sábado, 19 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

Aumenta erosão nas praias do Brasil

Moradores e turistas da praia de Porto Grande, em São Sebastião, olham o mar bater forte nos muros de contenção. Eles se recordam do tempo em que era preciso caminhar na areia por 30 metros antes de mergulhar naquele trecho do litoral. Os muros aguentam, mas não diminuem o medo de que o mar engula a comunidade ali, como já ocorreu em praias de toda a costa brasileira.
Levantamento feito pela Folha de São Paulo com base no estudo "Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro" mostra que ao menos 120 praias já foram atingidas pela erosão de forma severa em todo o litoral. Nenhum órgão sabe quanto esse número significa em extensão - há cerca de 8.500 km de praias no país. O que se tem certeza é que quase todo o litoral sofre. Na Paraíba, por exemplo, 50% das praias registram erosão. Praias badaladas e paradisíacas estão na lista: de Jurerê, Canasvieiras, Santinho e Ingleses, no litoral catarinense, às de Caravelas (BA) e Maragogi (AL), no Nordeste. O problema coincide com a constatação de estudiosos de que o nível do mar vem aumentando. Esta é uma das prováveis causas da erosão, mas não necessariamente a principal, segundo o professor da UFRJ Dieter Muehe, que organizou o estudo. Para ele, esgotamento de fontes naturais e construções desordenadas que interrompam o fluxo da areia são grandes causadores.
A partir deste mês, o mar começa a avançar de forma mais agressiva em direção à costa, quando tem início o período de ressacas. Segundo o Centro de Hidrografia da Marinha, as costas sul e sudeste são as mais afetadas pelo fenômeno, causado por ciclones extratropicais intensos. Na iminência da ressaca e de possíveis erosões, Ubatuba e Caraguatatuba tentam se proteger: muros de contenção são erguidos, respectivamente, nas praias Grande e Massaguaçu. Na primeira, a prefeitura está construindo uma mureta de concreto para proteger banhistas e comerciantes. Dois quiosques foram atingidos.
Um estudo do professor de engenharia da USP Paolo Alfredini aponta não só que o nível do mar está subindo como a intensidade das ondas também é maior.Para ele, esse é um dos causadores da erosão. O pesquisador analisou marégrafos de cinco pontos espalhados pelo país - Cananeia, Santos, Ubatuba, Recife e Belém - e constatou o aumento. Nos cálculos dele, Santos, por exemplo, teve aumento do nível médio em cerca de 4 centímetros por década, entre 1976 e 2007. Em Recife, entre 1947 e 1987, o aumento foi de 5,2 centímetros por década. Em outro estudo, ele constatou que a altura das ondas aumentou em 20% entre 1957 e 2002. Com isso, o impacto provocado por elas aumentou, ajudando a arrancar mais areia das praias.
De acordo com o engenheiro Roberto Teixeira Luz, do IBGE, nem sempre é o mar que está subindo, mas a crosta terrestre que pode estar afundando. Isso pode ocorrer por vários motivos, entre eles falhas geológicas ou afundamento do solo por conta da retirada de água do lençol freático. Para o pesquisador Dieter Muehe, a elevação do nível do mar não é necessariamente a maior culpada. Estudos feitos em 16 Estados mostram que é comum no litoral a construção de barragens nos rios. Com isso, os sedimentos fluviais que são carregados até as praias passam a não chegar, diminuindo o volume de areia que deveria reabastecer o estoque que é levado pelas ondas.
Fonte: Folha de São Paulo, 13/5/12

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Código florestal: nota de Leonardo Boff

Lamento profundamente que a discussão do Código Florestal foi colocada preferentemente num contexto econômico, de produção de commodities e de mero crescimento econômico. Isso mostra a cegueira que tomou conta da maioria dos parlamentares e também de setores importantes do Governo. Não tomam em devida conta as mudanças ocorridas no sistema-Terra e no sistema-Vida que levaram ao aquecimento global.

Este é apenas um nome que encobre práticas de devastação de florestas no mundo inteiro e no Brasil, envenenamento dos solos, poluição crescente da atmosfera, diminuição drástica da biodiversidade, aumento acelerado da desertificação e, o que é mais dramático, a escassez progressiva de água potável que  atualmente já tem produzido 60 milhões de exilados. Aquecimento global significa ainda a ocorrência cada vez mais frequente de eventos extremos, que estamos assistindo no mundo inteiro e mesmo em nosso país, com enchentes devastadoras de um lado, estiagens prolongadas de outro e vendavais nunca havidos no Sul do Brasil que produzem grandes prejuízos em casas e plantações destruídas.

A Terra pode viver sem nós e até melhor. Nós não podemos viver sem a Terra. Ela é nossa única Casa Comum e não temos outra. A luta é pela vida, pelo futuro da humanidade e pela preservação da Mãe Terra. Vamos sim produzir, mas respeitando o alcance e o limite de cada ecossistema, os ciclos da natureza e cuidando dos bens e serviços que Mãe Terra gratuita e permanentemente nos dá. E vamos sim salvar a vida, proteger a Terra e garantir um futuro comum, bom para todos os humanos e para a toda a comunidade de vida, para as plantas, para os animais, para osdemais seres da criação. A vida é chamada para a vida e não para a doença e para morte. Não permitiremos que um Código Florestal mal intencionado ponha em risco nosso futuro e o futuro de nossos filhos, filhas e netos. Queremos que eles nos abençoem por aquilo que tivermos feito de bom para a vida e para a Mãe Terra e não tenham motivos para nos amaldiçoar por aquilo que deixamos de fazer e podíamos ter feito e não fizemos.

O momento é de resistência, de denúncia e de exigências de transformações nesse Código que modificado honrará a vida e alegrará a grande, boa e generosa Mãe Terra. Agora é o momento ds cidadania popular se manifestar. O poder demana do povo. A Presidenta e os parlamentares são nossos delegados e nada mais. Se não representarem o bem do povo e da nação, de nossas riquezas naturais, de nossas florestas, de nossa fauna e flora,  de nossos rios, de nossos solos e de nossa imensa biodiversidade perderam a legitimidade e o uso do poder público é usurpação. Temos o direito de buscar o caminho constitucional do referendo popular. E ai veremos o que o povo brasileiro quer para si, para a humanidade, para a natureza e para o futuro da Mãe Terra.