segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Código Florestal: Entenda o que está em jogo com a reforma de nossa legislação ambiental

O coletivo de organizações não-governamentais ambientalistas SOS Florestas lançou esta semana em janeiro de 2011 a cartilha Código Florestal: Entenda o que está em jogo com a reforma de nossa legislação ambiental. A publicação busca explicar, com argumentos técnicos, científicos e históricos, as principais consequências das mudanças propostas pelos deputados ruralistas ao Código Florestal.

Com o documento, o SOS Florestas procura levar para parlamentares, imprensa e cidadãos brasileiros um debate que vem ocorrendo em portas fechadas, de forma tendenciosa sem ouvir o movimento social, especialistas e academia. A cartilha será distribuída para parlamentares e tem sua versão eletrônica disponibilizada na íntegra no site do WWF-Brasil.
A cartilha é amparada por diversos estudos científicos que foram ignorados na elaboração do projeto de mudanças no Código Florestal apoiado pelos ruralistas. Demonstra que as mudanças causariam devastação da cobertura florestal às margens de cursos d’água, contribuindo para o assoreamento do leito dos rios, aumentando a velocidade de escoamento das águas, provocando erosões e enxurradas.
Fazem parte da frente SOS Florestas as ONGs Apremavi, Greenpeace, Imaflora, Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto Socioambiental (ISA) e WWF-Brasil.


Baixe aqui a cartilha "Código Florestal: Entenda o que está em jogo com a reforma de nossa legislação ambiental
 
Fonte: WWF

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A flor mais grande do mundo- José Saramago

A animação acima foi dirigida por Juan Pablo Etcheverry em 2006, e é baseada no conto “A maior flor do mundo”, único escrito infantil de Saramago, que também é o narrador neste curta.
O filme começa com um escritor que se diz incapaz de escrever histórias para crianças. Então ele começa a relatar como seria esse conto, se soubesse contá-lo.
O protagonista é um menino de uns 7 anos, que em uma tarde de verão decide explorar o fascinante mundo existente a cinco minutos de sua casa.
Durante esta aventura ele chega a lugar seco e inóspito onde encontra uma flor murcha. O menino não duvida em ajudar a flor a recuperar toda a sua beleza e vai a procura de água. O trabalho para ele é imenso e esgotador, mas ele usa todo o seu empenho. A flor não apenas renasce, mas também cresce de uma forma fantástica, convertendo-se na maior flor do mundo e, provavelmente, na mais formosa.
Quando o locutor termina, lamenta-se não saber produzir histórias infantis, e sugere que agora que todos conhecem o assunto, talvez possam contar melhor que ele, e quem sabe um dia ele possa aprender.

Fonte: Luís Nassif Online
Fonte: Blog E-books Grátis

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O preço de não escutar a natureza- Leonardo Boff

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro - Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo -, na segunda semana de janeiro de 2011, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam freqüentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que distribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco, pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que aí viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Tarefas ecológicas das religiões (2)

Interpretar a condição humana no quadro da vida planetária

Na história das civilizações, a religião registra as primeiras leituras interpretativas da condição humana em seu meio. As hierofanias sempre revelam um forte nexo entre divindade, humanidade e natureza. As narrativas de origem do cosmo e do ser humano — com sua linguagem metafórica, figuras emblemáticas e rememorações rituais — compuseram visões de mundo e ajudaram o próprio ser humano a situar-se, em relação com os astros, com seu meio vital, com os semelhantes e consigo mesmo.
Assim emergiram variadas noções de tempo, espaço e transcendência, conjugando o particular e o universal. De tal sorte que, ainda hoje — após séculos de evolução tecnológica e científica — o acervo das religiões surpreende pela sua complexidade e promessas. Nem mesmo o fundamentalismo e a violência presentes na história das religiões, dolorosamente dramáticos, desqualificam por si só a contribuição religiosa à humanidade.

Neste sentido a atual construção do saber, dinamizada por diferentes paradigmas — e particularmente o conhecimento em humanidades e em ciência ecológica— volta-se ao patrimônio antropológico, ético e pedagógico das religiões, como fonte de sabedoria e compêndio de um primeiro conhecimento ecológico, cujas premissas ainda perduram em muitas culturas. A importância vital das águas e florestas, a observação dos astros e o fenômeno das estações fazem parte do conceito religioso de sagrado, influenciando as culturas, dos ritos à linguagem, das artes à culinária.
Esse tipo de saber e valoração da natureza se inclui na busca de saberes essenciais da humanidade neste terceiro milênio. Especialmente para que o ser humano se situe adequadamente no mundo, inserindo-se, dialogando e construindo — em vez de distanciar-se, isolar-se e destruir-se, destruindo também o meio ambiente.

Alguns autores reclamam um saber humano que inclua a noção de mistério no tratar do cosmo, da vida e da natureza humana. Este saber (mais holístico) situa o mundo físico, biológico e vivo no horizonte de um “além de plenitude” que seja inspirador e educador para a humanidade. Outros cumprem a mesma tarefa desde dentro das tradições religiosas que professam. A identidade confessional é colocada a serviço do bem humano em geral e do bem ecológico em particular. Releem suas fontes mitológicas, litúrgicas e escriturísticas, encontrando na sua religião uma inscrição do próprio cosmo. Emergem, então, vários elementos que podem beneficiar a vida humana e de todo o planeta.

Essa releitura ecológica das fontes atinge também o acervo das tradições orais que perduram na comunidade religiosa que narra, festeja, semeia, colhe, come, bebe e dança ritualisticamente, revivendo no corpo a sabedoria ancestral (Reginaldo Prandi). É um uso respeitoso do patrimônio das religiões, além de necessário e vital para nosso quadro de crise ecológica. Desse modo, as religiões interpretam a condição terrena e cósmica da humanidade e nos levam a perceber que somos membros de uma comunidade planetária.
              Marcial Maçaneiro