domingo, 26 de julho de 2009

CEBs e Ecologia

Selecionei aqui alguns pontos da carta final do Interclesial das CEBs, sobretudo aqueles que versam sobre a questão socioambiental e o compromisso da Igreja com ela. Se você quer ver a carta inteira, acesse: http://www.cebs12.org.br/

1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!
2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e regionais: “CEBs: Ecologia e Missão – Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”.
4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.

5. Fomos recebidos, na celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra para os trabalhadores, que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.
6. Iniciamos o primeiro dia, dedicado ao VER, partindo do grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade, na sua rica diversidade. Partimos para os locais dos mini-plenários de 250 participantes, nas paróquias e escolas. Eles levavam os nomes de doze RIOS da bacia amazônica: Madeira, Juruá, Purus, Oiapoque, Guamá, Tocantins, Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi, Araguaia e Jari.
8. Divididos nos Rios em 12 CANOAS, com duas dezenas de participantes cada uma, partilhamos as experiências, gritos e lutas das comunidades em relação à nossa Casa comum, a partir do bioma amazônico e dos outros biomas do Brasil (cerrado, caatinga, pantanal, pampas, mata atlântica e manguezais da zona costeira), da América Latina e do Caribe. Vimos nossa Casa ameaçada pelo desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas, de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana.
9. Somamos nosso grito ao das populações locais, para que a Amazônia não seja tratada como colônia, de onde se retiram suas riquezas e amazonidades, em favor de interesses alheios, mas que seja vista em pé de igualdade, no concerto das grandes regiões irmãs, com sua contribuição específica em favor da vida dos povos, em especial de seus 23 milhões de habitantes, para que tenham o suficiente para viver com dignidade.
10. Fazemos um apelo para que os governantes sejam sensíveis ao grito que brota do ventre da Terra e, pautados por uma ética do cuidado, adotem uma política de contenção de projetos que agridem a Amazônia e seus povos da floresta, quilombolas, ribeirinhos, migrantes do campo e da cidade, numa perspectiva que efetivamente inclua os amazônidas, como colaboradores verdadeiros na definição dos rumos da Amazônia.
11. Tomamos consciência também de nossas responsabilidades em relação ao reto uso da água, da terra, do solo urbano e à superação do consumismo, respondendo ao apelo, para que todos vivamos do necessário, para que ninguém passe necessidade.
12. Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de economia solidária, agricultura orgânica e ecológica. Saudamos os muitos sinais de uma “Terra sem males”, fazendo-nos crescer na esperança de que “outro mundo é possível, necessário e urgente”.
13. Realizamos a Caminhada dos Mártires, em direção ao local onde o rio Madeira foi desviado e em cujo leito seco, ao som dos estampidos das rochas dinamitadas, está sendo concretada a barragem da hidroelétrica. Celebrou-se ali Ato Penitencial por todas as agressões contra a natureza e a vida humana. Defronte às pedreiras que acolhiam as águas das cachoeiras de Santo Antônio, agora totalmente secas, ao lado da primeira capela construída na região, foram proclamadas as Bem-aventuranças evangélicas (Mt 5, 1-12), sinal da teimosa esperança dos pequenos, os preferidos de Deus.

14. No segundo dia do encontro, partimos em grupos, em visita às muitas realidades locais: populações indígenas, comunidades afro-descendentes, ribeirinhas, extrativistas, grupos vivendo em assentamentos rurais ou em áreas de ocupação urbana; bairros da periferia; hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com dependência química e ainda a trabalhos com menores ou pessoas com deficiência. O retorno foi rico na partilha de experiências, nas quais descobrimos sinais de vida nova. Reiteramos que os projetos dos grandes, principalmente as barragens das usinas hidroelétricas,as usinas nucleares geradoras de lixo atômico que põe em risco a população local, são projetos do capital transnacional que não favorecem os pequenos. Apoiados na sabedoria milenar dos povos indígenas, nos animamos a repetir com eles: “Nunca deixaremos de ser o que somos”. Nós, como CEBs no meio dos simples e pequenos, reafirmamos nossa teimosa opção pelos pobres e pelos jovens, proclamada há trinta anos em Puebla, resistindo e lutando para superar nossas dificuldades, sustentados pela fé no Deus que se revelou a nós como Trindade, a melhor comunidade.

15. No terceiro dia, a oração foi alentada pela promessa do Êxodo: “Decidi vos libertar... vos farei subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra, onde corre leite e mel” (Ex. 3, 8). Em cada canoa, os relatos iam revelando uma igreja preocupada com a justiça social e a defesa da vida nos testemunhos de gente simples em todos aqueles lugares visitados. Esses relatos aqueceram nosso coração e nos desafiaram a perseverar na caminhada das CEBs.
16. À tarde, fomos tocados por vários testemunhos. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, retomou em sua história a trajetória dos negros no Brasil, suas dores, resistências e esperanças de um mundo melhor, nos seus Quilombos da liberdade. Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua eu caminhada de menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a serviço, em favor do povo amazônida. Por fim, acompanhamos pelo vídeo o testemunho de Dom Pedro Casaldáligo e nos emocionamos com suas palavras de esperança e confiança em Jesus e na utopia do seu Reinado.
17. Neste dia, ocorreu também o encontro da Pastoral da Juventude de todo o Brasil e outro também muito significativo entre bispos, assessores e Ampliada Nacional das CEBs. Momento fecundo do estreitamento de laços e abertura a novos passos em nossa caminhada, em que foi expressa a alegria e alento trazidos pela presença significativa de tantos bispos. Desse encontro, os bispos presentes resolveram enviar sua palavra às comunidades:

19. Na manhã do último dia, fomos guiados pelo texto do Apocalipse: “O anjo mostrou para mim, um rio de água viva... O rio brotava do trono de Deus e do cordeiro...; de cada lado do rio estão plantadas árvores da vida... suas folhas servem para curar as nações” (Ap 22, 1-2). Bebemos no manancial da fé que nos une a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus anunciado por Jesus.
20. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos os biomas e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz.

COMPROMISSOS ASSUMIDOS
21. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e fraternura, acolhendo todas as expressões da vida.
22. Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais.
23. Queremos defender e apoiar o movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia.
24. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude.
25. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais.
26. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de sua atuação; fortalecendo a formação bíblica; incentivando uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos; assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; fortalecendo o diálogo ecumênico e inter-religioso e superando a intolerância religiosa e os preconceitos.

29. Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Pe. Cícero, o XIII Intereclesial, recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança. amém! axé! auere! aleluia!

sábado, 25 de julho de 2009

Intereclesial das CEBs (3)

O Intereclesial das CEBs caminha para seus últimos momentos. Quero partilhar com vocês algumas experiências vividas, impressões e informações. No dia dedicado à missão, fiquei em Porto Velho. De manhã, após a bela celebração, ouvimos a palavra de Pedro Ribeiro de Oliveira, Irmã Julieta e Leonardo Boff. Este último, em especial, falou com sabedoria e unção. Talvez não tenha novidades, mas foi uma palavra simbólica, de esperança.
Neste “dia de missão”, os participantes do Intereclesial visitaram experiências rurais e urbanas das CEBs e do movimento popular na região, além de algumas realidades que clamam. Houve de tudo. Quem foi visitar as comunidades ribeirinhas teve que ficar um longo tempo na estrada, inclusive com ônibus quebrado. Aqueles que optaram por conhecer a triste realidade das penitenciárias de Porto Velho, tiveram que esperar horas e somente alguns puderam ter contato com os presos. Os que visitaram as comunidades urbanas nas periferias perceberam o descaso do poder público para com os pobres, e também provaram a acolhida, a alegria e a fraternidade das comunidades.
Aliás, para mim, este foi o ponto mais forte do Encontro. Entre tantos eventos, congressos, fóruns e encontros em que participei na vida, nunca presenciei um com espírito de colaboração tão forte, somando efetivamente uma multidão de pessoas. Na primeira noite, percebi que havia uma imensa toalha no palco, toda confeccionada de forma artesanal em forma de flores, que se chama “fuxico”. Não podia imaginar quem fez aquilo. Ontem fiquei sabendo: foi a soma de centenas de toalhas artesanais, feitas em muitas comunidades. Tecidas a muitas mãos, com muito carinho. As comunidades rurais e urbanas se prepararam para o encontro durante dois anos.
Este doce sabor da fraternidade e da acolhida foi tematizado na manhã do quarto dia do encontro. Fui novamente para o miniplenário intitulado “Rio Tocantins”. A celebração da manhã, com cantos, leitura da bíblia, salmos entoados e símbolos terminou com a partilha de mel (foto acima), vindo de uma iniciativa de apicultura de socioeconomia solidária de Santa Catarina. Alguns, literalmente, se lambuzaram de mel.... A seguir, partilhou-se nos grupos menores (chamados de “canoa”) a experiência da missão no dia anterior. E, no final da manhã, em cada um dos 12 miniplenários, dois assessores locais apresentaram alguns dados sobre a Amazônia e a Igreja daqui. Onde estive, contamos com a apresentação do Ir. João Gutemberg, marista nascido no Acre, e um bispo da região.
Pude também conhecer e conversar com alguns bispos. Dentre eles, Dom Possamai, vice-presidente da comissão da Amazônia da CNBB e Dom Erwin, bispo prelado do Xingu, região onde viveu Ir. Dorothy. É emocionante ouvir estes homens, que são pastores e profetas.
Dois acontecimentos importantes marcaram ainda o quarto dia do intereclesial das CEBs: os testemunhos de vida e a reunião da equipe ampliada com os bispos. À tarde, no “Porto” (Plenária), a assembléia ouviu os depoimentos do arcebispo negro, emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires (Dom Zumbi), com seus quase 90 anos; o bispo emérito de Goiás (GO), dom Tomás Balduíno, grande batalhador e fundador da CPT e a senadora Marina Silva. Veja detalhes no site da cnbb.
Visite http://www.cnbb.org.br/ns/modules/news/article.php?storyid=1892
Sobre o encontro da Equipe de organização do Encontro com os bispos, relata o Padre Geraldo, assessor de comunicação da CNBB: A presença dos bispos também foi ressaltada como muito importante para o Intereclesial. Foram 56, inclusive o presidente e o vice-presidente da CNBB. “A presença numerosa dos bispos, inclusive a Presidência e os assessores da CNBB, são a confirmação de que as CEBs retomaram o rumo”, avaliaram os membros da Equipe Ampliada. “O intereclesial é uma grande assembleia que faz perceber como anda a Igreja no Brasil. Por isso é importante a presença do episcopado neste evento”, acrescentaram. Os bispos destacaram ainda, como pontos fortes do encontro, a espiritualidade e a qualidade dos delegados no Intereclesial. Ressaltaram, igualmente, o número expressivo de padres (331). Os bispos presentes sugeriram que as CEBs entrem como um dos temas prioritários na próxima assembleia. A proposta será levada ao Conselho Permanente da CNBB. Por fim, reconheceram que é necessário dar mais visibilidade ao que foi discutido no Intereclesial.
No último dia, a Assembléia decidiu que o próximo intereclesial das CEBS será no Ceará, a partir da diocese de Crato.
Veja as ultimas notícias do Intereclesial das CEBs no site da CNBB: (www.cnbb.org.br).

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Intereclesial das CEBs (2)

Porção de sangue de Irmã Doroth, recolhido com a terra onde tombou seu corpo. Caminhada margeando as matas, recordando tantos mártires da Amazônia. Celebração penitencial diante do canteiro de obras da barragem Santo Antônio, no Rio Madeira. Proclamação das Bem-Aventuranças. Calor e chuva repentina. Renovação da Esperança. Grito que ecoa, clamor a Deus!
Tudo isso compôs a celebração penitencial com a qual se concluiu o segundo dia do Intereclesial das Comunidades de Base, aqui em Porto Velho, Rondônia. Os participantes ainda se encontram, à noite com as famílias que as acolheram carinhosamente em suas casas. Momento de recordar um dia intenso...
Começamos a jornada cedinho, as 7.15h da manhã, no Ginásio do SESI, batizado de “Porto”, em alusão à realidade amazônica. Lá se reuniram os 3 mil delegados para a oração da manhã, que desta vez foi animada pelas comunidades indígenas. Tempos de silêncio de acolhida, diante da forma própria dos índios sintonizarem com o sagrado.
Depois, os ônibus nos esperavam. Fomos divididos em 12 rios, grupos de até 300 pessoas, que se encontraram em escolas da Cidade durante boa parte do dia. Fui para o “Rio Tocantins”, que funcionou na escola das salesianas. Na chegada, como em todo lugar onde estivemos, membros de comunidades e paróquias nos acolheram com música e sorriso. Depois da animação, quatro assessores apresentaram brevemente algumas questões referentes à realidade socioambiental da Amazônia e do Brasil. A seguir, fomos para os grupos menores. Ali se dá o momento onde as pessoas podem se ver, se reconhecer, contar seus “causos”, partilhar lutas e conquistas. Foi isso que aconteceu. Estive no grupo 7 e ouvi algumas experiências significativas de CEBs rurais e urbanas.
Na hora do almoço, outra boa surpresa. O alimento simples, farto e saboroso foi elaborado por voluntários(as) das comunidades. Sabor de família, de partilha, de colaboração, que marca desde o início o jeito de ser das CEBs.
No início da tarde apresentou-se uma síntese dos grupos, centrada no momento de VER a realidade da Amazônia e do Brasil, seus gritos e conquistas. Vieram à tona as grandes questões socioambientais. A primeira, sem dúvida, é a expansão violenta do agronegócio exportador, que traz consigo a destruição do ecossistema, dispersão das comunidades tradicionais e pouca melhoria de condição de vida para a população. Tocou-se também sobre a crescente dificuldade de acesso à água potável no Brasil, em distintas regiões. E, como tudo está interligado, também se falou da violência urbana e do tráfico de drogas. Não senti um clima de desespero ou indiferença diante de um quadro tão sério. Ao contrário, as pessoas sabem que estão fazendo sua parte, que estão colaborando para uma sociedade diferente, animadas pela fé. Partilharam-se algumas experiências bem sucedidas de socioeconomia solidária, de agroecologia e de conscientização ambiental.
E no final da tarde, sob um sol escaldante, fizemos a caminhada até a barragem no Rio Madeira. Aliás, escutei várias pessoas comentando sobre os impactos das barragens em sua região. Penso que a questão da energia é vital para a sustentabilidade.

“Mestre, onde moras? Vinde e Vede – Quem conhece, ama!” Como este mote, hoje o dia está dedicado à missão. Os participantes irão visitar uma das experiências locais: população indígena, comunidades agrícolas, comunidades extrativistas, comunidades ribeirinhas, comunidades de ocupação, casa de detenção, hospitais, casa do menor (salesianos), casa de recuperação de dependentes químicos, bairros populares e comunidades afro-descendentes.
As CEBs continuam sendo um sinal de esperança para uma sociedade justa, inclusiva e sustentável. O intereclesial mostra que um mundo novo é possível e dele já se vêem belos e tênues ramos.

Ir. Afonso Murad

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Intereclesial das CEBs (1)


“Gente simples,
fazendo coisas pequenas
Em lugares não importantes
Conseguem coisas extraordinárias”
Esse refrão de origem africana, e proclamado por Dom Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho, resumiu de forma poética o início do XII Intereclesial das Comunidades de Base, que acontece de 21 a 25 de julho. Realizado pela primeira vez na região amazônica, no estado de Rondônia, o interclesial tem como tema: “CEBs, ecologia e missão”, e como lema: “Do Ventre da Terra o grito que vem da Amazônia”. Este importante encontro reúne aproximadamente 3 mil pessoas, entre delegados de base e agentes de pastoral, eleitos em suas dioceses, bispos, 97 assessores, inúmeros convidados de outras igrejas cristãs e de vários países e uma representativa porção de povos indígenas da região amazônica.
Estima-se que mais de 7 mil pessoas estiveram concentradas na noite de 21 de julho, junto com os participantes do Interclesial, na celebração de abertura que ocorreu no centro de Porto Velho. O momento celebrativo, belo e expressivo em símbolos, trouxe um pouco da complexa realidade amazônica: o rio e a mata, os povos da floresta (indígenas, ribeirinhos e seringueiros), o povo da periferia das cidades, a bio-diversidade e a diversidade cultural, a destruição do bioma pelo agronegócio, a esperança e a resistência do povo.
Na celebração de abertura foram lembrados também todos os regionais presentes, com seus respectivos biomas: mata atlântica, cerrado, caatinga, pampas e pantanal. A questão ecológica, compreendida no viés sócio-ambiental e a partir dos pobres, parece marcar o diferencial deste encontro das CEBs. Outro destaque é tornar mais conhecido a Amazônia para os próprios brasileiros.
O segundo dia do encontro das CEBs terá como temática o VER: “Grito Profético da Terra e dos Povos da Amazônia, símbolos da humanidade”. A disposição dos espaços e dos temas levará em conta a realidade da Amazônia. O lugar central das plenárias denonima-se “Porto”. Os lugares onde se reunirão os 12 miniplinários são os “rios”, que abarcam ao todo 144 grupos de partilha e discussão, chamados de “canoas”. Bem cedinho, como é comum aqui na Amazônia, as 7 horas da manhã, inicia-se a animação musical e a celebração organizada pelos povos indígenas. A seguir, haverá uma introdução dos assessores, seguido de trabalho de grupo. Será o momento em que as pessoas poderão se expressar livremente, partilhando sua experiência de vida, suas convicções, lutas e esperanças. Na parte da parte haverá as miniplenárias, seguida de uma síntese dos respectivos assessores. Por fim, uma celebração penitencial reunindo todos os participantes.
Espera-se que este Intereclesial das CEBs na Amazônia amplie a consciência dos cristãos sobre seu compromisso socioambiental e seja mais um alerta para a sociedade sobre a importância da Amazônia para o nosso planeta. Muitas pequenas luzes, para a grande Luz.

Afonso Murad

domingo, 19 de julho de 2009

CEBs e Ecologia

Começa dia 21 de julho o 12º Intereclesial das CEBs- Comunidades Eclesiais de Base, em Rondônia. O tema: Missão e Ecologia e será o 1º encontro das CEBs na Amazônia. Acompanhe de perto o evento neste blog.
Prá começar, veja as cenas da convocação, no último encontro das CEBs em Ipatinga, em direção a Porto Velho: o trem vai partir!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Brasil: lixão da Inglaterra?

Circula a notícia de que toneladas de lixo orgânico foram importadas da Inglaterra por uma empresa brasileira – e o pior é que é verdade! Os resíduos saíram da Inglaterra em fevereiro, viajaram por diversos países e chegaram ao Brasil em junho, nos portos de Santos e do Rio Grande.

A partir daí, por conta de uma denúncia de irregularidade, a Receita Federal passou a fiscalizar, em sigilo, as cargas de importação dos dois portos e acabou encontrando uma surpresa nada agradável: 56 containers, com cerca de mil toneladas de lixo orgânico.

Na carga, dá pra achar todo o tipo de resíduo: plástico, papel e vidro – totalmente deteriorados e que, portanto, não podem ser reciclados –, restos de comida, cabos de computador, embalagens de produtos de limpeza e, pior ainda, seringas e preservativos usados.

Segundo o fiscal de exportações e importações do Rio Grande, Marco Medeiros, as empresas importadoras envolvidas no escândalo – que, por incrível que pareça, estavam com os documentos de regularização em dia – realizam esse tipo de prática fraudulenta por dinheiro.

Na Europa, custa cerca de € 200 descartar uma tonelada de lixo. Assim, essas empresas oferecem bem menos – cerca de € 10 – para importar a mesma quantidade e se livrar dos resíduos de forma ilegal – e totalmente insustentável –, o que faz com que os envolvidos na atividade saiam lucrando e todo o resto da população sofra as consequências.

Depois de analisar a carga, a Anvisa declarou que os resíduos são altamente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e, sendo assim, o Ibama multou, em R$ 150 mil, a empresa importadora e a transportadora, além de abrir um processo criminal contra elas e exigir a devolução da carga. Mas tem um detalhe: o Ministério Público ainda não sabe como o lixo saiu da Inglaterra e, portanto, não há para quem devolver o conteúdo dos containers.

A história nos parece absurda do começo ao fim. Qual é a sua opinião sobre tudo isso?

Fonte: Planeta Sustentável.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A história das coisas

De onde vem a para onde vão seus bens materiais? Para onde irá a humanidade sem pensar na qualidade finita dos recursos e com os seus sistemas de extração, produção, distribuição, consumo e descarte, que funcionam de maneira linear ? Quais as implicações destes sistemas? O vídeo abaixo, A História das Coisas, responde a essas e muitas outras perguntas que todos nós consumidores deveríamos nos fazer.