terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Teologia de Terra e Espiritualidade Ecológica

J. Moltmann
Encontramo-nos hoje no fim da era moderna e no início do futuro ecológico do nosso mundo, se o nosso mundo deve sobreviver. Com isso, entende-se um novo paradigma, em seu nascimento, que liga entre si a cultura humana e a natureza da Terra de uma forma diferente de como ocorreu no paradigma da era moderna. A era moderna foi determinada pela tomada de poder do ser humano sobre a natureza e as suas forças. Essas conquistas e tomadas de posse da natureza chegaram hoje ao seu limite.

Todos os indícios indicam que o clima da Terra está se alterando drasticamente por obra de influentes comportamentos humanos. As calotas de gelo dos polos da Terra estão derretendo, o nível da água aumenta, algumas ilhas desaparecem, aumentam os períodos de seca, ampliam-se os desertos e assim por diante. Nós conhecemos tudo isso, mas não fazemos nada com relação ao que sabemos. A maior parte das pessoas fecham os olhos ou estão como que paralisadas. Porém, nada favorece tanto as catástrofes quanto o não fazer nada paralisante. Precisamos compreender a natureza de um modo novo e de uma nova imagem de ser humano e, por isso, de uma nova experiência de Deus na nossa cultura. Uma nova teologia ecológica pode nos ajudar nisso.

Segundo as tradições bíblicas, Deus não infundiu seu próprio espírito divino apenas no ser humano, mas em todas as suas criaturas: "Escondes tua face e eles se apavoram, / retiras deles a respiração, e expiram, / voltando a ser pó. / Envias o teu sopro e eles são criados, / e assim renovas a face da terra" (Salmo 104, 29-30). Pode-se deduzir disso: se a imagem e semelhança divina do ser humano depende do espírito divino que nele habita, então todas as criaturas, nas quais habita o Espírito de Deus, são imagens de Deus e, portanto, devem ser respeitadas. Em todo caso, os seres humanos fazem parte da natureza da Terra de um modo tão estreito que se encontram na mesma situação não redimida e na esperança comum da redenção. Os seres humanos não serão salvos "desta" terra, mas "com" esta terra, da caducidade e da morte.

Paulo ouviu o "gememos no íntimo, esperando […] a libertação para o nosso corpo" (Rm 8, 23) por parte daqueles que são animados pelo Espírito de Deus. Por isso, Ele também ouviu o "gemido e a expectativa" da criação não humana ao seu redor (Rm 8, 22). Ele estava convencido de que é o próprio Espírito de Deus que faz com que nós e toda a criação gemamos à espera da redenção do destino de morte. O Espírito presente é o princípio da nova criação, na qual não haverá mais a morte, porque ele é o Espírito da ressurreição de Jesus e a presença difundida do Ressuscitado.
A teologia ortodoxa expressou isso com a esperança não só na divinização dos seres humanos, mas também na divinização do cosmos: "Toda a natureza está destinada à glória, da qual os seres humanos terão parte no reino do cumprimento". Os homens, na sua singularidade, no seu destino e na sua esperança de vida, são uma parte da natureza. Portanto, eles não estão no centro do mundo, mas, para sobreviver, devem se integrar na natureza da Terra e na comunidade das criaturas com as quais vivem.

A arrogância do poder sobre a natureza e a liberdade de fazer dela o que querem não compete a eles, mas lhes compete, sim, uma "humildade cósmica" e uma consideração atenta por tudo o que eles fazem à natureza. Só quando estivermos conscientes da nossa dependência à vida da Terra e da existência de outros seres vivos nos tornaremos, de "divindades soberbas e infelizes" (Lutero), seres humanos.
O verdadeiro saber não é o poder, mas a sabedoria. As novas ciências astrofísicas demonstraram as interações entre os âmbitos inanimados e os animados do nosso planeta Terra. Disso deriva a ideia de que a biosfera da Terra forma com a atmosfera, os oceanos e as planícies um sistema complexo, único no seu gênero, que tem a capacidade de produzir vida e de criar espaços vitais. É a muito discutida teoria de Gaia, de James Lovelock. Apesar do nome poético da deusa grega da Terra, não se pretende com isso fazer uma divinização da Terra. Mas a Terra é concebida como um organismo vivo que produz vida e cria espaços vitais.

Se entendemos a vida em sentido puramente biológico, então a terra não é "viva", porque não se reproduz. No entanto, deve se dizer que ela é mais do que viva, porque produz vida. Ela não é nem um "organismo", no sentido em que conhecemos os organismos biológicos. Ela é mais do que um organismo, porque produz organismos. A Terra é um sujeito de tipo particular, incomparável e único. Não é um conglomerado aleatório de matéria e energia, não é nem cega, nem muda. É inteligente, porque produz inteligência.
Em um ponto específico da sua evolução, a Terra começou a sentir, a pensar, a tomar consciência de si mesma e a merece respeito. Nós, seres humanos, somos criaturas da Terra. Portanto, não estamos diante da Terra como seus sujeitos, mas, na nossa dignidade de seres humanos, somos parte da Terra e membros da comunidade terrena das criaturas. Nós mesmos somos "cocriaturas", juntamente com os outros seres vivos.

Esse sentimento cósmico de comunhão é mais amplo do que todos os âmbitos da natureza que podemos conhecer e dominar. Por isso, hoje é tempo de colocar no centro a santidade da Terra e de nos integrarmos conscientemente à comunidade da Terra. Comecemos a falar sobre um tema particular da teologia cristã, tema que, na reviravolta ecológica para a Terra e as suas condições de vida, torna-se atual hoje: a teologia natural. Embora tradicionalmente se entendia por essa expressão um conhecimento indireto de Deus a partir da natureza, hoje precisamos de um conhecimento indireto da natureza a partir de Deus.
As crises ecológicas destroem as condições vitais da Terra. Para conservá-la apesar das forças destrutivas, precisamos de um "sim" à Terra que supere tais forças e de um invencível amor pela Terra. Há talvez um maior reconhecimento e um amor mais forte do que a fé na presença de Deus na Terra e nas suas condições de vida? Precisamos de uma teologia da Terra e de uma nova espiritualidade da criação.

Fonte: Site IHU. Publicado originalmente  no jornal Avvenire (Itália), 18-05-2012.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Congresso da Mãe Terra (documento final)

Nosotras y nosotros, hombres y mujeres, convocados por el Espíritu que “renueva la faz de la tierra”, hemos celebrado este primer Congreso de la Madre Tierra los días 22, 23 y 24 de enero del año 2014, con una participación de: obispos locales, obispos de otros países, asesores; mujeres y hombres que compartimos la palabra y más de 900 personas representantes de los distintos pueblos e invitados de distintas iglesias y organizaciones. Nos hemos encontrado, para conmemorar los 40 años del Congreso Indígena de 1974 y los tres años de la Pascua gloriosa del J’Tatic Samuel, que condujo los destinos de esta diócesis durante 40 años (1960-2000).
Al hacer memoria de los acontecimientos más significativos de la Historia de nuestro pueblo desde el Congreso Indígena hasta la actualidad, sentimos que “nuestro corazón se calentaba”, como les sucedió a los discípulos de Emaús mientras el “compañero peregrino” les hacia un recuento de las Escrituras relacionadas con la historia y la liberación del pueblo de Israel.

Pero cuando compartimos el Pan de la Palabra, “de repente se abrieron nuestros ojos” y pudimos comprender y analizar la realidad desde el corazón de nuestros pueblos que reconocen la presencia de Dios en todo lo creado.
Nos dimos cuenta que el sistema capitalista neoliberal, patriarcal, represor y dominante, no es todopoderoso; todopoderoso sólo es Dios. Descubrimos que nuestra fuerza principal está en la “armadura de la fe” que nos dice San Pablo en la Carta a los Efesios: la Palabra de Dios, la ética y la espiritualidad.
Ante el poderío de las transnacionales y de los gobiernos cómplices y aliados de las mismas, que buscan acaparar las tierras y los bienes naturales del aire, del suelo y del subsuelo, que Dios nos regaló, es necesario que tengamos el valor de plantarnos ante ellos y decirles: “¡detente, hermano, porque esta tierra es de Dios!”.
Esto nos llevó a profundizar en el compromiso de la hora presente: analizar los signos de los tiempos, cuidar y defender a la Madre Tierra, denunciar las estructuras de injusticia y de pecado que “matan a nuestro pueblo” (Papa Francisco), y construir modelos alternativos de economía y organización social que vayan conformando otro mundo posible y necesario y que sean signos del Reino que Jesús nos anunció.

Igual que los discípulos de Emaús, después del encuentro con Jesús, recobraron la esperanza y regresaron apresuradamente a Jerusalén a confirmar en la fe a sus hermanos, así también nosotros ahora regresamos a nuestras comunidades, para reanimarlas a que, todas y todos juntos, nos comprometamos a la gran tarea que tenemos que realizar:
•Concientizarnos y concientizar a las familias y comunidades sobre las realidades que estamos viviendo.
•Promover una formación integral que nos dé elementos para desenmascarar los engaños del sistema opresor y buscar caminos alternativos.
•Organizar las comunidades para el cuidado y la defensa de la Madre Tierra , buscando la unidad por encima de diferencias políticas, ideológicas  y religiosas.
•Articular y reorganizar todas las áreas pastorales para llevar a cabo los compromisos de este Congreso.
•Con representantes de cada uno de los equipos conformar una instancia diocesana que de seguimiento a los acuerdos del Congreso.
•Conformar pueblos y comunidades que sean sujetos de su desarrollo y de su historia, capaces de resistir al sistema dominante y de construir alternativas de organización social y eclesial, donde se pueda vivir y disfrutar la autonomía personal y comunitaria.
•Seguir avanzando en la construcción de modelos de Iglesia autóctona, participativa, con equidad de género y compromiso social, que sea signo e instrumento del Reino de Dios.
•Exigimos a las autoridades del país y hacemos un llamado al pueblo para que se impida la siembra de maíz  y de cualquier otro cultivo transgénico.
•Nos oponemos a los mega - proyectos y a la explotación minera   depredadora.
•Nos oponemos a las reformas estructurales propuestas por el gobierno que promueven los intereses de las clases dominantes en perjuicio del pueblo.
•Nos pronunciamos en contra de estos más de veinte años de reformas agrarias de corte  neoliberal, que no nos han tomado en cuenta como pueblos indígenas,  comunidades campesinas y como  nación.

Con la certeza y convicción de que otro mundo es posible, convocamos a las Iglesias hermanas, organizaciones sociales  y a la sociedad en general a unirnos todos y todas a colaborar y trabajar juntos para que este sueño se convierta en una realidad.
Que este Congreso nos impulse a vivir una etapa nueva en el compromiso pastoral de nuestra diócesis en conjunto con todas las personas de buena voluntad, haciendo nuestro el mensaje del Apocalipsis de Juan que nos invita a superar un pasado de opresión, desolación y muerte y a comprometernos en la construcción de “los Cielos Nuevos y la Tierra Nueva”, donde reine la paz, el amor, la felicidad, la armonía y el equilibrio entre los seres humanos y con la Madre Tierra.

San Cristóbal de las Casas, Chiapas. 24 de enero de 2014
(Fonte: portal amerindiaenlared)