segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Tempo de Natal

Desde que Jesus nasceu em Belém, o mundo se tornou também casa de Deus.
A luz divina lentamente ilumina os seres humanos e os ecossistemas, em relação de interdependência.
Dá novo sentido à evolução do cosmos e a história, com suas belezas, ambiguidades e riscos.
Viva a Luz amorosa, com cheiro e cor de Ternura!
Feliz tempo de Natal!
Afonso Murad

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O clima depois da COP 18

Liana John (blog Planeta sustentável)
O principal tema da COP 18, com uma decisão de fato foi a continuidade do Protocolo de Kyoto, a vigorar a partir de 1 de janeiro de 2013 e até 31 de dezembro de 2020, desde que os países depositem de imediato seus documentos de aceitação. As metas não diferem muito do protocolo original. A rediscussão de novos compromissos ficou mesmo para as próximas COPs, cujo foco será o período após 2020.
Isso significa empurrar para cima o limite do aquecimento global considerado crítico pelos cientistas. Com os prazos do novo período do Protocolo de Kyoto mais esticados enquanto as metas de reduções de emissões continuam tímidas, o mundo deve ultrapassar o limite dos dois graus centígrados de aumento na temperatura média da atmosfera.

De acordo com os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), se a temperatura média da atmosfera subir mais do que dois graus, aumenta muito o risco de grandes rupturas no “comportamento” do clima: mais furacões, mais chuvas fortes, mais secas, mais nevascas, evolução do derretimento de geleiras para colapsos e, sobretudo, interferência na circulação oceânica (responsável pelos padrões climáticos, como os conhecemos). Ainda em outras palavras: se limitássemos o aumento da temperatura média a dois graus centígrados talvez assistíssemos “apenas” ao aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos violentos. Acima disso estamos caminhando para rupturas e colapsos.
A única grande novidade dos documentos finais desta COP18 é a concordância dos países desenvolvidos em ajudar a pagar perdas e danos relacionados aos desastres climáticos nos países em desenvolvimento. Todos sabemos que a fatura será alta e crescente. Mas seria mais barato e eficiente investir na prevenção, pois a conta da remediação (ou, pior, do caos) certamente será muito mais alta. Sem mencionar as perdas de vidas, que desmerecem qualquer tipo de cálculo.

Se os governos com seus negociadores oficiais não chegaram a compromissos reais, é hora de refletir sobre o que estamos delegando a eles. O assunto é sério demais para ficar apenas nas mãos de autoridades. Nenhum outro problema ambiental é tão universal quanto as mudanças climáticas. Suas consequências nos atingem a todos, mas suas causas também são responsabilidade de cada um de nós. Podemos sentar e esperar pelo pior. Ou podemos agir tomando as atitudes ao nosso alcance, oficiais ou não, contabilizadas nos relatórios nacionais ou não. Cidades estão tomando atitudes extra-oficiais para reduzir emissões; comunidades estão trabalhando com desmatamento evitado, independentemente da contabilidade protocolar; empresas e organizações não governamentais estão investindo em alternativas de baixo carbono.
As iniciativas podem não ter chancelas e carimbos, mas são ações. E se somam. E podem se multiplicar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

COP 18 termina com poucas perspectivas

Daniela Chiaretti, jornal Valor, 07-12-2012

Não era só a música árabe melancólica que abatia o ânimo no imenso centro de conferências de Doha, no Qatar. Além da exaustão de se falar dos temas de sempre - a falta de recursos financeiros, a transferência de tecnologia que não acontece, o segundo período do Protocolo de Kyoto com metas de redução de gases-estufa que não fazem cócegas na mudança do clima - começava-se a ouvir com mais frequência críticas sobre os resultados concretos das rodadas de negociação climática. Os avanços são mínimos, e o problema, gigante.

Não há chefes de Estado na conferência do clima do Qatar. Ao contrário da reunião de Copenhague, em 2009, ninguém tem na ponta do lápis quanto as promessas de redução de emissões podem significar na conta geral do aquecimento do planeta. Os anfitriões no Qatar, com a maior emissão per capita do mundo, a maior renda per capita, grande reserva de gás e petróleo, não estabeleceram metas de redução de emissão voluntárias, sendo protagonistas em sinalizar com uma economia de baixo carbono nesta região do mundo. Anunciaram, apenas, mais uma instituição de pesquisa para estudar o aquecimento global e tecnologias verdes.
Na tenda vermelha de um dos restaurantes do centro de convenções montado sob uma assombrosa estrutura de alicerces em forma de árvores, um experiente observador das rodadas climáticas da ONU estava desolado. "As pessoas que podem responder a este desafio não estão aqui", lembrava. "Ministros de Meio Ambiente e de Relações Exteriores não vão resolver." Temas relevantes não chegam perto das negociações climáticas. Alguns números ajudam a colocar, em perspectiva, um dos impasses desta rodada: a falta de recursos financeiros. Os investimentos em energias renováveis no mundo em 2010 bateram em quase US$ 1 trilhão - e isso quer dizer apenas 1% do mercado internacional de títulos. O mercado global de carbono movimenta mais de US$ 200 bilhões ao ano - e isso representa só 1/30 do movimento diário do mercado de câmbio global.

O último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado há poucos dias, diz que, se se investisse em todos os projetos relacionados a eficiência energética no mundo, seria possível dar um impulso de US$ 6 trilhões à economia global até 2025, o que poderia atrasar em cinco anos o momento em que as emissões do mundo têm que atingir o pico para, depois, despencarem rapidamente. Isso se se quiser evitar que a temperatura aqueça mais do que 2ºC ao fim deste século, como recomendam cientistas e como foi acertado pelos líderes globais. Ainda, o mundo gasta todos os anos mais de US$ 500 bilhões em incentivos a combustíveis fósseis. Diante dessas cifras, o que são US$ 60 bilhões de recursos financeiros até 2015 sendo suplicados em Doha por países pobres e nações-ilha para conseguirem erguer diques e conter o avanço do mar ou lidar melhor com secas cada vez mais fortes em regiões carentes?

Os diplomatas reunidos em Doha, em Durban, em Cancún, em Copenhague ou em Poznan - só para ficar nas rodadas mais recentes de negociação climática, depois da divulgação do relatório do IPCC, o braço científico da ONU, que colocou em evidência que as ações humanas estão levando o planeta a uma mudança climática de consequências imprevisíveis - são habilidosos em avançar o mínimo possível ano a ano. Cumprem à risca as determinações de seus governos. O problema é que a tarefa tem horizontes estreitos. O que vem sendo discutido nas COPs é complexo e importante, mas não chega perto da solução do problema. A negociação está ficando complicada demais e restrita à compreensão de uma parcela minúscula dos 7 bilhões de habitantes do planeta. Está se discutindo a árvore enquanto a floresta está queimando ou afundando.