verso, uma totalidade orgânica, dinâmica, diversa, tensa e harmônica, um cosmos e não um caos.

As quatro interações existentes, a gravitacional, a eletromagnética e a nuclear fraca e forte, constituem os princípios diretores do universo, de todos os seres, também dos seres humanos. A galáxia mais distante se encontra sob a ação destas quatro energias primordiais, bem como a formiga que caminha sobre minha mesa e os neurônios do cérebro humano com os quais faço estas reflexões. Tudo se mantém religado num equilíbrio dinâmico, aberto, passando pelo caos que é sempre generativo, pois propicia um novo equilíbrio mais alto e complexo, desembocando numa ordem, rica de novas potencialidades.
Bibliografia mínima de orientação
- Boff, L., Uma cosmovisão ecológica: a narrativa atual, em Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Atica, S.Paulo1995, pp.63-100.
- Crema, R., Introdução à visão holística, Cultrix, S.Paulo 1997.
- De Duve, C, Poeira vital. A vida como imperativo cósmico, Campus, Rio de Janeiro 1997.
- Gadotti, M., Pedagogia da Terra, Editora Fundação Peirópolis, S.Paulo 2001.
- Hawking, S., O universo numa casca de noz, Mandarin, S.Paulo 2001.
- Müller, R., O nascimento de uma civilização global, Aquariana, S.Paulo 1991.
- Zohar, D., O ser quântico. Uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência baseada na nova física, Best Seller, S.Paulo 1991.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O que é consciência planetária?

Abordaremos duas questões: conceito básico de “consciência planetária” e que tipo de “consciência” está aqui implicada. Este tema foi originalmente publicado no artigo “Consciência planetária, sustentabilidade e religião”, na Revista “Horizonte”, onde você encontra a bibliografia correspondente. 

Consciência ou visão planetária significa a (re)descoberta de que o mundo se torna um todo, o ser humano é membro da Terra e deve assumir a responsabilidade pelo futuro do planeta habitável. Tal percepção se configura como um modelo de compreensão que, nos humanos, incide sobre a visão de si mesmos e das suas relações, levando a posturas, gestos, iniciativas, políticas e processos em vista da sustentabilidade. Esse caminho também repercute na experiência religiosa, na mística, na compreensão acerca da relação do ser humano com o Sagrado. Alcançar a visão planetária expressa uma significativa e ainda minoritária etapa da evolução da humanidade, implicando tarefa de expansão e aprofundamento. Espera-se que a consciência planetária contagie mais pessoas, povos e países.
O conceito de consciência planetária é esboçado no Preâmbulo da Carta da Terra, em estilo esperançoso e estimulador : No meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida e com as futuras gerações.

Vejamos agora o primeiro elemento que compõe o conceito de consciência planetária e a relação entre eles: o fato de ser uma forma específica de “consciência”.
Na linguagem comum, “estar consciente” equivale a manter-se desperto, com as funções mentais ativas. Opõe-se ao estado de sono ou qualquer outra forma de desconexão de parte dos mecanismos sensoriais. “Ser consciente de” alude a compreender determinada situação, ter as informações necessárias e saber das consequências de suas escolhas. Tem também uma conotação ética. Uma pessoa “sem consciência” não julga corretamente suas ações, distingue de forma insuficientemente o bem do mal, aparentemente não sente culpa pelos erros cometidos, nega-se a avaliar o resultado de suas ações em relação aos outros. No horizonte das ciências modernas, o termo “consciência” abarca uma multiplicidade de sentidos: psicológico, sociológico, social, histórico, de classe, ético e outros. Vamos selecionar alguns deles.
A consciência está ligada ao processo de compreensão, à percepção. A pessoa tem a capacidade de assimilar, interpretar e reelaborar algo através da inteligência, levando a aperfeiçoar ou recriar conceitos, emitir juízos éticos com discernimento, relacionar fatos e teorias. A percepção influencia a maneira como vemos, julgamos, conceituamos e qualificamos as realidades subjetivas, intersubjetivas e objetivas . Por meio dela o ser humano se apropria das informações obtidas pelos sentidos, ao interpretá-las, selecioná-las e organizá-las. O educador ambiental Genebaldo Freire Dias utiliza a expressão “ecopercepção” como compreensão das principais questões socioambientais, suas causas e possíveis soluções. Na perspectiva do autor, o que está em jogo não é somente o acesso às informações, mas sim a forma como captamos as informações e as relacionamos. Ecopercepção implica uma postura ética: tomar atitudes pessoais e coletivas em vista da continuidade da teia da vida em nosso planeta.
Convém notar que a consciência planetária é mais do que ecológica, pois tematiza a utopia viável de superação da exploração econômica, social, étnica e política, em favor de sociedades interconectadas com equidade, que cultivem o respeito, a tolerância, a diversidade e a cooperação. A visão planetária, embora assumida por cada pessoa, pode ser classificada como um tipo de consciência coletiva, na acepção de Durkheim. Do ponto de vista da sociologia, o termo “consciência” compreende: quem somos (autoconhecimento), o que é o mundo (conhecimento experiencial da realidade) e o que deve ser mudado nele (critérios éticos para a ação transformadora). Neste sentido, “consciência planetária” designa o conjunto de ideias e valores que fundamentam e motivam um amplo movimento social em defesa da vida na Terra.

A visão planetária é uma forma de “consciência crítica”, tal como é compreendida por João Batista Libanio: autocompreensão do ser humano, nas suas relações intersubjetivas, comunitárias e estruturais. Libanio identifica três etapas de evolução da consciência na humanidade: o momento do objeto, o do sujeito e o social . Posteriormente, ele acrescenta o momento da consciência ecológica. Assim, articula o pensar dialético com o quântico. Intenta ajudar as pessoas a pensarem, compreendendo os complexos mecanismos que envolvem a vida intelectual. Segundo ele, como atitude fundamental, o senso crítico é um esforço para superar as primeiras impressões, o óbvio, o imediato, o visivelmente aparente, indo às raízes da realidade. A dimensão crítica da consciência planetária se liga àquilo que Goleman chamou de “inteligência ecológica”, ao desenvolvimento de sensibilidade abrangente que permite perceber as interconexões entre as ações humanas e seus impactos ocultos no planeta, na saúde dos indivíduos e da coletividade e nos sistemas sociais. Segundo ele, trata-se de uma habilidade que se conquista coletivamente, implicando a conscientização acerca das consequências profundas do que fazemos e do que compramos, a determinação de mudar para melhor e a disseminação dos conhecimentos adquiridos,

No dizer do filósofo José Carlos Aguiar de Souza: “A consciência planetária significa um estar atento aos destinos do planeta que é a nossa casa comum (..), consciente dos problemas que o afetam”. Num só movimento, a consciência plenamente atenta se encontra presente tanto a si mesma quanto à alteridade dos seres bióticos e abióticos, que constituem a ecosfera.
Portanto, o termo “consciência”, aplicado à visão planetária, significa simultaneamente: processo de compreensão, postura crítica, opção ética, além de modelo de interpretação ou paradigma emergente.
Fonte: http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2013v11n30p443

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Transporte individual e mobilidade urbana

Entrevista a André Trigueiro (jornalista ambiental) no Portal IHU On-line

Algumas pessoas alegam que preferem se locomover de carro porque o transporte público é ineficiente. Será só isso mesmo, ou no Brasil o uso do carro já faz parte da cultura brasileira?
Trigueiro – No Rio de Janeiro há um volume de investimento muito expressivo para preparar a cidade tanto para a Copa do Mundo em 2014 quanto para as Olimpíadas de 2016. O Rio de Janeiro tem uma oportunidade ímpar de promover, como nunca fez, o transporte público de massa. Há uma pressão enorme, o nível de consciência da população é muito grande, ou muito maior do que já foi. A tendência é que esse nível de pressão e de consciência cresça e que os tomadores de decisão percebam, como já percebem, que não há alternativa: não se consegue governar uma cidade colapsada na capacidade de promover o deslocamento das pessoas, as cidades são dinâmicas por vício de origem, as cidades são grandes formigueiros. Então, têm que ter fluxos de movimentação livres.
Estudos mostram que o deslocamento do centro da cidade do Rio de Janeiro até um determinado ponto da periferia demorava 20 minutos há 10 anos e, agora, demora 45 minutos. Nos próximos 10 anos, faremos esse percurso em quanto tempo? Há um problema de gerenciamento, pois os mandatos de prefeitos e governadores são de quatro anos e as mudanças feitas não resolvem o problema.
Respondendo objetivamente à pergunta, tem um pouco de tudo e cada região do Brasil tem a sua singularidade. Via de regra, existe certo comodismo, além da publicidade enganosa, que mostra o carro em comercial de televisão sempre andando sem engarrafamento. O carro também está cada vez mais confortável, oferece kits de conveniência. Não é normal perder até quatro horas da vida em engarrafamentos, todos os dias. Mas a loucura do automóvel também é a de tentar emprestar sentido à permanência no engarrafamento desde que seja em um carro Pop. Há uma inversão de valores.

 Muitas pessoas dizem que é complicado se locomover de bicicleta em função da engenharia das cidades. O que poderia mudar nesse sentido?
Trigueiro – A engenharia de tráfego das cidades tem que mudar, temos que mudar o paradigma, o modelo. Isso, em bom português, significa que os investimentos públicos em transporte de massa eficiente, barato e rápido devem ser superiores, devem suplantar os investimentos públicos que abrem caminho para o transporte individual. Um estudo feito recentemente por um pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que a maior parte dos impostos pagos pelos brasileiros é aplicada na área de transporte, mas beneficiam o transporte individual. Isso é um desajuste, um desacerto e é injusto, porque a maioria dos brasileiros não tem carro. Além disso, não se podem utilizar recursos públicos majoritariamente para abrir caminho para o transporte privado.
É preciso promover não apenas a possibilidade de a bicicleta interligar domicílio a trabalho, ou seja, criar corredores, fluxo de bicicleta, demarcar no asfalto ou na calçada o espaço da ciclovia, mas ter uma sinalização eficiente, fiscalização presente, educação ostensiva para motoristas e ciclistas e punição severa e exemplar para quem não respeita as regras. Na Europa, o motorista tem medo de “encostar” em ciclista porque sabe que é encrenca. No Brasil, o pedestre é soberano, ninguém pode encostar nele, mesmo que esteja atravessando a rua fora da faixa de segurança, ou esteja em uma situação de risco. É dever do motorista parar o carro.
É fundamental entendermos que a bicicleta pode entrar como um elemento importante que interliga modais de transporte. A pessoa pode sair de casa usando a bicicleta, parar em uma grande estação de trem, de ônibus ou de metrô, onde haja bicicletário e, de lá, seguir para outros lugares da cidade. É preciso investir em lugares referenciais, onde o fluxo de ciclistas eventualmente seja grande. Poderiam criar um banheiro público e cobrar R$1, R$1,50, R$2 pela utilização. Os ciclistas poderiam tomar banho pagando uma taxa simbólica. Seria uma forma de facilitar a vida deles.
No metrô, por exemplo, um vagão poderia ser destinado aos ciclistas. Essas seriam alternativas para reduzir a emissão de CO2, diminuir o ruído das cidades e melhorar a mobilidade urbana. A frota nacional de veículos cresceu mais de 100% em uma década, quer dizer, é um crescimento em progressão geométrica e as artérias das cidades não crescem na mesma proporção. Não existe mais hora do rush e isso significa perda de mobilidade.

 Segundo informações do Ipea, com a ascensão das classes C e D, deverá aumentar a aquisição de automóveis no país. O sonho de muitas pessoas é possuir um carro próprio. Como lidar com esse paradoxo: ascensão econômica x sustentabilidade?
Trigueiro – Em primeiro lugar, a multiplicação de carros no Brasil é uma bomba relógio ambiental de grandes proporções. O governo tem, nos impostos arrecadados, não apenas com a venda de automóveis, mas de todos os componentes, uma importantíssima fonte de arrecadação. Certa vez foi feita uma conta: se fosse possível somar todas as montadoras de veículos do mundo e toda a receita auferida pelo setor automotivo e isso fosse transformado em um número, esse número equivaleria ao sexto maior PIB do planeta, ou seja, em um ranking de países, o setor automotivo seria o sexto país mais rico do mundo.
Outro ponto importante é que não se faz omelete sem quebras os ovos. É duro ter que dizer isso. Preciso ter cuidado ao explicar isso para não ter uma visão elitista, mas o fato é que não é possível todo o brasileiro ter carro, como não é possível todo o indiano, todo o chinês ter carro. Simplesmente não dá, não é uma questão de justiça, é uma questão física. Segundo o IBGE, 83% dos brasileiros vivem em cidades. Se todos esses tiverem um carro, a vida se tornaria absolutamente insustentável, intolerável.
O estudo do Ipea indica que, possivelmente, o Brasil terá que replicar experiências que já acontecem em alguns países do mundo, que são restritivas ao automóvel. Em Cingapura, as pessoas completam 18 anos e tiram a carteira de motorista se houver disponibilidade, pois o governo estabeleceu uma cota. Eles têm um número definido de licenças de motoristas. Uma medida possível talvez seja restringir o número de carteiras de habilitação, não é qualquer um que pode ser motorista, é só quem pode, e o governo vai dizer isso em termos estritamente numéricos, pois tem um limite, uma capacidade de suporte.
Outra opção é sobretaxar o veículo, como fizemos com cigarros e bebidas. Na Califórnia, existem corredores, faixas de rolamento exclusivas para motoristas que estejam acompanhados. A maioria das pessoas, no Brasil, andam sozinhas e não poderiam pegar a faixa seletiva.
Toda sobretaxa que o governo poderá criar para o transporte individual deverá ser canalizada diretamente para o transporte público. Para onde vai o dinheiro do pedágio urbano de Londres? Para melhorias do transporte público de massa do cidadão londrino. Não tem desvio de dinheiro e isso faz a diferença. O motorista, em lugares onde a cidadania é valorizada, pode até ficar chateado por precisar ir ao centro de carro, já que está sempre pagando seu imposto.
Confesso a você que eu teria um cuidado maior na propaganda de automóveis, como se tem em relação à bebida. Quando encerra um comercial de bebida aparece a frase: “beba com moderação”. Poderíamos pensar o mesmo para a propaganda de veículos, uma mensagem que vá ao encontro do uso sustentável.
Hoje em dia ter carro é muito diferente de 20, 30 anos atrás. Por isso, a publicidade tem de lembrar, a quem queira comprar carro, que é preciso ter cuidado, uma visão mais encorpada de mundo.
Além dessas possibilidades, penso que o principal seja aderir à certificação energética, como se fosse um selo Procel, com letra A, B, C, D e E. A letra A representa o carro mais eficiente do ponto de vista do consumo do combustível. As montadoras tinham de ser obrigadas a ter prazos e metas de eficiência e, de cinco em cinco anos, os carros deveriam superar a eficiência.

Em que consistiria um sistema integrado e inteligente de transporte?
Trigueiro – Através de um bom mapeamento dos percursos, dos trajetos, corredores de deslocamentos na cidade. É preciso entender como a população está distribuída e onde há maior demanda de deslocamento. Segundo, um planejamento em resposta ao diagnóstico, ou seja, como melhorar os meios de transporte onde eles se fazem mais necessários. Penso que o ideal é priorizar, sempre, o transporte público de massa. O que é transporte público de massa? Não é ônibus, é metrô, trem, barca.
Os modais de transporte precisam aparecer em um grande mapa que esteja na sala do gestor público, para que ele visualize a deficiência em determinada área da cidade que está crescendo e precisa promover o transporte.
Fonte: Portal IHU – Setembro de 2013.

Sessão Temática "Ecoteologia" na VI ANPTECRE

IV CONGRESSO DA ANPTECRE
UNICAP – Recife - 04 a 06/09/2013
ST 1: ECOTEOLOGIA. TEMAS EMERGENTES
Na sessão temática, no dia 5 de setembro, apresentaram-se comunicações que articulam “ecologia, consciência planetária e religião”. Coordenação: Afonso Murad e Carlos Cunha (FAJE).

1. A ambiência da Teologia da criação.
Nilton Pereira Marinho - Mestrando em Teologia - PPG da EST. marinho.teologia@bol.com.br
A comunicação tem como objetivo mostrar que temas emergentes da Ecoteologia perpassam a teologia bíblica desde o Antigo até o Novo Testamento. O escritor dos primeiros capítulos do livro de Gênesis registra que só após o Criador ter proporcionado uma ambiência favorável, chamado no texto de Jardim (Gan) do Éden (Lugar de delicias), pôs o Homem para habitar nesse lugar. Passeava com o Homem toda tarde e no meio do Gan (jardim) pôs a arvore da Vida. A vida então passa a ser celebrada.  O que é a vida na proposta de Deus senão uma caminhada com Ele  todos os dias na praça ou no Jardim? Toda a criação geme esperando a manifestação dos filhos de Deus. Segundo o Apocalipse, na nova Polis celestial, a nova Jerusalém, há uma platéia (praça) em cujo meio encontra-se a mesma árvore, cujas folhas servirão para a cura das nações.
A ecoteologia encontra assim suas bases no início e no final da Bíblia. O Gan (jardim) do éden do início retornará como platéia (praça) da nova pólis. Da árvore da vida dependerá a saúde e a vida dos povos. O ser humano deve cuidar da Terra e dessa forma cumprir a orientação que Deus lhe dera desde a origem. A pesquisa será feita por meio de uma revisão bibliográfica.
Palavras-chave: Teologia. Ecoteologia. Vida. Ambiência

2. Mandato cultural: resgatando a teologia da criação para uma vivência pública da fé
Rodomar Ricardo Ramlow - Doutorando em Teologia no PPG da EST. Bolsista CAPES. rodomar.ramlow@gmail.com
Para que os cristãos possam avançar do debate teológico para uma vivência prática da fé na esfera pública é necessário um fundamento sólido. No que diz respeito à perspectiva ecológica, é necessário resgatar uma teologia da criação a partir do Mandato Cultural de Deus. Contribuir para esta reflexão é objetivo deste trabalho. Com uma pesquisa bibliográfica e um olhar sobre os primeiros capítulos do livro bíblico de Gênesis procuramos resgatar o conceito de Mandato Cultural, a fim de contribuir para uma conscientização planetária. Lembrando a influência do dualismo grego e o desprezo pela matéria, voltar-se à tradição hebraica significa assumir o desafio de uma compreensão mais integrada de todas as coisas. De maioria cristã, o Brasil precisa superar o dualismo platônico e encarnar a compreensão de que todos são responsáveis pela boa criação de Deus. A intervenção humana na realidade pressupõe responsabilidade e cuidado. Observa-se, no entanto, uma incoerência entre os ensinamentos do livro sagrado dos cristãos e a prática dos fieis no dia a dia no que se refere à relação humana com o mundo criado.
Palavras chave: Ecoteologia; Mandato Cultural; Teologia Pública; Criação.

2. “Natureza e Revelação testificam o amor de Deus”: A práxis ecoteológica de Ellen White como reflexão para a consciência planetária
Fábio Augusto Darius. Doutorando em Teologia no PPG - EST. Bolsista CAPES. augustodarius@gmail.com
 “O amor de Deus” é o mais abrangente tema abordado por Ellen Gould Harmon White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ao apresentar o “Livro da Natureza” como fonte privilegiada para o conhecimento prático de Deus e (por conseguinte) de Seu amor, em plena Era Vitoriana, ela possibilitou um novo olhar às relações entre o ser o humano e o divino mediante intrínseca e visceral relação do homem e da mulher com o meio-ambiente. Assim, refletir acerca de seus escritos sobre a natureza é abrir a consciência ao cuidado do planeta e ao mesmo tempo perceber a beleza da criação de Deus. Segundo a proposta da teologia holística de Ellen White, é impossível buscar a progressiva santificação e a negação do eu sem humildade para contemplar na terra e no céu o Deus abscôndito que na natureza se revela de forma privilegiada. Desta forma, conclui, conhecer e amar a natureza para perceber pessoalmente o amor de Deus expresso na Bíblia deve ser objetivado desde a mais tenra infância. O objetivo deste artigo é compartilhar e analisar textos whiteanos selecionados acerca do tema, vinculando-o à educação vivencial, com o intuito de promover possibilidades de diálogo e ações colaborativas para um mundo focado na interação entre o ser humano e a Natureza.
Palavras-chave: Religião, Natureza, Teologia Adventista

4. Proposta cosmogônica da ontologia do divino baseada em Gn 6,  à luz do livro de I Enoque
Filipe de Oliveira Guimarães. Doutorando em Ciências da Religião - PPG da UMESP. filipeoligui@gmail.com
Este trabalho foi elaborado com o objetivo geral de contribuir para uma Teologia da Sustentabilidade. No primeiro momento abordamos a temática na perspectiva da cosmogonia demonstrando, pelo viés da história das religiões, o seu lugar na vivência cristã e na academia. Em seguida analisamos o relato de Gêneses 6,  à luz do livro de I Enoque, objetivando resgatar a crença cosmogônica dos cristãos dos primeiros séculos. Na sequência, a pesquisa dá apontamentos ontológicos, de caráter hermenêutico, que posicionam Deus em relação a sua criação, com a finalidade de aproximar a temática da sustentabilidade do texto bíblico, no palco da cosmogonia. Em relação à sua estrutura, classificamos como sendo sistemático-fragmentária (construímos a partir de pequenas porções das Escrituras buscando obter relações entre elas), metodologicamente direcionada pela História das Religiões, fundamentada em pressupostos bíblicos e da pseudoepígrafe, tendo como chave de leitura a temática contemporânea da sustentabilidade. O resultado da pesquisa aponta que é possível, aos cristãos, uma práxis sustentável se adquirirem uma consciência do divino harmonizada com a temática da Sustentabilidade.
Palavras-chave: Teologia, Sustentabilidade, Cosmogonia, I Enoque.

5. Deslumbramento e preservação ante a sacralidade da vida: despertar para a religiosidade holística.
Mauro Luiz Ferreira Silva. Mestrando em Teologia - PPG da EST. Bolsista da CAPES.  mauroposest@yahoo.com.br
O artigo aborda a relevância do deslumbramento ante o mistério da vida, e a atitude preservacionista da natureza, enquanto meio e evidência, respectivamente, de experienciação do sagrado. À luz de antigos relatos diluvianos globais, como a epopeia mesopotâmica de Gilgamesh, o mito grego de Posseidon e Deucalião e o relato bíblico de Noé, descritores de vasta inundação na qual pequeno grupo de humanos e numerosas espécies animais são mantidos vivos, veem-se como elementos comuns a iniciativa divina da preservação e certa espécie de pacto sagrado com a natureza. Em ambas as eras, a pré-histórica, quando humanos até mesmo teriam acolhido animais numa grande barca, e a contemporânea, quando diversas ações individuais e políticas organizacionais “verdes” se desdobram em nível mundial, as atitudes de preservação parecem revelar a vivacidade de mentes capazes de deslumbramento ante o mistério e sacralidade da vida, e uma consequente autorresponsabilização pela continuidade desta. Sob tal viés, o da vida como sacramento, desponta a religiosidade plena. Com base em pesquisa bibliográfica, esta comunicação pretende contribuir para o debate sobre a espiritualidade holística que, ante a criação, deslumbra-se e responsabiliza-se.
Palavras-chave: dilúvio, preservação,  encantamento, religiosidade holística.

6. Comunidade da criação, comunidade da esperança: reflexões a partir da ecoteologia de Jürgen Moltmann.
Matteo Ricciardi. Mestrando em Ciência da Religião do PPG da UFJF. teomusik@gmail.com
O tema do trabalho será a reviravolta antropológica proposta por Jürgen Moltmann a partir da sua Ecoteologia. Na elaboração do autor, a construção da identidade do ser humano pode realizar-se apenas na medida em que este se confronta com o restante da criação, com seu semelhante e com o próprio Deus criador, numa “comunidade da criação”. Posto isso, a humanidade pode ser entendida como “co-criatura” na rede de conexões que compõem o complexo sistema do cosmo. O objetivo será apresentar o aggiornamento proposto pelo autor segundo três eixos principais: pautas para uma nova antropologia, à luz dos desafios pós-modernos e da crise ecológica; a reflexão acerca dos direitos da humanidade e os direitos da natureza; vias para um novo estilo de vida. Para atender os objetivos acima expostos, será realizada uma pesquisa bibliográfica das principais obras do autor sobre a temática, entre as quais Uomo (1971), Deus na criação (1985), Dio nel progetto del mondo moderno (1997) e Ética da esperança (2010) a fim de identificar os conteúdos inerentes à discussão proposta. Por fim, será apresentada a conclusão da investigação bibliográfica: o fomento de uma comunidade da criação na esperança de um futuro cósmico para a humanidade.
Palavras-chave: Moltmann, Ecoteologia, Co-criaturalidade, Sustentabilidade

7. “Novo céu e nova terra”: Por que o pentecostalismo brasileiro não se engaja em causas ecológicas?
Carlos Alberto Motta Cunha. Doutorando em Teologia - PPG da FAJE. Bolsista CAPES. carlosbedri@terra.com.br
O título desta comunicação já pressupõe a hipótese sugerida: o pentecostalismo brasileiro rejeita o engajamento ecológico. “Novo céu e nova terra” (Ap 21,1), para a fé pentecostal, são lugares de um futuro distante, longe da Terra. A esperança de um planeta restaurado não faz parte do imaginário pentecostal que, por sua vez, determina o comportamento alienante diante das causas ecológicas. Quais são os elementos teológicos determinantes de tal comportamento? Com o intuito de responder esta pergunta fundamental, o texto analisa as matrizes hermenêutica e escatológica do movimento pentecostal no Brasil e suas implicações para o não engajamento ecológico.
Palavras-chave: Pentecostalismo. Escatologia. Hermenêutica bíblica. Ecologia.

8. “Terra Prometida”. A emergência da “eco-espiritualidade”: ecologia e espiritualidade cósmica.
Aparecida Maria de Vasconcelos.  Doutoranda em Teologia – PPG FAJE. Bolsista da FAPEMIG. aparecidamv@ig.com.br
Terra salutar e salva – “Terra prometida” – é objeto da fé que convida simultaneamente a acolher a criação como dom e a humanizá-la. O neologismo “eco-espiritualidade” aponta para esse alvo que desejamos aprofundar. Frente à perda do sentido da terra e da vocação dos cristãos como co-responsáveis ante uma criação em processo, nós questionamos: 1) O que inspira as atitudes pessoais e coletivas nas relações com o meio ambiente? 2) Qual o lugar de Deus numa perspectiva cosmológica? 3) Quais os aportes da “eco-espiritualidade” para autêntica atitude ecológica e para novo imaginário  religioso? Estas questões abrem três momentos reflexivos. A ecologia provoca uma releitura da tradição cristã de modo a reequilibrá-la em alguns dos seus componentes. É o primeiro momento.  Em seguida, desenvolveremos a espiritualidade cósmica de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). Ele consagrou um interesse especial à Terra bem como ao seu futuro. Para o geopaleontólogo o futuro não é um horizonte potencialmente ameaçado, como ele inclina a tornar-se na situação contemporânea, mas um pólo de atração, o ponto Ômega. O que está em jogo em sua reflexão é a construção de algo novo que esteja, ao mesmo tempo, em coerência com as aspirações mais autênticas da humanidade. Enfim, proporemos alguns princípios, que emergem das provocações da ecologia à fé cristã e da mística cósmica teilhardiana, em vista a se pensar a missão própria dos cristãos na construção da "terra prometida".
Palavras chaves: Terra, eco-espiritualidade, Cósmica, Teilhard.

9. Ecoteologia: introdução didática
Afonso Murad. Doutor em Teologia. Docente no PPG em Teologia - FAJE. Bolsista de produtividade em pesquisa no CNPq. murad4@hotmail.com
Em diferentes partes do mundo, as teologias contextuais tem se desenvolvido como parte de um esforço conjunto de ampliar o diálogo da fé cristã com o mundo contemporâneo, de forma significativa. A ecoteologia se insere na imensa tarefa de atualizar a mensagem cristã, estabelecer interfaces com outras áreas do saber e contribuir para a sustentabilidade e a cultura da paz. O presente trabalho, de caráter programático, visa levantar os pontos essenciais para a produção de uma obra de ecoteologia, que sirva de texto-base, material de estudo para pessoas e grupos, e colabore efetivamente para o avanço da pesquisa. Quais seriam os elementos imprescindíveis para um texto-base de ecoteologia? Propomos, para reflexão e debate nesta Sessão Temática: (1) Estatuto epistemológico, método e abrangência da ecoteologia. Relação com outras teologias contextuais. (2) Religiões, consciência planetária e sustentabilidade. Síntese e tarefas. (3) Ecoteologia cristã: bases bíblicas. (4) Doutrina cristã e ecologia: novas interrelações. (5) Ética da sustentabilidade à luz da fé cristã. (6) Espiritualidade Ecológica. (7) Síntese: a fé cristã e as sete chaves da consciência planetária.

Palavras-chave: Ecoteologia, Teologia e sustentabilidade, religião e consciência planetária.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Dia da sobrecarga e pegada ambiental

Se a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 teríamos de fechar a Terra para balanço hoje, 20 de agosto. Essa é a estimativa da Global Footprint Network, ONG de pesquisa que há dez anos calcula o "Dia da Sobrecarga". Neste ano, o esgotamento ocorreu mais cedo do que em 2012 --22 de agosto--, e a piora tem sido persistente. "A cada ano, temos o Dia da Sobrecarga antecipado em dois ou três dias", diz Juan Carlos Morales, diretor regional da entidade na América Latina.

Para facilitar o entendimento da situação, a Global Footprint Network continua promovendo o uso do conceito de "pegada ambiental", uma medida objetiva do impacto do consumo humano sobre recursos naturais. No Dia da Sobrecarga, porém, expressa-o de outra maneira: para sustentar o atual padrão médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos. Para fazer a conta, a ONG usa dados da ONU, da Agência Internacional de Energia, da OMC (Organização Mundial do Comércio) e busca detalhes em dados dos governos dos próprios países.
O número leva em conta o consumo global, a eficiência de produção de bens, o tamanho da população e a capacidade da natureza de prover recursos e biodegradar/reciclar resíduos. Isso é traduzido em unidades de "hectares globais", que representam tanto áreas cultiváveis quanto reservas de manancial e até recursos pesqueiros disponíveis em águas internacionais. A emissão de gases de efeito estufa também entra na conta, e países ganham mais pontos por preservar florestas que retêm carbono.

Apesar de ter começado a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, a Global Footprint compila dados que remontam a 1961. Desde aquele ano, a sobrecarga ambiental dobrou no planeta, e a projeção atual é de que precisemos de duas Terras para sustentar a humanidade antes de 2050. A mensagem é que esse padrão de desenvolvimento não tem como se sustentar por muito tempo. "O problema hoje não é só proteger o ambiente, mas também a economia pois os países têm ficado mais dependentes de importação, o que faz o preço das commodities disparar", diz Morales. "Isso ocorre porque os serviços ambientais [benefícios que tiramos dos ecossistemas] já não são suficientes".

No panorama traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ainda como um "credor" ambiental, oferecendo ao mundo mais recursos naturais do que consome. Isso se deve em grande parte à Amazônia, que retém muito carbono nas árvores, e a uma grande oferta ainda de terras agricultáveis não desgastadas. Mas, segundo a ONG WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa margem de manobra está diminuindo (veja quadro à dir.), e exibe grandes desigualdades regionais. "Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos", diz Maria Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores "devedores" ambientais.

Fonte: Folha de São Paulo, 20 agosto 2013 (texto e imagem).

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ultima década foi a mais quente desde 1850!

A primeira década deste novo século apresentou as temperaturas médias mais altas já registradas desde que começaram as medições modernas, em 1850. Além disso, mais recordes de calor foram batidos entre 2001 e 2010 do que durante qualquer outro período.  Para piorar, o aumento do nível dos oceanos se deu em um ritmo duas vezes mais rápido do que nos 100 anos anteriores. Essas são apenas algumas das constatações do recém-publicado “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes”, da Organi zação Meteorológica Mundial (OMM).

“O relatório mostra que o aquecimento global acelerou nas quatro décadas entre 1971 e 2010 e que a taxa de aumento entre 1991-2000 e 2001-2010 é sem precedentes. O aumento da concentração de gases do efeito estufa está transformando nosso clima, com implicações para nosso meio ambiente e oceanos, os quais estão absorvendo tanto dióxido de carbono quanto calor”, explica Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. De acordo com o documento, a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 389 partes por milhão em 2010, um aumento de 39% com relação ao começo da Era Industrial.  Vale lembrar que essa concentração atualmente está na faixa das 400ppm.“Variabilidades climáticas naturais, causadas por interações entre nossa atmosfera e os oceanos – como evidenciadas pelo El Niño e La Niña – significam que alguns anos foram mais frios que outros. Observada em uma escala anual, a curva da temperatura global apresenta nuances. Mas em termos de longo prazo, a tendência é claramente para cima, ainda mais no período recente”, afirmou Jarraud.

A temperatura média global entre 2001-2010 foi estimada em 14,47°C, 0,47°C acima da média entre 1961-1990, que por sua vez já havia sido 0,14°C mais quente do que a década anterior. Todos os anos da última década, com exceção de 2008, estão entre os dez mais quentes já registrados, sendo que 2010 apresenta o recorde histórico, com 14,54°C. Dos 139 países observados pelo relatório, 94% tiveram na década passada a mais quente já monitorada. No Brasil, a anomalia de temperatura foi ainda mais elevada, com um aumento na média de 0,74 °C.  Porém, coube à Groenlândia a maior anomalia, com 1,71°C, alta que foi ainda mais pronunciada em 2010, com espantosos 3,2°C acima da média.
Todo esse calor resultou, é claro, em um maior degelo nas regiões polares e nas cadeias de montanhas. O que, por sua vez, teve impacto na elevação do nível dos oceanos. Segundo a OMM, o mar avançou uma média de três milímetros por ano, quase o dobro do observado durante o século XX, 1,6 milímetros. O nível atual dos oceanos está 20 centímetros acima do que estava em 1880. (...)
O “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes” é gratuito está disponível para download.
Fonte: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias2/noticia=734483

terça-feira, 9 de julho de 2013

Forum Temático: Religião, ecologia e cidadania planetária (2)

Eis a síntese das comunicações de cada um dos membros do Forum Temático 2: Religião, ecologia e cidadania planetária, durante a 26º Congresso da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião).

1. Direitos da Terra, Bem-viver e superação do especismo: incidências no cristianismo
Pedro A. Ribeiro de Oliveira. Doutor em sociologia – PUC-Minas pedror.oliveira@uol.com.br
A Carta da Terra levou o debate sobre consciência planetária do restrito âmbito de ambientalistas e pensadores/as para o público externo à academia. Embora esse público ainda seja pequeno, é certo que o tema tem-se desdobrado em várias questões que atingem um número cada vez maior de pessoas, muitas delas com forte marca cristã. Tendo presente a tradução antropocêntrica do cristianismo, cabe perguntar sobre as incidências dessas três dessas questões – Direitos da Terra, Bem-viver e especismo – na concepção cristã. Onde percebe-se pontos de resistência e de aceitação.

2. Culpa e mérito do Ocidente Cristão na Crise Ambiental
Douglas Jorge Arão. Doutor em Filosofia. PUC-Minas. djarao@gmail.com
Lynn White Jr., em seu celebre artigo “As raízes históricas da nossa crise ecológica”, não somente lamenta que o mandamento de Deus ao homem no livro do Gênesis seja de “dominar” a natureza, lamenta também o fato de ser um mandamento de “multiplicar” o número de descendentes deste homem primordial. De fato, Lynn White Jr., começa seu artigo mencionando Audous Huxley, e o efeito que o crescimento da população humana teve na degradação ambiental. A partir da constatação que a cristandade haveria uma enorme culpa no que diz respeito à crise ambiental, o autor duvida que a solução a esta crise possa estar no correto uso da ciência e da técnica e propõe uma visão alternativa àquela cristã. Mesmo depois de Copérnico ainda acreditaríamos na centralidade do nosso mundo, e mesmo depois de Darwin ainda “não seriamos capazes de nos conceber como membros do mundo natural”, segundo White. Ainda acreditamos na nossa superioridade e isso seria deplorável para o autor. Um ponto de fuga dessa visão seria o fato do autor salvar a figura de São Francisco de Assis, que White chama simplesmente Francis, como a figura cristã de maior impacto depois do próprio Cristo. Sua concepção democratiza a relação entre as criaturas de Deus, considerados como irmãos. White afirma que São Francisco “queria substituir o papel ilimitado do homem no cenário natural por uma idéia de igualdade entre as criaturas inclusive o homem” (..) A solução para a crise ecológica, profundamente enraizada em solo religioso, precisa de um remédio que seja igualmente religioso e a figura de São Francisco é de vital importância nesta empresa. Partindo da atualidade desta visão que vê uma grande culpabilidade a tradição Cristã no atual estado de alarme ecológico, analiso outros autores e outras versões do mesmo problema, comparando, principalmente com as ideias do economista e professor David Landes e sua obra "A Riqueza e pobreza das nações: Porque umas são tão ricas e outras tão pobres".

3. Viabilidade da Ética e Espiritualidade biocêntricas na Igreja Católica: uma análise do Catecismo romano
Luiz Eduardo S. Pinto. Mestre em Ciências da Religião. UNIMONTES. eduardosouzait@yahoo.it
Esta comunicação tem por objetivo apontar as contribuições e os limites do catolicismo romano a uma ética e espiritualidade biocêntricas. Ele toma como pressuposta a matriz antropocêntrica das religiões abraâmicas – entre as quais se inclui o cristianismo – mas levanta a hipótese de sua abertura a uma concepção biocêntrica. O campo empírico da busca é o Catecismo da Igreja Católica (CIC). O Catecismo é o documento oficial sobre a prática da fé e do ensinamento da doutrina. Nele estão contidos elementos que servem de orientações para a prática do catolicismo em todo o mundo, é um documento oficial de referência para os católicos. Nele há instruções sobre a profissão de fé, os sacramentos, a vida e a oração, sendo o mais completo documento da Igreja Católica acerca de sua doutrina. Justamente por isso serve de referência para qualquer estudo que se desenvolva sobre esta instituição religiosa. O período de elaboração do CIC (1985-1992) coincide com o início dos debates em várias partes do globo sobre questões como a extinção de espécies, o desmatamento, a poluição, o aquecimento global, o efeito estufa e o desenvolvimento sustentável. É um período de florescimento acentuado da consciência ambiental e das discussões sobre a relação dos humanos com a natureza. Nessa fase a perspectiva biocêntrica começa a entrar na pauta de discussão de intelectuais e instituições internacionais, dentre elas a Igreja Católica.

4 . As sete chaves da consciência planetária à luz da ecoteologia.
Afonso T. Murad. Doutor em Teologia, FAJE. murad4@hotmail.com
Inicialmente, caracterizaremos de forma breve os elementos que compõem o conceito de “Consciência planetária” e “Ecoteologia”. A seguir, apresentaremos as sete chaves, a saber:
- Encantamento: experiência sensível de contato com o meio ambiente, que desperta no ser humano o sentimento de reverência diante do mistério de todos os seres.
- Indignação: postura ética de “desconforto” diante das situações que atentam contra a dignidade dos seres humanos, sobrecarregam os ecossistemas e comprometem a continuidade da “teia da vida” no planeta.
- Informação: conhecer a situação dos ecossistemas no planeta, os impactos ambientais, a configuração do antropoceno e as alternativas de sustentabilidade.
- Visão sistêmica: superação da visão analítica que fragmenta a realidade, através do exercício da “alfabetização ecológica”, de compreensão holística e holográfica.
- Mística: desenvolvimento da eco-espiritualidade a partir da Bíblia, da Tradição Eclesial, do diálogo interreligioso e da sensibilidade aos Sinais dos Tempos, favorecendo a unidade da experiência salvífica cristã (criação – encarnação – redenção – recapitulação).
- Atitudes pessoais: posturas individuais, traduzidas em ações cotidianas referentes ao consumo de produtos e serviços e ao exercício da cidadania.
- Ações coletivas: complexo de iniciativas que abrange diversos âmbitos, do nível local à governança global, incluindo educação ambiental, gestão sócio-ambiental, comunicação, legislação e comunicação.

5. Um olhar essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os candomblecistas.
Amarildo Fernando de Almeida. Mestre em Ciências da Religião. PUC-Minas. amarildo-fernando@uol.com.br
Um olhar essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os candomblecistas. Para os candomblecistas o simbolismo das águas ultrapassa, e muito, o seu significado dos seus compostos químicos e das suas variadas formas de benefícios e de utilização do/no mundo moderno. O significado das águas nos terreiros de Candomblé situa-se num amplo universo de narrativas sagradas seculares, salvaguardando suas similaridades e suas diferenças com outras tradições religiosas, pois jamais se pode permitir ser interpretado e analisado com os procedimentos e os métodos da racionalidade cartesiana do mundo moderno. Dessa forma, as águas devem ser interpretadas a partir de “hidrofanias”, uma outra forma de ser no mundo: sagrada/profana. Assim sendo, a água no Candomblé é um elemento essencial e primordial a partir do qual tudo se configura e estrutura. E a água está presente na quartinha dos orixás; nos banhos e purificação dos corpos, dos animais, dos alimentos e folhas sagradas; ela restabelece a força regeneradora da energia vital; cura as diversas moléstias do corpo e da alma... E, necessário se faz lembrar, os candomblecistas ritualizam os significados primordiais das suas narrativas sagradas dos diferentes tipos de água: lamacenta, Nanã; doce, Oxum; salgada, Iemanjá. Portanto, diferente da racionalidade cartesiana que utiliza e beneficia da água em diversos momentos da sua comercialização, pois água é fonte de lucro e de riqueza.

6. Dimensão pública da teologia messiânica: ensaios sobre a constituição de uma ecoteologia
Andrea G. Santiago Tomita. Doutora em Ciências da Religião. Faculdade Messiânica. andreatomita@hotmail.com
O curso de Teologia da Faculdade Messiânica foi reconhecido pelo MEC em 2011 e tem uma proposta diferenciada de currículo que integra eixos de conhecimentos teológicos gerais com os específicos de uma teologia sui generis: a teologia da Igreja Messiânica Mundial (IMM - religião de origem japonesa fundada em 1935). Nesta comunicação pretendemos apresentar aspectos da proposta missionária da IMM que integra aspectos religiosos e práticas sociais (em terminologia messiânica denominada ‘ultrarreligião’) que conferem uma dimensão pública à sua teologia. Em especial, nos debruçaremos na análise do conteúdo e métodos de uma teologia prática com ênfase na visão do Fundador Meishu-Sama sobre “Arte da Agricultura Natural”; nos desdobramentos de uma práxis peculiar no campo da saúde, agricultura e meio ambiente e, finalmente, na reflexão sobre os possíveis fundamentos de uma ecoteologia messiânica.

7. O lugar da teoria da complexidade na ética ecológica de Leonardo Boff
Gabriel do Nascimento Vieira. Doutorando em Ciências da Religião. UNIMONTES. bielvi@ig.com.br
Esta pesquisa se propõe a esclarecer os vínculos da Teoria da Complexidade, interpretada a partir de Edgar Morin, com a Ética Ecológica Planetária proposta por Leonardo Boff. Ela ganha importância à medida que enfatiza o pensamento complexo como sustentação teórica dos problemas globalizados apontados por Boff e que, por sua vez exigem soluções complexas que atendam a diversidade de povos e culturas. Não dá mais para esperar soluções milagrosas vindas de um determinado segmento religioso, científico ou político que atenda a todos de maneira satisfatória. Deve-se aprender a pensar de outro modo, como diz Edgar Morin em seu escrito sobre o método, (sexto volume: tema ética a exigência da solidariedade e da responsabilidade como meios de religação ética entre os seres humanos e o planeta terra, nossa pátria-mãe).

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Forum Temático: Religião, ecologia e cidadania planetária

Durante a 26º Congresso Internacional da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião), realizado nos dias 8 a 11 de julho de 2013, reúne-se o Forum Temático 2, em torno de "Religião, ecologia e cidadania planetária".
Coordenadores: Afonso Murad (FAJE) e Pedro Ribeiro de Oliveira (PUC-Minas)

Programação:
9 de julho: 14h às 15h45
14h às 14h15: Introdução do Fórum Temático. Finalidade e metodologia
14h15 às 14h45: Um olhar essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os candomblecistas - Me. Amarildo Fernando de Almeida
14h45 às 15h15: Viabilidade da ética e espiritualidade biocêntricas na Igreja Católica: uma análise do catecismo romano - Me. Luiz Eduardo S. Pinto
15h15 às 15h45: O lugar da teoria da complexidade na ética ecológica de Leonardo Boff - Doutorando Gabriel do Nascimento Vieira

10 de julho: 14h às 16h30
14h às 14h15 Síntese do dia anterior e apresentação da pauta do dia
14h15 às 14h45 Culpa e mérito do ocidente cristão na crise ambiental - Dr. Douglas Jorge Arão
14h45 às 15h15 Direitos da Terra, bem-viver e superação do especismo: incidências no cristianismo - Dr. Pedro Assis Ribeiro de Oliveira
15h15 às 15h45 As sete chaves da consciência planetária à luz da ecoteologia - Dr. Afonso Tadeu Murad
15h45 às 16h Intervalo
16h às 16h30 Conclusão e avaliação do FT. Proposta de grupo de pesquisa permanente.

(Os resumos e publicações se encontram no site www.soter.org.br )

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Mensagem do Papa Francisco no Dia Internacional do Meio Ambiente

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de concentrar-me sobre a questão do ambiente, como já tive oportunidade de fazer em diversas ocasiões. Também sugerido pelo Dia Mundial do Ambiente, promovido pelas Nações Unidas, que lança um forte apelo à necessidade de eliminar os desperdícios e a destruição de alimentos.
Quando falamos de ambiente, da criação, o meu pensamento vai às primeiras páginas da Bíblia, ao Livro de Gênesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra para que a cultivassem e a protegessem (cfr 2, 15). E me surgem as questões: O que quer dizer cultivar e cuidar da terra? Nós estamos realmente cultivando e cuidando da criação? Ou será que estamos explorando-a e negligenciando-a? O verbo “cultivar” me traz à mente o cuidado que o agricultor tem com a sua terra para que dê fruto e esse seja partilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e cuidar da criação é uma indicação de Deus dada não somente no início da história, mas a cada um de nós; é parte do seu projeto; quer dizer fazer o mundo crescer com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um lugar habitável para todos. Bento XVI recordou tantas vezes que esta tarefa confiada a nós por Deus Criador requer captar o ritmo e a lógica da criação. Nós, em vez disso, somos muitas vezes guiados pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar; não a “protegemos”, não a respeitamos, não a consideramos como um dom gratuito com o qual ter cuidado. Estamos perdendo a atitude de admiração, de contemplação, de escuta da criação; e assim não conseguimos mais ler aquilo que Bento XVI chama de “o ritmo da história de amor de Deus com o homem”. Porque isto acontece? Porque pensamos e vivemos de modo horizontal, estamos nos afastando de Deus, não lemos os seus sinais.

Mas o “cultivar e cuidar” não compreende somente a relação entre nós e o ambiente, entre o homem e a criação, diz respeito também às relações humanas. Os Papas falaram de ecologia humana, estritamente ligada à ecologia ambiental. Nós estamos vivendo um momento de crises; vemos isso no ambiente, mas, sobretudo, no homem. A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja destacou isso muitas vezes; e muitos dizem: sim, é certo, é verdade… mas o sistema continua como antes, porque aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética. Aquilo que comanda hoje não é o homem, é o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro comanda. E Deus nosso Pai deu a tarefa de cuidar da terra não ao dinheiro, mas a nós: aos homens e mulheres, nós temos esta tarefa! Em vez disso, homens e mulheres sacrificam-se aos ídolos do lucro e do consumo: é a “cultura do descartável”. Se um computador quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades, os dramas de tantas pessoas acabam por entrar na normalidade. Se em uma noite de inverno, aqui próximo na rua Ottaviano, por exemplo, morre uma pessoa, isto não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm o que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! No entanto essas coisas entram na normalidade: que algumas pessoas sem teto morram de frio pelas ruas não é notícia. Ao contrário, a queda de dez pontos na bolsa de valores de uma cidade constitui uma tragédia. Um que morre não é uma notícia, mas se caem dez pontos na bolsa é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem resíduos.

Esta “cultura do descartável” tende a se transformar mentalidade comum, que contagia todos. A vida humana, a pessoa não são mais consideradas como valor primário a respeitar e cuidar, especialmente se é pobre ou deficiente, se não serve ainda – como o nascituro – ou não serve mais – como o idoso. Esta cultura do descartável nos tornou insensíveis também com relação ao lixo e ao desperdício de alimento, o que é ainda mais deplorável quando em cada parte do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem fome e desnutrição. Um dia os nossos avós estiveram muito atentos para não jogar nada de comida fora. O consumismo nos induziu a acostumar-nos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida, ao qual às vezes não somos mais capazes de dar o justo valor, que vai muito além de meros parâmetros econômicos. Recordemos bem, porém, que a comida que se joga fora é como se estivesse sendo roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome! Convido todos a refletir sobre o problema da perda e do desperdício de alimento para identificar vias que, abordando seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e de partilha com os mais necessitados.

Há poucos dias, na festa de Corpus Christi, lemos a passagem do milagre dos pães: Jesus dá de comer à multidão com cinco pães e dois peixes. E a conclusão do trecho é importante: “E todos os que comeram ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços” (Lc 9, 17). Jesus pede aos discípulos que nada seja perdido: nada desperdiçado! E tem este fato das doze cestas: por que doze? O que significa? Doze é o número das tribos de Israel, representa simbolicamente todo o povo. E isto nos diz que quando a comida vem partilhada de modo igualitário, com solidariedade, ninguém é privado do necessário, cada comunidade pode satisfazer as necessidades dos mais pobres. Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.

Gostaria então que levássemos todos a sério o compromisso de respeitar e cuidar da criação, de estar atento a cada pessoa, de combater a cultura do lixo e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro. Obrigado.
(Mensagem de 05 junho 2013)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ajude nossa campanha pela Amazônia (URGENTE)

Nosso blog aderiu a esta causa. Colabore você também.

Temos pouco tempo para salvar e defender a Amazônia! Assine essa petição urgente e exija que os Senadores e Senadoras revisem essa proposta absurda e rejeitem qualquer autorização que permita a plantação de cana-de-açúcar na Amazônia.

A Amazônia Legal é uma região importante, que comporta diferentes biomas, como Amazônia, Campos Gerais e Cerrado. Ela é vital para a fauna e flora e para uma parcela significativa da população brasileira e indígena (56% vivem na Amazônia Legal). Entretanto, há em andamento no Senado Federal uma proposta que autoriza o plantio de cana-de-açúcar nesta região, o que pode gerar consequências devastadoras para o meio ambiente, como perda da biodiversidade, e ameaçar a sobrevivência de populações indígenas e tradicionais.

É hora de preservar e defender a Amazônia! Assine a petição e exija que Senadores e Senadoras revisem este projeto de lei e rejeitem qualquer menção sobre a autorização de plantio de cana-de-açúcar na Amazônia Legal.

Clique aqui para assinar a petição e envie para todos:

http://www.avaaz.org/po/petition/Canadeacucar_na_Amazonia_NAO/?busRdbb&v=25160

Senadores a favor da floresta estão fazendo todo o possível para garantir que esse projeto de lei não seja levado à Câmara dos Deputados, onde os donos de terra têm a maioria e podem fazer vistas grossas para a lei, aprovando-a sem discussão. Treze senadores já se comprometeram. Porém, eles precisam do maior apoio possível para continuar fortes em sua posição. Se milhares de nós nos unirmos agora em uma só voz assinando a petição criada pela Action Aid Brasil , podemos dar a estes senadores o apoio de que eles precisam, e conseguiremos mais adesão no Senado contra o lobby, impedindo a pressão econômica para a devastação da Amazônia. Temos pouco tempo!

http://www.avaaz.org/po/petition/Canadeacucar_na_Amazonia_NAO/?busRdbb&v=25160

sábado, 18 de maio de 2013

O Espírito Santo na criação

Adaptado de J. Moltmann
Dios en la creacíon, Salamanca: Sígueme, p. 22-26

“A criação é um acontecimento trinitário: o Pai cria pelo Filho no Espírito. Conseqüentemente, a criação foi realizada por Deus, conformada por meio de Deus e existe em Deus”.
O Espírito leva a termo a atuação do Pai e do Filho. O Deus uno e trino inspira sua criação sem interrupção alguma. “Tudo quanto é, existe e vive sob o permanente afluxo das energias e possibilidades do Espírito cósmico”. Assim, compreende-se a realidade criada em chave energética e a consideramos como possibilidade realizada do Espírito divino. “O criador mesmo está presente em sua criação, mediante as energias e possibilidades do Espírito (..) Entra nela e é, ao mesmo tempo, imanente a ela”.
O fundamento bíblico para a “criação no Espírito” é o Sl 104, 29s: Escondes teu rosto e se aniquilam, retiras teu sopro e expiram, e ao pó retornam. Envias teu sopro e são criadas, e renovas a face da terra. Assim, “as criaturas são criadas com o afluxo permanente do Espírito divino, existem no Espírito e são renovadas mediante ele”.

Como Ruah é feminino em hebraico, deve-se captar a vida divina da criação com metáforas femininas. É o caso também da visão da sabedoria da criação, filha de Deus (Prov 8,22-31). Até nossos dias não se desenvolveu teologicamente a sabedoria da criação e o conceito teológico da criação no Espírito.
Se o Espírito Santo é derramado sobre toda criatura, então a fonte da vida está presente em tudo o que é e vive. As criaturas manifestam a presença da divina fonte da vida. Ora, o Espírito cria a comunhão de todas as criaturas com Deus e entre elas mesmas. Então, “a existência, a vida e o tecido das relações recíprocas subsistem no Espírito: nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28).
Aqui há uma mudança de perspectiva. Superando a teoria mecanicista, vemos que as relações são tão primigênias como as coisas. “Tudo existe, vive e se move em outros, com outros, para outros, nas conexões cósmicos do Espírito divino” (..) Da e na comunhão do Espírito divino nascem os modelos e simetrias, os movimentos e os ritmos, os campos e os conglomerados materiais da energia cósmica.

O ‘ser’ da criação no Espírito é, pois, a cooperação, e as conexões manifestam a presença do Espírito na medida em que permitem conhecer a harmonia global”. Como diz M. Buber: no princípio era a relação.
Não é um panteísmo, pois o Espírito de Deus atua introduzindo-se no mundo sem confundir-se com ele. E este mundo está aberto ao futuro do Reino da glória, “que renovará, unirá e consumará a terra e o céu”.
O Espírito Santo atua na criação como sujeito, como força e como possibilidade. O Espírito que cria, também conserva, renova e leva à consumação todos os seres.