sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Decisões da COP 16 sobre mudanças climáticas

O acordo firmado em Cancún pela conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em dezembro de 2010, prevê uma série de mecanismos para combater o aquecimento global e permitir que os países mais pobres e vulneráveis se adaptem as suas dramáticas consequências. Estes são seus pontos principais:

FUTURO DO PROTOCOLO DE KYOTO
- Convoca os países desenvolvidos a discutir uma nova fase de compromissos de redução de emissões sob o Protocolo de Kyoto, cuja primeira fase expira no final de 2012, "para garantir que não ocorra um hiato" entre os dois períodos.
- Não requer, por enquanto, que as nações assinem compromissos para o período posterior a 2012. Japão liderou a oposição à prolongação do Protocolo, alegando que é injusto porque não inclui os dois maiores emissores: Estados Unidos (porque não o ratificou) e China (por ser um país em desenvolvimento).

AJUDA PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
- Cria uma nova instituição, o Fundo Verde, para administrar a ajuda financeira dos países ricos aos mais pobres. Até agora, União Europeia, Japão e Estados Unidos prometeram contribuições que devem chegar a US$ 100 bilhões anuais em 2020, além de uma ajuda imediata de US$ 30 bilhões.
- Convida o Banco Mundial a servir como tesoureiro interino do Fundo Verde Climático por três anos.
- Estabelece um conselho de 24 membros para dirigir o Fundo, com igualdade de representação de países desenvolvidos e em desenvolvimento, junto com representantes dos pequenos Estados insulares, mais ameaçados pelo aquecimento.
- Cria um centro de tecnologia climática e uma rede para ajudar a distribuir o conhecimento tecnológico aos países em desenvolvimento, com o objetivo de limitar as emissões e se adaptar aos impactos das alterações climáticas.

MEDIDAS PARA FREAR O AQUECIMENTO
- Salienta a necessidade urgente de realizar "fortes reduções" nas emissões de carbono para evitar que a temperatura média do planeta aumente mais de 2ºC em comparação com os níveis da era pré-industrial.
- Convoca os países industrializados a reduzir suas emissões entre 25% e 40% em 2020 em relação ao nível de 1990. Esta parte encontra-se incluída no Protocolo de Kyoto, e por isso não inclui os Estados Unidos, que nunca o ratificaram.
- Concorda em estudar novos mecanismos de mercado para ajudar os países em desenvolvimento a limitar suas emissões e discutir essas propostas na próxima conferência, no final de 2011, em Durban (África do Sul).

FISCALIZAÇÃO DAS AÇÕES DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO PARA REDUZIR AS EMISSÕES
Esses países, especialmente os grandes emergentes, como China, Brasil e Índia, "em função de suas capacidades", divulgarão a cada dois anos relatórios que mostrem seus inventários de gases de efeito estufa, e informações sobre suas ações para reduzi-los. Os relatórios serão submetidos a consultas e análises internacionais, "não intrusivas", "não punitivas" e "respeitando a soberania nacional".

REDUZIR O DESMATAMENTO
- Traz o objetivo de "reduzir, parar e reverter a perda de extensão florestal" nas florestas tropicais. O desmatamento responde por 20% das emissões de gases de efeito estufa globais. Pede aos países em desenvolvimento que tracem seus planos para combater o desmatamento, mas não inclui o uso de mercados de carbono para seu financiamento.
- Exorta todos os países a respeitar os direitos dos povos indígenas. (Fonte: Folha de São Paulo)

A conferência de Cancun foi além do esperado. Parece que a consciência emergiu! Que as medidas se transformem em práticas e estimulem os países (inclusive o Brasil) a colocar a sustentabilidade nas suas prioridades.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mudanças Climáticas: nossa vida está em jogo!

Enquanto acontece a Conferência do Clima em Cancun, cerca de 30 crianças e adolescentes de várias partes do Brasil se reúnem em Brasília, entre os dias 6 e 8 de dezembro, para participar do encontro “Mudanças Climáticas: nossa vida está em jogo”, realizado pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE). As crianças participantes são membros de comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, sem-terra, do semi-árido, das grandes cidades, Cerrado e Amazônia e têm entre 12 e 16 anos.
A intenção do encontro é manifestar a preocupação das crianças e adolescentes brasileiras para com os desafios trazidos pelas mudanças climáticas no Brasil e no mundo. Eles também vão cobrar dos parlamentares brasileiros, através de visitas ao Congresso, um verdadeiro compromisso do poder público para com estas mudanças que atingem os mais diferentes biomas, comunidades tradicionais e moradores de periferias das grandes cidades.
Nos encontros preparatórios do evento, foi sugerida uma atividade, que fazia o questionamento: “Considerando os desafios do momento presente, que palavras você escolheria para escrever na Bandeira do Brasil?”. A questão foi respondida de várias maneiras e durante o encontro em Brasília, caberá aos/as participantes escolher então algumas destas palavras e pintar em uma grande bandeira do Brasil que será levada ao Congresso Nacional. As crianças também levarão para cara um dos congressistas exemplares do jogo “Mudanças Climáticas: Nossa vida está em Jogo”.
Dinâmica do Encontro
As crianças e adolescentes que participam do encontro já tiveram reuniões preparatórias em suas comunidades e puderam conversar sobre as condições sócio-ambientais de diversos biomas e realidades do Brasil. Em Brasília, o evento será realizado no Centro Cultural de Brasília, onde as crianças devem apresentar informações sobre o seu lugar e a sua vida para as outras participantes. Haverá oportunidade para debate e assim poderão definir as prioridades e as palavras que deverão ser colocadas na bandeira do Brasil.
Depois das discussões no CCB, os participantes vão visitar o Congresso Nacional para apresentar o Jogo “Mudanças Climáticas Nossa vida está em Jogo”, além de mostrar suas propostas, reivindicações e manifestações aos Parlamentares e representantes do Governo Brasileiro e imprensa.
O jogo “Mudanças Climáticas Nossa vida está em Jogo” é uma maneira lúdica de colocar o assunto das mudanças na pauta das crianças e adolescentes. Eles aprendem e discutem sobre o assunto de forma divertida e acabam obtendo mais informações para contribuir para preservação do planeta Terra.
Participantes: Grupo Cultural Afroreggae – Crianças e adolescentes da periferia do Rio de Janeiro; INESC – Projeto Criança e Parlamento; MST (Movimento Sem Terra) – Trabalho com os sem terrinha; CIR (Conselho Indígena de Roraima) – Escola indígena da Reserva Raposa Serra do Sol; APOINME (Articulação dos Povos Indígenas do NE, MG e ES) – Trabalho com adolescentes do povo Pitaguari; CPI (Comissão Pró-Índio de SP) – adolescentes Aldeia Guarani em São Paulo; CAA NM (Centro de Agricultura do Norte de Minas) – Adolescentes da Escola Geraizeira da Reserva Extrativista da Fazenda Tapera; MOC (Movimento de Organização Comunitária) – Adolescentes do semi-árido da Bahia, que participaram do intercâmbio das Águas em 2009; Articulação Puxirão – Crianças e adolescentes de Comunidades Tradicionais (pescadores e quilombolas) do sul do Brasil; CAJU (Casa da Juventude) Goiânia; Escola Ambiental Padre Lancísio – Silvânia – Goiás.
Convidados: Carlos Dayrell (Engenheiro agrônomo, coordenador do Centro de Agricultura do Norte de Minas) e Bené Fonteles (Artista plástico, músico e poeta paraense radicado em Brasília).
(Texto da Internet, enviado para nosso blog. Fonte não identificada)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tarefas ecológicas das religiões (1)

Segundo Marcial Maçaneiro, “as religiões interpretam a condição terrena e cósmica da humanidade e nos levam a perceber que somos membros de uma comunidade planetária”. Ele aponta sete tarefas das religiões para a ecologia. Nosso blog partilha esta reflexão com você. Vejamos a primeira tarefa das religiões em relação à ecologia: Desenvolver a consciência ecológica de seus seguidores
Traçando as coordenadas cósmicas e terrenas do ser humano, as religiões cumprem uma função pedagógica: situam a pessoa “dentro” e “em relação” com o universo, o planeta, com a vida enfim. Inserir as pessoas nesta relação é um processo educativo. A vida (mineral, vegetal, animal e sideral, com suas múltiplas imbricações) se afirma como peça irrenunciável do cenário religioso. Aliás, o cenário religioso é o próprio cenário vital, enquanto lugar de manifestação do sagrado. Assim, o religioso dimensiona o físico e o biológico, o terrenal e o sideral, o espacial e o cronológico, ampliando a percepção da realidade e ajudando o ser humano a “dizer-se” no mundo.
Nisto constatamos a irradiação numinosa do sagrado, que se mostra e se esconde nas coisas, inserindo-se e superando a natureza, mas nunca ignorando ou desrespeitando-a. Quando uma religião inclui no cenário hierofânico o sujeito humano, educa-o à relação com o sagrado, que, por sua vez, se manifesta na natureza.
O sol, a lua e os planetas; as florestas, cavernas e montanhas; o voo da águia e a brandura do cordeiro; a semeadura e a colheita; o pão, o vinho e o mel; o óleo e o fogo que crepita: tudo isso é sagrado aos olhos do Homo religiosus, porque tudo isso sustenta a vida presente e futura.
Inserir-se na natureza, relacionando-se por ela com o sagrado, é fonte de consciência e valoração da própria humanidade e das demais criaturas. Temos, assim, uma consciência ecológica de raiz “religiosa” — no duplo aspecto de religar imanência e transcendência (religare) e reler a realidade à luz do sagrado (relegere).
Muitos autores acreditam que este olhar sagrado sobre si mesmo e a natureza contribui para o crescimento da consciência ecológica das pessoas. Diante do desmatamento, da escassez de água e do envenenamento do ar, a consciência religiosa pode converter-se em consciência ecológica. Quando um sujeito considera sagradas as florestas, supõe-se que mais se indignará com o desmatamento irracional.
Quanto mais a água for sagrada para um povo, mais deverá ser mantida limpa. Nas culturas a religião informa a ecologia; a ecologia informa a religião. Pois a consciência ecológica de fundo religioso supõe uma oferta anterior da natureza à religião. É uma construção dialógica, em oferta recíproca: a natureza se oferece na sacralidade; a sacralidade se oferece na natureza. Nesse sentido as concepções de sacralidade podem contribuir para que o ser humano participe responsavelmente do diálogo entre religião e natureza, como hermeneuta (sujeito que interpreta o sagrado na natureza), parceiro (que se põe do lado da vida, irmanado com as criaturas), ou jardineiro (que cultiva a vida pela aplicação diaconal de sua inteligência e habilidades).
Observamos ainda que a participação da pessoa nesse diálogo corresponde a uma antropologia, a uma visão de humanidade que existe na, com a da Natureza(= consciência antropológica), ainda que o ser humano se veja distinto das demais criaturas por sua racionalidade (= consciência espiritual). Afinal, distinção significa peculiaridade (biológica, moral ou ontológica), mas não implica necessariamente divisão e muito menos oposição.
Em muitas tradições religiosas a distinção do ser humano em face das demais criaturas só aumenta a sua dependência, reciprocidade ou responsabilidade por elas. As religiões trazem consigo uma antropologia de tipo eco-religioso, pois insere o ser humano no diálogo entre o sagrado e a natureza, definindo seu lugar e sua responsabilidade entre, com e diante das criaturas. Isso se verifica nas tradições abraâmicas (Francisco de Assis, Hildegard de Bingen, Teilhard de Chardin), hindoorientais (Trimurti, Krishna, Buda) e afro-brasileiras (orixás da Natureza).

Texto de Marcial Maçaneiro. Na próxima semana, a segunda tarefa: Participar da elaboração de uma epistemologia ambiental

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Protocolo de Nagoya

Após 18 anos negociando, foi assinado o Protocolo de Nagoya, considerado o maior pacto ambiental desde Kyoto. Representantes de quase 200 países finalmente chegaram a um acordo, em Nagoya (Japão) e assinaram o tratado sobre a biodiversidade.
As nações concordaram em reconhecer o direito dos países sobre a sua biodiversidade. Países que desejarem explorar a diversidade natural (como plantas, animais ou micro-organismos) em territórios que não sejam seus terão de pedir autorização para as nações donas dos recursos. Se estudo da fauna e da flora alheia resultar em novos produtos, como fármacos ou cosméticos, os lucros terão de ser repartidos entre quem os desenvolveu e o país de origem do recurso, conforme contrato prévio. Se houver comunidades que utilizem os recursos genéticos tradicionalmente, como tribos indígenas, elas também terão direito de receber royalties pela exploração comercial da biodiversidade. Os diplomatas chamam esses pontos de ABS, uma sigla em inglês para "acesso e repartição de benefícios".
As negociações para estabelecer esses pontos sobre o acesso aos recursos genéticos levaram quase 20 anos. Desde a Eco-92, no Rio de Janeiro, temas ligados à biopirataria são discutidos, e os países ricos relutavam em assinar um pacto que garantisse a soberania dos países sobre a sua biodiversidade. Por isso, o acordo realizado ao final da COP-10 (10ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica), em Nagoya, foi visto também como uma grande vitória brasileira, país dono da maior biodiversidade do mundo e protagonista nas negociações no Japão.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, chefe da delegação brasileira, afirmou que o sucesso de Nagoya, com um consenso entre centenas de países, pode servir de exemplo para as negociações do clima, que seguem em Cancún, em dezembro.
"Se Kyoto entrou para história como o lugar onde o acordo do clima nasceu, em 1997, Nagoya terá destino similar", diz Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CBD), responsável pela conferência.
Além do protocolo sobre a biodiversidade, várias metas de aumento na quantidade de terras e áreas marítimas preservadas foram estabelecidas (veja abaixo).

Principais pontos do Protocolo de Nagoya
* Os países são soberanos sobre a sua biodiversidade e recursos genéticos (incluindo plantas, animais e micro-organismos). Nenhuma outra nação pode acessar e explorar isso sem autorização do "dono" do recurso natural.
*Caso algum país crie, com recursos naturais de outro, novos produtos (como remédios), ambos devem ser "sócios" e dividir os lucros oriundos de eventual comercialização.
* Esses lucros devem ser divididos, também, com as comunidades que usam o recurso tradicionalmente -caso uma multinacional desenvolva um cosmético a partir de uma planta que uma tribo indígena utilize, pagará royalties a ela.
* 10% das áreas marinhas e costeiras vão virar regiões protegidas até 2020. Hoje, 1% está sob preservação.
* Também até 2020, 17% das áreas terrestres devem estar protegidas. Hoje, esse valor é de 12%.
* Resta, um ponto de discórdia sobre os royalties de recursos naturais: países em desenvolvimento querem que eles existam inclusive para substâncias já desenvolvidas, mas os países ricos não aceitam royalties retroativos.
(Fonte:Folha de São Paulo 30/10/10)

-> Trata-se de uma vitória para todos aqueles que lutam pela sustentabilidade!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Estudo de meio na Cerra do Cipó

A turma da Disciplina "Ecologia e Fé Cristã" do curso de Gestão Pastoral do ISTA (Instituto Santo Tomás de Aquino) em Belo Horizonte realizou um dia de estudo de meio na Cerra do Cipó. Observamos características típicas do cerrado e recordamos alguns conceitos básicos, como bioma, interdependência, ecossistema, plantas e animais exóticos, serviço ambiental, indicadores ambientais...
E além disso, uma oportunidade de exercitar o encantamento e a sintonia com água, os pássaros, as árvores, o ar e as pessoas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Zoológico paulista presta homenagem a animais extintos

A equipe do zoológico de São Carlos aproveitou a semana de Finados para prestar uma homenagem aos animais de todo o mundo que são considerados extintos. Cruzes brancas foram espalhadas pelo zoo, em respeito às espécies selvagens que desapareceram do planeta por culpa da ação direta do homem.
Nas cruzes, informações sobre cada uma das espécies extintas – como nome científico e data de descoberta e extinção – permitem que os visitantes conheçam ao menos um pouco dos animais que um dia habitaram nosso planeta e que desapareceram por culpa dos seres humanos.
Entre as espécies brasileiras que são lembradas na mostra está a arara azul pequena (Anodorhynchus glaucus), que não é vista na natureza há mais de 80 anos, e a ararinha da caatinga (Cyanopsitta spixii), que também é considerada extinta, embora restem alguns poucos exemplares dessa espécie em cativeiro.
A intenção da iniciativa é que os visitantes do zoológico parem para refletir a respeito das consequências da perda de biodiversidade no planeta e, assim, passem a analisar melhor as atitudes que tomam no dia-a-dia e que, mesmo indiretamente, podem estar prejudicando a natureza.
O zoológico fica no Parque Ecológico Municipal de São Carlos e a entrada no local é gratuita.


Fonte: Planeta Sustentável

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mapeamento da biodiversidade

A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou durante a Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 10), em Nagoya, no Japão, que o Brasil está preparando um relatório sobre o valor dos ecossistemas e da biodiversidade. O objetivo é que o documento sirva como referência para futuras decisões políticas e para o desenvolvimento de uma economia sustentável. "É importante conciliar estratégias de desenvolvimento e manutenção da biodiversidade", disse a ministra.

O relatório brasileiro terá como referência o estudo "A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês), produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e lançado durante a COP 10. O estudo internacional apontou o valor econômico de florestas, água, solo, animais, entre outros, bem como os custos ocasionados pela perda desses recursos. Segundo o Teeb, o custo anual da perda da biodiversidade fica entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões (R$ 3,6 trilhões e R$ 8,2 trilhões).
Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, a intenção é que os dados do Teeb Brasil sejam incorporados por políticas públicas, empresas privadas, setor produtivo e governos ao tomar decisões sobre agricultura, segurança alimentar, segurança energética e exploração de recursos naturais, como o pré-sal. "Este será o grande desafio deste século. A base de tudo deve ser a sustentabilidade. Creio que o relatório possa contribuir para associar todos estes temas nas discussões dos tomadores de decisão", disse Izabella.
A ministra disse ainda que o Teeb Brasil já está sendo preparado, e que os requerimentos para a adoção destas estratégias no País estão em fase de análise. "Agora nós estamos preparando os termos de referência para finalizar a negociação. Depois que forem estabelecidos os compromissos da COP 10, pretendemos desenvolver uma nova estratégia nacional baseada no Teeb como referência de uma nova economia sustentável", afirmou. (Fonte: Agência Estado, 25/10/10)

Comentário: É preciso reverter o pensamento. Não somente calcular o custo anual da perda da biodiversidade, mas sim enfatizar o valor dos serviços ambientais. Ou seja: o que o ecossistema fornece em bens e serviços para os outros seres e para nós, os humanos. Tal procedimento contribui para a superação de uma visão econômica míope e oportunista e fornece dados para confirmar a urgência do empenho pela sustentabilidade (Afonso Murad)



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Seca na Amazônia novamente

Reflita sobre esta notícia:
A seca que atinge o Amazonas desde o início de agosto já prejudicou cerca de 40 mil famílias. Segundo o governo estadual, dos 62 municípios amazonenses, 25 decretaram situação de emergência. Na última sexta-feira (08), a Defesa Civil reconheceu a situação de emergência em 21 deles.

Os municípios em situação de emergência por causa da estiagem são Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça, Tabatinga, Tonantins, Caapiranga, Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Juruá, Borba, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Tefé, Uarin, Beruri, Manacapuru, Itacoatiara, Barreirinha e Parintins.
A ação emergencial de ajuda humanitária aos municípios afetados começou esta semana com o envio de 6 toneladas de alimentos. O chefe de gabinete da prefeitura de Ipixuna, Anísio Saturnino, disse que o transporte fluvial está comprometido em função da seca dos rios. “Os barcos não podem navegar. O transporte só pode ser feito por canoa. Alguns alimentos começam a faltar”, disse. O município (localizado no sudoeste do estado) aguarda a entrega, pela Defesa Civil do estado, de cestas básicas, filtros para água e medicamentos. Muitas pessoas estão sofrendo com problemas intestinais provocados pela má qualidade da água.
A geógrafa e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, disse que a seca que atinge o Amazonas é uma condição climática extraordinária decorrente do fenômeno El Niño (aquecimento das águas do Oceano Pacífico), que ocorreu nos últimos meses de 2009 e deixou reflexos em 2010. “O El Niño de 2009 foi o pior das últimas três décadas e trouxe como consequência as fortes chuvas no Sul e a seca no Norte do país. Sempre quando ocorre um El Niño muito forte existem impactos no ano seguinte”.
Segundo Ane Alencar, a forte estiagem se deu em função também da maior frequência das secas no estado. “Desde 2000, as secas têm sido mais frequentes e mais intensas e a floresta não tem tido tempo de se recuperar”, disse. A temporada de chuvas na Amazônia, de acordo com a pesquisadora do Ipam, deve começar no fim de novembro.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil até o momento não informou que medidas serão tomadas pelo governo federal em relação aos municípios afligidos pela estiagem.
(Fonte: Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Nobel alternativo para Dom Erwin

Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu, é um dos quatro ganhadores do “Prêmio Right Livelihood 2010”, um prêmio Nobel Alternativo, que estimula o poder de mudança nas bases. Dom Erwin recebeu o prêmio "por uma vida dedicada ao trabalho com direitos humanos e ambientais dos povos indígenas, e por seu incansável esforço para salvar a Amazônia da destruição”. Dom Erwin justificou a alegria de receber o prêmio assim: “Não estou feliz em meu nome, mas por causa da Amazônia e dos povos indígenas que merecem esse reconhecimento!”.

Os outros premiados foram: a organização israelense "Médicos para os Direitos Humanos-Israel", que atua em seu próprio país e na Palestina; o nigeriano Nnimmo Bassey, de 52 anos, que "revelou os horrores ecológicos e humanos da produção de petróleo"; e o nepalês Shrikrishna Upadhyay, de 65 anos, em conjunto com a organização Sappros, que "trabalham contra as múltiplas causas da pobreza", segundo comentou o júri.

Em fevereiro deste ano, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia encaminhado uma carta à fundação Right Livelihood Award, ratificando a indicação do nome de dom Erwin Kräutler para o prêmio. De acordo com a CNBB, a indicação é um gesto de reconhecimento à atuação pastoral e profética de dom Erwin junto aos mais fracos e aos povos indígenas. Para o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, esse prêmio é uma grande homenagem a dom Erwin e também honra a própria CNBB. Trata-se de um reconhecimento internacional da grande luta de dom Erwin na defesa da vida dos povos indígenas e da própria dignidade humana destes povos.
“Dom Helder Câmara também recebeu esse prêmio na época em que vivíamos no regime ditatorial no Brasil, quando lhe foi negado o Prêmio Nobel da Paz. E agora, dom Erwin recebe esse mesmo prêmio! Quero parabenizar dom Erwin e também a nossa Igreja, por ter em seu meio um lutador pela justiça social, pelo meio ambiente e pela vida dos povos indígenas!”, declarou o Presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha.

Dom Erwin Kräutler nasceu na Áustria, em 1939. Foi ordenado sacerdote em 1964 e veio para o Brasil como missionário. Em 1978, tornou-se cidadão brasileiro (embora também mantendo a sua cidadania austríaca). Em 1980, foi nomeado bispo do Xingu, a maior circunscrição eclesiástica do Brasil. Entre 1983-1991 e, desde 2006, é o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se preocupa de modo especial com nossa população indígena.
Em outubro de 1987, alguns meses antes da decisão de concessão de plenos direitos civis para os povos indígenas na Assembléia Constituinte, dom Erwin ficou gravemente ferido em um acidente de carro supostamente planejado. Desde 2006, o bispo está sob proteção policial por causa da ameaça de morte que tem recebido devido à sua atuação pastoral, social e ambiental na região. Em parceria com ambientalistas, pesquisadores, comunidades indígenas e ONGs, Dom Erwin lutou duramente contra a implantação da usina hidrelétrica do Belo Monte, demonstrando com convincentes argumentos que ela causará enorme impacto ambiental, além de ser um investimento com pouco retorno econômico. Infelizmente, não foi ouvido pelo governo federal.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

22 de setembro: DIA MUNDIAL SEM CARRO

Hoje é o dia Mundial sem carro e o Ecologia e Fè participa do dia convidando você a aderir a esta campanha por uma mobilidade sustentável. Procure se informar sobre a programação da sua cidade ou crie um grupo de amigos e familiares e vá de bicicleta, a pé, patins, skate, patinete, tênis de rodinha com luzinhas que piscam, o que você quiser! O importante é fazer parte do Bem para o Planeta.

0 que é o Dia Mundial Sem Carro?
Um movimento que começou em algumas cidades da Europa nos últimos anos do século 20, e desde então vem se espalhando pelo mundo, ganhando a cada edição mais adesões nos cinco continentes. Trata-se de um manifesto/reflexão sobre os gigantescos problemas causados pelo uso intenso de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos, e um convite ao uso de meios de transporte sustentáveis - entre os quais se destaca a bicicleta.

Confira a programação em Belo Horizonte e participe!
Concentração na Praça da Liberdade às 18h/ 22 de setembro de 2010

18h - Concentração de Ciclistas na Praça da Liberdade.

19h - Início da pedalada;

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Queimadas

Vim de São Paulo para BH, neste final de semana
Do alto, no avião, vi vários focost de queimadas.
Fumaça, cinzas, névoa seca, destruição.
Um quadro desolador.
Nas proximidades de Brasília, passei em áreas rurais queimas. Pobre cerrado!
Até quando?
Alguns incêndios em Unidades de Conservação trazem prejuízos ambientais inestimáveis.
E a perda de biodiversidade? E a piora na qualidade do ar? E os custos para a saúde pública?
Enquanto isso, os candidatos a cargos eletivos, com raras exceções, nem colocam o tema ambiental como pauta de seus programas. Parece que, até agora, ecologia não puxa voto. Mas, é a continuidade da qualidade da vida, em toda sua extensão, que está em jogo.
Na semana passada, escutei vários programas religiosos em rádios evangélicas e católicas. A pregação era comum: curar as pessoas, restituir sua integridade. Mas, ninguém falou em curar a Terra e restituir sua integridade.
Está na hora de integrar a questão ambiental na política e na religião.
Pois está em jogo o presente e o futuro de nossa casa comum.
Afonso Murad

veja o mapa das queimadas no site: http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

10 motivos para recusar sacolas descartáveis e preservar a biodiversidade


No Ano Internacional da Biodiversidade e com a COP10 – Convenção de Diversidade Biológica prestes a acontecer, no Japão, em outubro, o tema se tornou o centro das atenções do mundo. Muito merecido, afinal, a biodiversidade envolve todos os seres vivos que habitam o nosso planeta – incluindo os seres humanos – e, num sistema interdependente como o nosso, o desaparecimento de uma espécie afeta a vida das demais.

Entre as várias atitudes que podemos tomar para preservar essa riqueza biológica da qual tanto dependemos, está a redução do uso de sacolas plásticas em nosso dia-a-dia. Aproveite para registrar, no site do Planeta Sustentável, as sacolinhas que você recusa diariamente!
Eis aqui dez motivos para você defender essa causa.
1. Os plásticos convencionais levam cerca de 400 anos para se decompor. Segundo um levantamento do Ministério do Meio Ambiente, de 2009, cada família brasileira descarta cerca de 40kg de plásticos por ano e mais de 80% dos plásticos são utilizados apenas 1 vez.
2. Por serem leves, os sacos plásticos voam com o vento para diversos locais e acabam poluindo não apenas as cidades, mas também nossos biomas, as florestas, rios, lagos e oceanos.
3. A sopa de lixo que flutua pelo oceano Pacífico contém mais de 100 milhões de toneladas, sendo que 90% são constituídos de detritos de plástico. Desse total, 80% vêm do continente.
4. Nos oceanos, as sacolas plásticas se arrebentam em pedaços menores e se tornam parte da cadeia alimentar de animais marinhos dos mais variados tamanhos. Ao ingerirmos esses animais, engolimos também resíduos de plástico que fazem mal à nossa saúde.
5. A ingestão de pedaços de sacolas plásticas já é uma das principais causas da mortes de tartarugas, que confundem o plástico com comida e têm seu aparelho digestivo obstruído. Estima-se, ainda, que em torno de 100 mil mamíferos e pássaros morram sufocados por ano por ingerirem sacos plásticos. Na Índia, cerca de 100 vacas morrem por dia por comerem sacolas plásticas misturadas a restos de alimentos.
6. Nas cidades, as sacolas descartadas de maneira incorreta entopem bueiros, provocando enchentes, que causam a morte de pessoas e animais domésticos, destroem plantas e árvores e até contribuem para que os peixes nadem para fora do leito de rios e morram.
7. Jogadas em um canto qualquer da cidade, as sacolinhas podem acumular água parada e permitir a proliferação do mosquito da dengue.
8. O plástico já é o segundo material mais comum no lixo municipal.Quando os aterros chegam à sua capacidade máxima, é preciso abrir outras áreas – que poderiam ser utilizadas para plantio de vegetação nativa, por exemplo – para o depósito de resíduos.
9. O material orgânico depositado em sacos plásticos demora mais para ser degradado e decomposto em nutrientes e minerais, que serão utilizados em outros processos biológicos.
10. Com a decomposição lenta dos resíduos orgânicos aprisionados nas sacolas plásticas, produz-se mais metano e CO2, que são liberados quando a sacola é rasgada e contribuem para a aceleração do aquecimento global.

Convencido? Então, sempre recusar uma sacolinha no supermercado, na farmácia, na padaria e onde mais te oferecerem uma, registre no Contador de Sacolas Descartáveis Recusadas, do Planeta Sustentável! Já são quase 2 milhões de sacolinhas evitadas. A biodiversidade agradece!

Especialistas consultados:
Prof. José Sabino, doutor em Ecologia pela Unicamp.
Fernanda Daltro, coord. técnica da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente.
Leia também:
Por que reduzir as sacolas plásticas?
Saco é um saco
Plástico é vida?
Fonte: Planeta sustentável
Imagem: Wikimedia Commons

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Maior iceberg desde 1962 pode ser consequência do aquecimento global

No início deste mês um iceberg de 260km² – 4 vezes o tamanho da ilha de Manhattan – se desprendeu da geleira de Petermann, na Groenlândia, a mil quilômetros ao sul do Pólo Norte. O bloco de gelo, que corresponde a um quarto do tamanho total de Petermann e tem 182,8 metros de espessura, é o maior a se soltar no Ártico desde 1962 – quando outro bloco de proporções semelhantes, o Ward Hunt Ice Shelf, no Canadá, acabou se dividindo em pedaços menores que ficaram alojados entre as ilhas do estreito de Nares, entre a Groenlândia e o Canadá.

Esse último iceberg também está alojado no mesmo estreito e pode tanto se fundir novamente à ilha, quanto se quebrar em pedaços menores ou mesmo, lentamente, se mover para o sul. Nesse caso, deve provocar mudanças nas rotas de navegação.

O pesquisador Andreas Muenchow, da Universidade de Delaware, afirmou que já esperava pelo fenômeno, mas ficou surpreso com o tamanho do iceberg. Em 2001, um iceberg de 88 Km² se soltou de Petermann e, em 2008, um outro de 26 km².

Não é possível afirmar ao certo se o fenômeno é conseqüência do aquecimento global, pois a quebra de blocos de gelo é um fenômeno comum, causado especialmente pelo fluxo do oceano sob as geleiras. Além disso, só há dados sobre a temperatura da água do mar próxima à Groenlândia de 2003 para cá.

No entanto, já se sabe que o primeiro semestre de 2010 registrou as temperaturas mais altas do planeta desde 1850 – quando se começou a fazer essa medição –, em parte por conta do fenômeno climático El Niño, em parte em função do aumento de gases de efeito estufa na atmosfera.

Fonte: Planeta sustentável
Foto: Nasa

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sancionada Política Nacional de Resíduos Sólidos


Depois de tramitar no Congresso por 21 anos, a PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em julho deste ano, pelo Senado, e sancionada, ontem, pelo presidente Lula, que afirmou que sua regulamentação precisa ocorrer dentro de 90 dias.
A partir de agora, será feita a distinção entre o conceito de resíduos – que podem ser reaproveitados ou reciclados – e rejeitos – que não podem ser reaproveitados e devem ser encaminhados a aterros sanitários. Nesses locais, não será permitido morar ou catar lixo. Também fica proibida a existência de lixões.
Com a lei, passa a valer a ideia da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Isso significa que fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos são igualmente responsáveis por dar um destino correto a todos os materiais.
Assim, fica implementada também a logística reversa, ou seja, os fabricantes dos produtos vão precisar recolhê-los após o uso dos consumidores, para reaproveitá-los na fabricação de novos produtos ou enviá-los para a reciclagem quando isso não for possível.
A lei prevê que haja cooperação técnica e financeira entre o setor público e o privado para o desenvolvimento de pesquisas que facilitem a reutilização, a reciclagem e o tratamento de resíduos e a destinação correta dos rejeitos.
Os catadores de lixo também saem ganhando. Eles devem ter seu trabalho de coleta, separação e reciclagem formalizado, uma vez que será incentivada a criação de cooperativas, que poderão prestar serviços para as prefeituras. A expectativa é de que a renda desses profissionais também aumente.
Para que tudo isso funcione, as prefeituras e os governos estaduais vão precisar se articular e criar políticas de resíduos sólidos compatíveis com a PNRS. Até porque, torna-se obrigatório fazer inventários anuais que revelem como tem sido feita a gestão dos resíduos sólidos em cada cidade, que será monitorada e fiscalizada.
Práticas de educação ambiental devem ser disseminadas para que toda a população possa contribuir para o funcionamento da lei.

Fonte: Planeta Sustentável

domingo, 27 de junho de 2010

Panorama das correntes de ética ambiental

Por que a ecologia se transformou numa questão tão importante para a humanidade? Não somente por causa da crise ambiental, mas também devido à descoberta que a humanidade deve estabelecer uma nova relação com o meio ambiente. E há várias formas de compreender a relação entre o ser humano e o meio ambiente, bem como a ética dela decorrente. Destacam-se principalmente três delas. Do ponto de vista da ética ambiental, elas são denominadas: antropocentrismo clássico, biocentrismo e bio-antropocentrismo.

A primeira visão, a antropocêntrica, considera o humano como superior a todos os outros seres. Por isso, pode-se usar do meio físico ou abiótico (água, ar, solo, energia do sol) e do meio biológico ou biótico (micro organismos, plantas e animais) sem limites.Tal concepção está na base no capitalismo clássico, que via a natureza como uma fonte inesgotável de recursos, da qual se retira tudo o que se quer e se devolve a ela os resíduos, de qualquer forma. A natureza perde assim seu caráter de alteridade e é reduzida a algo meramente instrumental. Não merece respeito, nem cuidado. Os outros seres são coisas, ou mais ainda, potenciais mercadorias que devem ser transformadas em objetos de valor.
Neste esquema, a visão individualista sobre o ser humano se projeta sobre o ecossistema. Assim, os seres são considerados fora de seu contexto e de suas relações vitais. Tal postura destruidora sobre o meio ambiente encontra uma justificativa filosófica. Ela diz assim: somente o ser humano tem liberdade, sentimentos, razão, emoção e linguagem. E, com isso, produz cultura. Portanto, somente ele é sujeito da ética. A natureza, porque não tem estas características, não necessita ser respeitada. Ela não é nem sujeito (pois não pensa), nem objeto da ética (pois não tem valor em si mesma).

No outro extremo, embora minoritário no Brasili, situa-se a corrente do “biocentrismo radical”. Ela sustenta que todos os seres têm igual valor ético. Tanto uma planta, quanto uma formiga, um pássaro ou o ser humano estão no mesmo nível. Colabora com o biocentrismo a visão de Lovelock, que afirma ser a Terra um superorganismo vivo, denominada “Gaia”. E se a humanidade continuar maltratando e ameaçando destruir Gaia, ela poderá expulsá-lo!
É comum ver alguns defensores do biocentrismo radical atuando na defesa da Amazônia, sobretudo de ONGs internacionais. Eles estão preocupados em conservar a floresta, as águas, os animais; enfim, o ciclo da vida. Mas dificilmente incluem as populações que habitam a Amazônia, como os povos indígenas, os ribeirinhos e as populações urbanas. Acusa-se os biocentristas de conceber uma ecologia sem levar em conta os seres humanos, principalmente os pobres.
Hoje, o biocentrismo tem amadurecido muito. Um grupo recente defende que os seres bióticos ou abióticos devem ser valorados não em si mesmos, mas em relação com o ecossistema. Ou seja, como contribuem para a continuidade da vida no planeta. Articula-se melhor a questão ecológica com a questão cultural e humana. A grande contribuição da ética biocêntrica reside em perceber que os outros seres não são coisas, mercadorias, meros objetos da manipulação humana. Eles tem alteridade, são um “outro”, diferentes de nós. Por isso, merecem ser respeitados. Esta ética também dá suporte para a criação da legislação ambiental. Elabora-se o conceito de “delito” ambiental: quem provoca impacto negativo sobre o ecossistema, deve ser punido pela lei. O meio ambiente ganha valor não somente porque a humanidade precisa dele para sobreviver, mas porque é importante em si mesmo. O ser humano não está mais sozinho no centro do universo.

No mundo se desenvolveu uma terceira corrente ética, que denominamos bio-antropocêntrica. Ela adquire vários nomes, devido a distintos acentos. Para alguns, é “antropocêntica aberta”, pois mantém o ser humano no centro, mas não sozinho. Ele é compreendido na interdependência com os outros seres. Fruto do processo de evolução do cosmos na Terra, o ser humano deve assumir sua responsabilidade pelo “nosso futuro comum”. Para outros, trata-se de uma corrente “biocêntrica humanista”, pois coloca a vida no centro e considera o lugar único do homem e da mulher como sujeitos de hermenêutica (interpretação) e de práxis (prática transformadora).
Um terceiro segmento sustenta que as questões ambientais, cada vez mais importantes para a humanidade, devem ser compreendidas em estreita relação com a cultura humana e as questões sociais. Embora “compromisso ecológico” e “compromisso social” tenham seu âmbito próprio e questões específicas, estão cada vez mais ligados. Fala-se então de engajamento socioambiental. Esta corrente critica a economia de mercado, que simultaneamente destrói as culturas dos “povos de raiz”, dilapida o meio ambiente e cria uma multidão crescente de excluídos. Por isso, defende que as pessoas e os grupos que estão engajados na mudança da sociedade necessitam também de nova postura com relação ao meio ambiente. Os defensores da ecologia, de sua parte, devem incluir a luta pelos direitos humanos dos pobres.
A conjugação do social com o ambiental acontece em vários movimentos, como as associações de recicladores, os grupos de socioeconomia solidária e algumas pastorais sociais da Igreja. Assim, quando um ambientalista levanta a bandeira de defesa de determinado bioma, leva em conta também as população humanas que interagem com aquele ambiente.

Cremos que a ética sócioambiental, incorporando os elementos do antropocentrismo moderno, e relendo-os à luz de uma visão integradora, ecológica e holográfica, é a mais adequada para responder aos desafios do atual momento histórico.

Afonso Murad
Texto adaptado do artigo Ecologia e Missão, in: A missão em Debate, Paulinas, 2010, p.117-119.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soltar balão é crime ambiental

O fim de semana junino não foi de festa. Por volta das 22 horas do último sábado, o Morro dos Cabritos e o Parque da Catacumba, próximos à Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, pegavam fogo. Além de por as pessoas em risco, o incêndio destruiu boa parte da Área de Preservação Permanente de Mata Atlântica. Uma área equivalente a quatro estádios do tamanho do Maracanã foi afetada.
O motivo: a queda de um “balão de São João”. Ao todo, foram registrados nove pontos de incêndio na capital fluminense. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, se comprometeu a reflorestar a região atingida.
Mesmo com as campanhas realizadas há 11 anos pelo Disque-Denúncia do Rio de Janeiro, só neste primeiro semestre o órgão recebeu 236 denúncias de soltura de balões. No ano passado, foram 660.
A prática de soltar balões, assim como a fabricação e o transporte, são considerados crimes ambientais e, segundo a Lei 9605/98, têm pena de um a três anos de prisão. No entanto, como a penalidade é afiançável – varia de R$1 mil a R$10 mil – e a possibilidade de flagrante é pequena, ninguém vai, de fato, para a cadeia.
Nesta segunda-feira, o Disque-Denúncia aumentou para R$2 mil a recompensa para quem der informações sobre fabricantes, comerciantes e baloeiros no estado do Rio de Janeiro.
O telefone é (21) 2253-1177 (21) 2253-1177
O Batalhão Florestal também pode ser procurado pelos telefones (21) 2701-8262
(21) 2701-8262 ou (21) 2701-0832 (21) 2701-0832

sábado, 29 de maio de 2010

Música sobre Objetivos do Milênio embalará jogos da Copa do Mundo


Nada de Shakira ou Cláudia Leitte… se depender da campanha 8 Goals For Africa, da ONU, a música-tema da Copa do Mundo de 2010 será uma canção que fala sobre os oito ODMs – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
A música, que leva o mesmo nome da campanha – “8 Goals For Africa” –, será exibida em toda a África do Sul, nos estabelecimentos públicos onde os torcedores se reunirão para assistir aos jogos da Copa, e também será transmitida por canais de TV e emissoras de rádio do mundo inteiro.
Gravada, apenas, por artistas africanos, a canção possui oito versos e cada um deles faz referência a um ODM.
São eles:
1 ) erradicar a extrema pobreza e a fome;
2 ) atingir o ensino básico universal;
3 ) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
4 ) reduzir a mortalidade na infância;
5 ) melhorar a saúde materna;
6 ) combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças;
7 ) garantir a sustentabilidade ambiental e
8 ) estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Neste ano, os ODMs completam uma década e o prazo para serem cumpridos se esgota em cinco anos. Sendo assim, a intenção da ONU é utilizar a Copa do Mundo – um evento de grande repercussão e que reúne pessoas de todo o tipo – para chamar a atenção da população para os Objetivos.
Além disso, a mobilização tem um motivo especial: em setembro desse ano, líderes mundiais que assinaram a Declaração do Milênio, em 2000, se reunirão em Nova York para dizer o que fizeram até agora e como pretendem alcançar os ODMs em cinco anos e, como sempre, a pressão da sociedade será fundamental para que esse líderes cumpram suas promessas com mais vontade.
Assista ao clipe da música, abaixo, e conte pra gente: o que você achou da iniciativa da ONU?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A poluição que ninguém vê


Quando passamos ao lado de um rio poluído, o mau cheiro denuncia a péssima qualidade da água. A cor escura ou a presença de espuma também apontam que algo vai mal. Mas o que fazer quando a poluição não pode ser vista com facilidade? A água parece limpa, mas está contaminada por um tipo de poluente praticamente invisível, difícil de detectar, não legislado no Brasil e com efeitos em grande parte desconhecidos. Essa é a nova preocupação dos cientistas que estudam os agentes poluidores da água e, consequentemente, seus efeitos sobre a vida. As substâncias se reúnem sob o nome de contaminantes emergentes e estão presentes em bens de consumo da vida moderna, como protetores solares, remédios, materiais para retardar chamas, pesticidas e nanomateriais. “Ainda há poucos estudos na área, mas devido às aglomerações urbanas e ao saneamento precário, que aumentam a concentração dessas substâncias, elas podem trazer riscos ao ambiente e à saúde”, diz Wilson Jardim,pesquisador do Laboratório de Química Ambientalda Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, são conhecidos cerca de três milhões de compostos sintéticos - número que aumenta entre 5% e 10% todos os anos. Em média, 200 toneladas deles são produzidas nesse período, sendo que entre 20% e 30% podem contaminar a água e atingir os animais e o homem. Hormônios também poluem Alguns dos compostos emergentes mais estudados são os hormônios. Por fazer parte da nossa vida, parecem inofensivos. Mas o crescimento das metrópoles e o despejo de esgoto nos rios aumentaram sua concentração na água que usamos. O fenômeno é causado tanto por hormônios naturalmente excretados pelas mulheres, quanto por substâncias presentes em plásticos, agrotóxicos e pílulas anticoncepcionais. “Todas elas têm ação estrogênica e mesmo quando não são hormônios reais, agem no corpo de forma parecida”, diz Mércia Barcellos da Costa, bióloga da Universidade Federal do Espírito Santo. Segundo a pesquisadora, um desses compostos, o tributilestanho (TBT), provoca mudança de sexo de algumas espécies de animais. Ele é usado para revestir cascos de navios e evitar a incrustação por algas, mexilhões, cracas etc. Ainda há muita controvérsia sobre os efeitos da exposição prolongada em humanos. Suspeita-se que o contato com a água com excesso de hormônios esteja antecipando a menstruação das meninas. Ela também poderia deixar os homens mais femininos e até causar câncer. Por enquanto, nenhuma dessas hipóteses foi confirmada. Estudos internacionais nas áreas de biologia e química constataram modificações anatômicas sérias em animais que vivem em regiões com água contaminada. No mundo, cetáceos como golfinhos e baleias estão contaminados e foram descritas mutações em moluscos e crustáceos. “São modificações que podem comprometer a reprodução de uma espécie e causar até mesmo sua extinção”, diz Mércia. Ela verifi cou o desaparecimento de populações inteiras de moluscos no litoral capixaba. Bruno Sant’Anna, biólogo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), também se deparou com alterações nos caranguejos ermitões de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo. ”Comecei a investigar e percebi que as fêmeas da espécie estavam se masculinizando. Isso acontece em 2% a 8% das populações dos ermitões”, afirma. Não por acaso, as regiões mais afetadas são próximas a portos, já que os navios carregam a substância, que é considerada tóxica e se acumula nos organismos por longos períodos.
O risco nos tubos invisíveis Entre os poluentes menos estudados estão os nanomateriais, que compõem diversos produtos da indústria. Algumas experiências mostram que compostos como os dióxidos de titânio, presentes em corantes e protetores solares, podem causar danos ao comportamento natatório e à frequência cardíaca de crustáceos, além de matar algas. No Brasil, há estudos sobre o potencial tóxico das partículas microscópicas. O grupo de pesquisa do biólogo José Monserrat, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), comprovou recentemente que o excesso de fulereno, um composto nanométrico, é capaz de causar danos cerebrais às carpas de laboratório. Quando chega ao órgão, ele altera seu potencial antioxidante, essencial para preservar os neurônios. O composto é usado pela indústria automobilística e está em pilhas, plásticos e óculos.
Um dos problemas com os contaminantes emergentes é a falta de um padrão de qualidade nas regulamentações do Ministério da Saúde, que estabelece indices para a potabilidade da água. Com isso, um poluente é ou não contaminante, dependendo da dosagem. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estuda como filtrar os componentes perigosos, mas espera o ministério estabelecer a quantidade que deve ser removida da água.
COMO SE LIVRAR DOS POLUENTES:  Osmose reversa, oxidação química, carvão ativado e ozonólise são formas de limpar poluentes invisíveis. Em algumas empresas desaneamento, a osmose reversa já é usada para remover outros tipos de poluentes. O desafio é levar essas formas de limpeza à maioria das estações. “Elas precisam ter suas linhas de tratamento modificadas, o que envolve investimentos elevados”, diz Américo Sampaio, gerente do departamento de inovação da Sabesp.
FONTE: Planeta Sustentável

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cosmologias em conflito

Leonardo Boff
O prêmio Nobel em economia Joseph Stiglitz disse recentemente:"O legado da crise ecômico-financeira será um grande debate de idéias sobre o futuro da Terra". Concordo plenamente com ele. Vejo que o grande debate será em torno das duas cosmologias presentes e em conflito no cenário da história. Por cosmologia entendemos a visão do mundo - cosmovisão - que subjaz às idéias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Cada cultura possui sua respectiva cosmologia. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo e definir o lugar do ser humano dentro dele.

A nossa atual é a cosmologia da conquista, da dominação e da exploração do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta cosmovisão, criaram-se inegáveis benefícios para a vida humana mas também contradições perversas como o fato de que 20% da população mundial controlar e consumir 80% de todos os recursos naturais, gerando um fosso entre ricos e pobres como jamais havido na história. Metade das grandes florestas foram destruidas, 65% das terras agricultáveis, perdidas, cerca de 5 mil espécies de seres vivos anualmente desaparecidas e mais mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, lançados no solo, no ar e nas águas. Construiram-se armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana. O efeito final é o desequilíbrio do sistema-Terra que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, até 2035 fatalmente se chegará a 2 graus Celsius, e se nada for feito, segundo certas previsões, serão no final do século 4 ou 5 graus, o que tornará a vida, assim como a conhecemos hoje, praticamente impossível.

A predominância dos interesses econômicos especialmente especulativos, capazes de reduzirem paises à mais brutal miséria e o consumismo trivializaram nossa percepção do risco sob o qual vivemos e conspiram contra qualquer mudança de rumo. Em contraposição, está comparecendo cada vez mais forte, uma cosmologia alternativa e potencialmente salvadora. Ela já tem mais de um século de elaboração e ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Deriva-se das ciências do universo, da Terra e da vida. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou a partir do big bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade, a transformação e a adaptabilidade e não a imutabilidade e a permanência. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para coevoluirem e garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e anima o universo e faz surgir emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e nós humanos como a porção consciente e inteligente dela e com a missão de cuidá-la.

Vivemos tempos de urgência. O conjunto das crises atuais está criando uma espiral de necessidades de mudanças que, não sendo implementadas, nos conduzirão fatalmente ao caos coletivo e que assumidas, nos poderão elevar a um patamar mais alto de civilização. É neste momento que a nova cosmologia se revela inspiradora. Ao invés de dominar a natureza, nos coloca no seio dela em profunda sintonia e sinergia. Ao invés de uma globalização niveladora das diferenças, nos sugere o bioregionalismo que valoriza as diferenças. Este modelo procura construir sociedades autosustentáveis dentro das potencialidades e dos limites das bioregiões, baseadas na ecologia, na cultura local e na participação das populações, respeitando a natureza e buscando o "bem viver" que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra. O que caracteriza esta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e os direitos e a dignidade da natureza e não sua exploração.

A força desta cosmologia reside no fato de estar mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se optarmos por ela, criar-se-á a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganharão centralidade. Será a grande virada salvadora que urgentemente precisamos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Os limites da sujeira na terra

Análise feita por cientistas de universidades calcula quanta poluição, destruição e exploração o planeta agüenta.
Veja infográfico abaixo.
Fonte Planetary Boundaries: Exploring the Safe Operating Space for Humanity. Universidades de Oxford, Califórnia, Minnesota, Vermont, Arizona, Alasca, Copenhague, Estocolmo, East Anglia, Wageningen, Louvain, James Cook, Universidade Nacional da Austrália e Nasa.
*Unidades Dobson, que medem a densidade da camada de ozônio.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Conferência Mundial dos Povos

Leonardo Boff participou recentemente da Conferência Mundial dos Povos, na Bolívia.
Eis seu relato sobre o evento, e as reflexões daí decorrentes.

Como é sabido, em dezembro de 2009 realizou-se em Copenhague a Conferência Mundial dos Estados sobre o Clima. Não se chegou a nenhum consenso porque foi dominada pela lógica do capital e não pela lógica da ecologia. Isso significa: os delegados e chefes de Estado presentes representavam mais seus interesses econômicos que seus povos. A questão para eles era: quanto deixo de ganhar aceitando preceitos ecológicos que visam purificar o planeta e assim garantir as condições para a continuidade da vida. Não se via o todo, a vida e a Terra, mas os interesses particulares de cada pais.
A lógica ecológica vê o interesse coletivo, pois visa o equilíbrio entre ser humano e natureza, entre produção, consumo e capacidade de recomposição dos recursos e serviços da Terra. Rompendo esta equação, coisa que o modo de produção capitalista já vem fazendo há séculos, surgem efeitos não desejados, chamados de "externalidades": devastação da natureza, graves injustiças sociais, desconsideração das necessidades das futuras gerações e o efeito irreversível do aquecimento global que, no limite, pode pôr tudo a perder.

Em Cochabamba, na Bolívia, viu-se exatamente o contrário: o triunfo da lógica da ecologia e da vida. Nos dias 19-23 de abril celebrou-se a Cúpula Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra. Ai estavam 35.500 representantes dos povos da Terra, vindos de 142 países. A centralidade era ocupada pela Terra, tida como Pacha Mama, grande Mãe, sua dignidade e direitos, a vida em toda sua imensa diversidade (superação de qualquer antropocentrismo), nossa responsabilidade comum para garantir a condições ecológicas, sociais e espirituais que nos permitem viver, sem ameaças, nesse planeta. As 17 meses de trabalho, ao contrário de Copenhague, chegaram a um extraordinário consenso, pois todos tinham na mente e no coração o amor à vida e à Pacha Mama "com a qual todos temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual" como diz o documento final.No lugar do capitalismo competitivo, do progresso e do crescimento ilimitado, hostil ao equilíbrio com a natureza, se colocou "o bem viver", categoria central da cosmologia andina, verdadeira alternativa para a humanidade que consiste: viver em harmonia consigo mesmo, com os outros, com a Pacha Mama, com as energias da natureza, do ar, do solo, das águas, das montanhas, dos animais e das plantas e em harmonia com os espíritos e com a Divindade, sustentada por uma economia do suficiente e decente para todos, incluidos os demais seres.

Elaborou-se uma Declaração dos Direitos da Mãe Terra que prevê entre outros: o direito à vida e à existência; o direito de ser respeitada; o direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas; o direito a manter sua identidade e integridade com seus seres diferenciados e interrelacionados; o direito à água como fonte de vida; o direito ao ar limpo; o direito à saúde integral; o direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e radioativos; o direito a uma restauração plena e pronta das violações inflingidas pelas atividades humanas. Previu-se também a criação de um Tribunal Internacional de Justiça Climática e Ambiental, com capacidade jurídica e vinculante de prevenir, julgar e sancionar os Estados, empresas e pessoas por ações ou omissões que contaminem e provoquem mudanças climáticas e que cometam graves atentados aos ecossistemas que garantem o "bem viver".

Resolveu-se levar os resultados desta Cúpula dos Povos à ONU para que seus conteúdos sejam comtemplados na próxima Conferência Mundial a realizar-se em novembro/dezembro deste ano em Cancún no México. O significado mais profundo desta Cúpula é a convicção, crescente entre os povos, de que não podemos mais confiar o destino da vida e da Terra aos chefes de Estado, reféns de seus dogmas capitalistas. O Brasil lamentavelmente não enviou nenhum representante, pois para o atual governo parece ser mais importante a "aceleração do crescimento" que garantir o futuro da vida.
Esta Cúpula dos Povos apontou a direção certa: para uma biocivilização em equilíbrio de todos com todos e com tudo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

10 anos de Carta da Terra

N dia 22/4/2010, o Dia da Terra, teve início, em diferentes lugares do mundo, as comemorações dos dez anos da Carta da Terra, declaração de princípios éticos para a construção de um mundo pacífico e sustentável.
Assista o vídeo e busque saber mais sobre a Carta da Terra.
A Carta da Terra começa com você!


Para saber mais:
* Carta da Terra
* Carta da Terra Internacional

terça-feira, 20 de abril de 2010

22 de abril: dia da Mãe Terra

Há 40 anos, pessoas do mundo todo comemoram, em 22 de abril, o Dia da Terra. Mas, a ONU nunca o celebrou oficialmente. No ano passado, o presidente da Bolívia, Evo Morales, sugeriu que o órgão proclamasse a data como o Dia Internacional da Mãe Terra. A proposta foi acatada por unanimidade na Assembléia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, no próprio dia 22.
Na época, Morales elogiou a decisão dizendo que: “Sessenta anos depois da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Mãe Terra está, agora, finalmente tendo seus direitos reconhecidos”.
A nomenclatura é inspirada na própria tradição boliviana de chamar o planeta de Pacha Mama, que na linguagem quíchua quer dizer “Mãe do Mundo”, em referência à divindade máxima dos povos andinos.
O presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas, Miguel D’Escoto Brockmann, comentou que “todos nós viemos da Terra e para a Terra retornaremos. Durante nossa vida aqui, a Terra nos sustenta e toma conta de nós, purificando o ar que respiramos e provendo alimentos saudáveis para nossa sobrevivência. É por isso que eu amo ouvir nossa Terra sendo chamada de ‘Mãe Terra’”.
Brockmann ainda acrescentou que a inclusão está no coração do Dia Internacional da Mãe Terra, e que a divisão de responsabilidades para reconstruir nossa complicada relação com a natureza é o que vem unindo as pessoas ao redor do mundo. Especialmente neste momento em que os cientistas temem estarmos nos aproximando de um ponto em que os danos ambientais se tornem irreversíveis.
O presidente boliviano espera agora que seja redigida uma Declaração dos Direitos da Mãe Terra, em que se contemple o direito à vida para todos os seres vivos, à regeneração da biodiversidade do planeta, à vida limpa, livre de contaminação e poluição, e o direito à harmonia e ao equilíbrio entre todas as coisas.

Fonte: Planeta Sustentável
Foto: NASA

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Forum Mudanças Climáticas e Justiça Social

Publicamos aqui as conclusões do Forum, acontecido em Brasília, no inicio de abril.

Vivemos um momento da história da humanidade em que está em risco o futuro das mais diversas formas de vida no planeta terra, inclusive do ser humano. A conjugação simultânea das crises atuais e, especialmente a questão ecológica, tem desencadeado tragédias de enormes proporções, o que impõe a urgente adoção de medidas que envolvam a todos.
Preocupa-nos profundamente o impacto desproporcional que as mudanças climáticas, provocadas pela ação do ser humano no planeta, têm causado nas populações mais pobres e vulneráveis que vivem permanentemente em áreas e situações de risco.
Estas pessoas que vivem em situações de pobreza têm mostrado grande capacidade de resistência e de sobrevivência diante do impacto das mudanças do clima sobre suas vidas e seu sustento. No entanto, estão chegando rapidamente a um limite, a partir do qual já não mais poderão sequer adaptar-se a novas formas de vida.

Não bastasse o fato de que as mudanças climáticas afetam a vida do planeta como um todo, os que menos contribuíram para que chegássemos a tal situação são os que mais sofrem suas consequências. Os refugiados pelas alterações climáticas já somam a 45 milhões de pessoas.
Neste sentido, por um lado é crucial que enfrentemos o debate sobre as alterações climáticas numa perspectiva de desenvolvimento, porém, centrada nas pessoas, em seus direitos, respeitando e promovendo a equidade e a justiça social. Por outro lado, para se alcançar uma justiça eficaz, as indústrias poluidoras devem pagar pelos seus atos e os principais responsáveis pelo aumento das temperaturas mundiais devem assumir as suas responsabilidades para enfrentar essa ameaça global.

Para o Brasil, o maior desafio é continuar o desenvolvimento sem aumentar a emissão de gases de efeito estufa e incluir socialmente grandes segmentos da população sem aumentar a crise do clima. Coloca-se aí o maior dos impasses: o debate sobre a construção de outro paradigma de desenvolvimento que seja efetivamente justo, sustentável e responsável com a natureza e com as futuras gerações.
Fazer este debate significa, de um lado, ampliar e qualificar a discussão sobre tecnologias e matriz energética realmente limpa; significa também buscar uma economia de baixa emissão de gases de efeito estufa, e uma nova racionalidade para o consumo humano, bem como garantir a seguridade e soberania alimentar e os demais direitos sociais das populações e povos.
Por outro lado, faz-se necessário a criação de um mecanismo de governança mundial equitativo e transparente que represente os países pobres e em desenvolvimento e que faça a gestão e o controle dos fundos para mudanças climáticas. Faz-se necessário construir mecanismos que contribuam para um modelo de desenvolvimento que tenha como base a agroecologia, uma matriz energética diversificada e descentralizada e o reconhecimento e valorização das práticas tradicionais baseadas na convivência entre produção e preservação ambiental. Faz-se necessário promover a sustentabilidade e dignidade do desenvolvimento humano, especialmente das populações mais vulneráveis, e a integridade dos processos ecológicos, mediante a transformação da economia e o fortalecimento da democracia.

Diante da gravidade das mudanças climáticas, este Fórum propõe:
a) Ampliar o conhecimento e monitorar os impactos sociais e ambientais das mudanças climáticas e do aquecimento global, averiguar suas causas e suas consequências, tendo prioritariamente como referência a sabedoria dos povos tradicionais e a opinião das pessoas que já passam por situações graves relacionadas ao assunto, bem como os estudos de cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
b) Desenvolver ações conjuntas e abrangentes, para enfrentar os problemas decorrentes do aquecimento e encontrar alternativas de adaptação para as populações, especialmente as mais pobres que são as mais violentamente atingidas.
c) Opor-se radicalmente ao projeto de construção da usina de Belo Monte, no Estado do Pará, considerando ser este empreendimento altamente depredador da natureza e das populações locais.
d) Reafirmar nossa corresponsabilidade em relação ao cuidado com a integridade da criação, obra divina, como imperativo da fé cristã.

Na solidariedade com a Terra crucificada em sua desafiante paixão, na certeza da força da páscoa da ressurreição, reafirmamos nosso permanente compromisso em defesa da vida no planeta e do planeta terra.
Brasília – DF, 7 de abril de 2010.

domingo, 11 de abril de 2010

Mudanças climáticas e Epidemias

Partilhamos com você um artigo do Dr. Dráuzio Varella, intitulado: "Tempestades, calor e epidemias".

FICO DESNORTEADO quando escuto falar de aquecimento global. Ouço as justificativas dos que o consideram uma ameaça à vida na Terra e fico com a impressão de que estão certos (...) A ignorância crassa em climatologia não é a única culpada de minha incapacidade de interpretar os estudos que servem de base para conclusões tão díspares. Os interesses econômicos, a politização e as paixões envolvidas nesse debate confundem e dificultam o entendimento. Sem me envolver nessas controvérsias, no entanto, tomo a liberdade de resumir um artigo que acaba de ser publicado na revista "The New England Journal of Medicine" pela infectologista Emily Shuman, da Universidade de Michigan, sob o título "Mudanças Climáticas Globais e Doenças Infecciosas".

De forma bem simplificada, leitor, podemos dizer que as mudanças do clima acontecem como resultado do desequilíbrio entre as radiações que penetram e as que deixam a atmosfera. Ao entrar na atmosfera, parte das radiações solares é absorvida pela superfície da Terra e reemitida como radiação infravermelha.Esses raios infravermelhos acabam absorvidos pelos gases liberados principalmente pelos combustíveis fósseis (metano, gás carbônico, óxido nitroso e outros), que deixaram de ser removidos da atmosfera por causa do desmatamento e da produção excessiva. Como esse processo de absorção gera calor, recebe o nome de efeito estufa. Porque a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento atingiram níveis altos, as temperaturas globais têm subido num ritmo mais rápido do que em qualquer época, desde que começaram a ser medidas nos anos 1850. E, as estimativas são de que ainda aumentem de 1,8 ºC a 5,8 ºC, até o fim deste século.
O aquecimento modificará o ciclo da água. Uma vez que o ar mais quente retém mais água do que o frio, em algumas regiões haverá muita chuva; em outras, as secas se repetirão. Tempestades e ondas de calor insuportável serão cada vez mais frequentes.Tais variações climáticas terão forte impacto na incidência das doenças transmitidas por insetos e naquelas disseminadas através da água contaminada. Os insetos se tornam mais ativos no calor. O mosquito da malária, por exemplo, requer temperaturas acima de 16 ºC para completar seu ciclo de vida e necessita de água para botar os ovos. Temporadas de calor e chuvas torrenciais poderão causar milhões de novos casos da doença.Ao contrário, epidemias como as do vírus do Nilo Ocidental, doença transmitida ao homem por mosquitos que picaram pássaros infectados, costumam disseminar-se nas secas, quando aves e insetos ficam mais próximos dos poucos reservatórios de água remanescentes.Já há evidências de que mudanças climáticas introduziram epidemias em regiões anteriormente livres delas. É o caso da malária que hoje se espalha pelas terras altas do leste africano em razão de um clima muito mais quente e úmido do que o habitual na área.Da mesma forma, diarreias epidêmicas, parasitoses intestinais e outras enfermidades transmissíveis por meio da água contaminada têm sua incidência aumentada, tanto por causa das dificuldades de saneamento nas secas, quanto por contaminação com esgotos, lixo e dejetos de animais durante as enchentes.

No ano 2000, a Organização Mundial da Saúde calculou que doenças atribuíveis a mudanças climáticas haviam sido responsáveis pela perda de 188 milhões de anos de vida por morte prematura ou incapacidade física, apenas na América Latina e Caribe; na África, foram 307 milhões de anos; no sudeste asiático, 1,7 bilhão. Esses números contrastam com os dos países industrializados: 8,9 milhões.Independentemente das especulações sobre o futuro do clima, fica claro que os mais pobres já estão pagando a conta do desmatamento e das emissões de gases dos países desenvolvidos e das economias que crescem em ritmo acelerado como a chinesa e a indiana.

domingo, 4 de abril de 2010

Ressurreição, nova criação

No começo, Deus criou o céu e a terra.
Pôs em movimento um processo evolutivo, ainda aberto.
Deste processo, animado pelo Espírito divino, pela sua Palavra, surge o ser humano.
Imagem e semelhança de Deus, criatura, filho da Terra, jardineiro da criação.
E a história se desenrolou, com luzes e trevas, Graça e des-graças..
E, um dia, o Filho de Deus veio habitar este mundo.
Provou suas belezas e limitações.
Viveu no meio de homens e mulheres, abrindo o caminho de um novo jeito de ser.
Mas foi cruelmente assassinado, em morte violenta.
Acabou a esperança? Não.
A madrugada da ressurreição anuncia a “Nova criação”
O sonho de Deus para nossa Terra não é reduzi-la a uma tumba,
E sim desenvolver suas potencialidades de jardim.
Jesus ressuscitado inaugura neste mundo a vitória de Deus e das forças do BEM.
Sua luz atinge todas as criaturas: os seres bióticos (água, solo, ar, energia), os seres vivos (microorganismos, plantas e animais) e os humanos.
O ressuscitado aparece a Maria Madalena, que o confunde com o jardineiro.
Ele de fato é o jardineiro da nova criação.
Ainda é tempo de transformar o nosso planeta em Jardim!
A luz da ressurreição ilumina com luz nova a luta pela sustentabilidade.
Aleluia!

Texto: Afonso Murad
Imagem: Romero Brito

segunda-feira, 29 de março de 2010

Diretor de "Avatar" pede que Brasil desista de hidrelétrica

No último dia do Fórum Internacional de Sustentabilidade, realizado em Manaus, o diretor do premiado filme "Avatar", James Cameron, "implorou" ao presidente Lula que reconsidere a intenção de construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. O cineasta comparou a luta dos índios caiapós e ribeirinhos, que se opõem à usina, à dos Na'vi, povo criado por ele no filme e que vive na floresta de Pandora.
"Belo Monte ameaça destruir grandes territórios e a barragem será a terceira do mundo. Foi aprovada recentemente pelo governo brasileiro e vai mudar a direção do rio Xingu, afetar as populações e os caiapós, que lutaram muito para defender seus direitos à propriedade", disse Cameron."O que temos aqui são povos ameaçados, como os Na'vi. Mas eles não têm pessoas aladas, como no filme."
Em estudo da ONG ambientalista WWF, disse ele, ficou demonstrado que, se o Brasil for investir em eficiência de energia, poderia gerar 14 vezes mais energia.
"Eu imploro que o governo Lula reconsidere esse projeto e depois, eu imploro para ele se envolver em grupos que estão lutando por causas ambientais e direitos indígenas", disse.
O governo brasileiro já anunciou que o leilão da hidrelétrica de Belo Monte será em abril.
James Cameron disse que tomou conhecimento dos impactos ambientais que vão ocorrer com a construção de Belo Monte pela ONG Amazon Watch, que trabalha com indígenas.
Após finalizar a conferência, Cameron foi homenageado por índios das etnias saterê, dessana e ticuna, entre eles, Jecinaldo Barbosa, que estava com o rosto pintado de urucum e usava um cocar. O cineasta chegou a chorar por isso. Barbosa, porém, não vive mais na floresta. É secretário de Política Indígena do AM e candidato a deputado estadual pelo PMN -na vida cotidiana, veste-se de calça jeans e camiseta.

Fonte: Folha de São Paulo, 28/03/2010.

domingo, 21 de março de 2010

Hora do Planeta 2010. Participe!

No sábado, 27 de março, entre 20h30 e 21h30 (hora de Brasília), o Brasil participa oficialmente da Hora do Planeta. Das moradias mais simples aos maiores monumentos, as luzes serão apagadas por uma hora, para mostrar aos líderes mundiais nossa preocupação com o aquecimento global.
A Hora do Planeta começou em 2007, apenas em Sidney, na Austrália. Em 2008, 371 cidades participaram. No ano passado, quando o Brasil participou pela primeira vez, o movimento superou todas as expectativas. Centenas de milhões de pessoas em mais de 4 mil cidades de 88 países apagaram as luzes. Monumentos e locais simbólicos, como a Torre Eiffel, o Coliseu e a Times Square, além do Cristo Redentor, o Congresso Nacional e outros ficaram uma hora no escuro. Além disso, artistas, atletas e apresentadores famosos ajudaram voluntariamente na campanha de mobilização. Clique aqui e veja a lista de quem já aderiu.
Em 2010, com a sua participação, vamos fazer uma Hora do Planeta ainda mais fantástica!
Existem diversas formas de participação. A primeira delas é se cadastrar. Clique aqui e informe os dados necessários. É bem rápido. O cadastro dos participantes é a principal maneira que temos de avaliar quantas pessoas apagaram as luzes. Os participantes brasileiros serão somados com os de outros países, formando uma grande corrente pelo futuro do planeta. Os nomes das empresas cadastradas vão aparecer na página Quem Já aderiu. Clique aqui e veja a lista de quem já aderiu.

O próximo passo é espalhar a mensagem da Hora do Planeta para o maior número possível de pessoas. Convide familiares, amigos, colegas e membros da sua comunidade para participarem também.Se você utiliza as mídias sociais, como Orkut, Twitter, Youtube e Facebook, use essas ferramentas para falar com os seus amigos. Publique as notícias sobre a Hora do Planeta produzidas pelo WWF-Brasil. Dê o link para vídeos e fotos sobre o movimento postados na internet.

Saiba o que acontece no mundo inteiro na Hora do Planeta. Clique aqui ou acesse www.earthhour.org.


sábado, 13 de março de 2010

Ecologia Social

Trechos do artigo de Leonardo Boff

(..) Eduardo Gudynas define assim a ecologia social: "é o estudo dos sistemas humanos em interação com seus sistemas ambientais", Os sistemas humanos abarcam os seres humanos individuais, as sociedades e sistemas sociais. Os sistemas ambientais comportam componentes naturais (florestas, desertos, cerrados), civilizacionais (cidades, fábricas) e humanos (homens, mulheres, crianças, etnias, classes..).

As principais questões da ecologia social
Os postulados básicos ecologia social são os seguintes:
l. O ser humano sempre interage intensamente com o ambiente. Nem o ser humano nem o ambiente podem ser estudados separadamente. Há aspectos que somente se compreendem a partir desta interação mútua, particularmente as florestas secundárias,toda a gama de sementes (milho,trigo,arroz etc) e de frutas que são resultado de milhares de anos de trabalho sobre sua genética.
2. Esta interação é dinâmica e se realiza no tempo. A história dos seres humanos é inseparável da história de seu ambiente e de como eles inter-agem.
3. Cada sistema humano cria seu adequado ambiente. É diferente e possui simbolizações singulares, por exemplo,o ambiente próprio habitado pelos yanomamis, pelos seringueiros ou pelos latifundistas, pelos europeus ou pelos indianos.
4. A ecologia social se interessa por tais questões como: Através de que instrumentos os seres humanos agem sobre a natureza: com tecnologia intensiva, como por exemplo com agrotóxicos ou com adubos orgânicos? De que forma os seres humanos se apropriam dos recursos naturais, de forma solidária, participativa ou elitista, com tecnologias não socializadas? Como são eles distribuídos, de forma eqüitativa,consoante o trabalho de cada um,atendendo as necessidades básicas de todos ou de forma elitista e excludente? Uma distribuição desigual afeta de que maneira os grupos humanos? Que tipo de discurso usa o poder para justificar a concentração em poucas mãos, por isso, sua relação de desigualdade que tende à dominação? Como reagem os movimentos sociais no confronto com o estado e com o capital e para melhorar a qualidade de vida no trabalho, na cidade e no campo?

Pertence à discussão da ecologia social, a miséria e a pobreza das populações periféricas,a concentração de terras no campo e na cidade,as técnicas agrícolas e agropecuárias, o crescimento populacional e o processo de inchamento das cidades,o comércio internacional de alimentos e o controle de patentes, a produção do buraco de ozônio,o efeito estufa, a dizimação das florestas tropicais e a ameaça à floresta boreal,o envenenamento das águas,dos solos,da atmosfera etc.

Uma ecologia integral
Para uma perspectiva integral, a sociedade e a cultura pertencem também ao complexo ecológico. Ecologia é a relação que todos os seres, vivos e não vivos, naturais e culturais têm entre si e com o seu meio-ambiente. Nesta perspectiva também as questões econômicas, políticas, sociais, educacionais, urbanísticas, agrícolas entram no campo de consideração da ecologia, como ecologia social. A questão de base em ecologia é sempre esta: em que medida, esta ou aquela ciência,atividade social,prática institucional ou pessoal ajuda a manter ou a quebrar o equilíbrio de todas as coisas entre si, a preservar ou destruir as condições de evolução/desenvolvimento dos seres? Nós somos parte, com tudo o que somos por natureza e fizemos por cultura, de um imenso equilíbrio, do ecossistema. Diz um dos bons ecólogos sociais na América Latina Ingemar Edström,um sueco que vive há anos na Costa Rica:
"A ecologia chegou a ser uma crítica e até uma denúncia do funcionamento das sociedades modernas. Entre as coisas que se tem denunciado temos a super exploração do hemisfério sul,quer dizer, o chamado terceiro mundo,por parte dos paises comparativamente ricos do norte,do chamado primeiro mundo. Neste sentido,tomar consciência sobre a problemática ecológica global deve significar adquirir consciência da situação socioeconômica,política e cultural de nossas sociedades,o que implica conhecer a situação de exploração dos paises do sul pelos industrializados do norte" (Somos parte de un gran equilibro,DEI,Costa Rica l985,12).

O atual sistema social é antiecológico e gerador de miséria
Dentro dos parâmetros da ecologia social devemos denunciar que o sistema social dentro do qual vivemos - a ordem do capital, hoje mundialmente integrado - é profundamente antiecológico.
Em todas as fases ele se baseou e se baseia na exploração das pessoas e da natureza. No afã de produzir desenvolvimento material ilimitado,ele cria desigualdades entre o capital e o trabalho. Disso se segue exploração dos trabalhadores com toda a seqüela de deteriorização da qualidade de vida.
Entre nós ele se implantou a partir da Conquista no século XVI com grande virulência pelo genocídio,impondo aos que aqui viviam uma forma de trabalhar e de se relacionar com a natureza que implicava o ecocídio,vale dizer,a devastação de nossos ecossistemas. Nós fomos incorporados a uma totalidade maior que é a economia capitalista. Nosso sistema capitalista é de economia de exportação dependente.
Implantou-se aqui a apropriação privada da terra, de suas riquezas e das águas que são fonte de riqueza. Esta apropriação se operou de forma profundamente desigual e irracional. Uma minoria possui as melhores terras, muitas vezes,não cultivadas. As terras mais pobres foram deixadas para as maiorias que para sobreviver tem que superexplorá-las e esgotar o solo, terminando por desflorestar as matas e quebrando o equilíbrio natural. Os negros antes escravizados, com a libertação jurídica,não foram compensados em nada. Da casa grande foram jogados diretamente nas favelas. Tiveram que ocupar os morros, desmatar,abrir valas para o saneamento ao ar livre e assim viver sob ameaças de muitas doenças,de desabamentos e de mortes. Todas estas manifestações significam outras agressões ao meio provocadas socialmente.
Hoje a Conquista continua especialmente através da dívida externa que comporta,em seu bojo,uma forte agressão às relações sociais,uma devastação social dos pobres e a contaminação da biosfera pela tecnologia suja que nos é imposta (...). Enquanto permanecer o modelo de desenvolvimento imperante, saqueador dos homens e da natureza, voltado para fora, produzindo o que os ricos querem que produzamos para eles consumirem, e não atendendo o mercado interno,o círculo vicioso retornaria com as mesmas conseqüências perversas.

O economista americano Kennet E.Baoulding chama a economia capitalista de economia de cowboy: baseia-se na abundância aparentemente ilimitada de recursos e de espaços livres para invadir e se estabelecer. É o antropocentrismo desbragado.
A outra economia,para a qual devemos caminhar, a chama , de economia da nave espacial terra. Nesta nave, como em qualquer avião, a sobrevivência dos passageiros depende do equilíbrio entre a capacidade de carga do aparelho e as necessidades dos passageiros. Disso resulta que o ser humano deve se acostumar à solidariedade, como virtude fundamental,encontrar o seu lugar no sistema ecológico equilibrado,no sentido de poder produzir e reproduzir a sua vida, a vida dos demais seres vivos e ajudar a preservar o equilíbrio natural. A terra,portanto, é um sistema fechado, equilibrado e não aberto que permita qualquer tipo de aventura anti-ecológica. (....)

O novo caminho
A ecologia convencional surgiu desvinculada do contexto social. Igualmente as teologias vigentes, também a teologia da libertação foram elaboradas sem inserir o contexto ambiental. Agora importa completar as perspectivas numa visão mais completa e coerente: a lógica que leva a dominar classes, oprimir povos e discriminar pessoas é a mesma que leva a explorar a natureza. É a lógica que quer o progresso e o desenvolvimento ininterrupto e crescente,como forma de criar condições para a felicidade humana. Mas esta forma de querermos ser felizes está consumindo as bases que sustentam a felicidade que é a própria natureza e o ser humano.

Para chegarmos à raiz de nossos males e também ao seu remédio,necessitamos de uma nova cosmologia teológica, i.é. de uma reflexão que veja o planeta como um grande sacramento de Deus,como o templo do Espírito, o lugar da criatividade responsável do ser humano,a morada de todos os seres criados no Amor. Ecologia etimologicamente tem a ver com morada. Cuidar dela,repará-la e adaptá-la às eventuais novas ameaças,alargá-la para abrigar novos seres culturais e naturais, eis a sua tarefa e também a sua missão.

Fonte: http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/ecologia-social.htm
(veja o texto completo)