Eis a síntese das comunicações de cada um dos membros do Forum Temático 2: Religião, ecologia e cidadania planetária, durante a 26º Congresso da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião).
1. Direitos da Terra, Bem-viver e superação do
especismo: incidências no cristianismo
Pedro A.
Ribeiro de Oliveira. Doutor em sociologia – PUC-Minas
pedror.oliveira@uol.com.br
A
Carta da Terra levou o debate sobre
consciência planetária do restrito âmbito de ambientalistas e pensadores/as
para o público externo à academia. Embora esse público ainda seja pequeno, é
certo que o tema tem-se desdobrado em várias questões que atingem um número
cada vez maior de pessoas, muitas delas com forte marca cristã. Tendo presente
a tradução antropocêntrica do cristianismo, cabe perguntar sobre as incidências
dessas três dessas questões – Direitos da Terra, Bem-viver e especismo – na
concepção cristã. Onde percebe-se pontos de resistência e de aceitação.
2. Culpa e mérito do Ocidente Cristão na
Crise Ambiental
Douglas Jorge
Arão. Doutor em Filosofia. PUC-Minas.
djarao@gmail.com
Lynn White
Jr., em seu celebre artigo “As raízes históricas da nossa crise ecológica”, não
somente lamenta que o mandamento de Deus ao homem no livro do Gênesis seja de
“dominar” a natureza, lamenta também o fato de ser um mandamento de
“multiplicar” o número de descendentes deste homem primordial. De fato, Lynn
White Jr., começa seu artigo mencionando Audous Huxley, e o efeito que o
crescimento da população humana teve na degradação ambiental. A partir da constatação
que a cristandade haveria uma enorme culpa no que diz respeito à crise
ambiental, o autor duvida que a solução a esta crise possa estar no correto uso
da ciência e da técnica e propõe uma visão alternativa àquela cristã. Mesmo
depois de Copérnico ainda acreditaríamos na centralidade do nosso mundo, e
mesmo depois de Darwin ainda “não seriamos capazes de nos conceber como membros
do mundo natural”, segundo White. Ainda acreditamos na nossa superioridade e
isso seria deplorável para o autor. Um ponto de fuga dessa visão seria o fato
do autor salvar a figura de São Francisco de Assis, que White chama
simplesmente Francis, como a figura cristã de maior impacto depois do próprio
Cristo. Sua concepção democratiza a relação entre as criaturas de Deus, considerados
como irmãos. White afirma que São Francisco “queria substituir o papel
ilimitado do homem no cenário natural por uma idéia de igualdade entre as
criaturas inclusive o homem” (..) A solução para a crise ecológica,
profundamente enraizada em solo religioso, precisa de um remédio que seja
igualmente religioso e a figura de São Francisco é de vital importância nesta
empresa. Partindo da atualidade desta visão que vê uma grande culpabilidade a
tradição Cristã no atual estado de alarme ecológico, analiso outros autores e
outras versões do mesmo problema, comparando, principalmente com as ideias do
economista e professor David Landes e sua obra "A Riqueza e pobreza das
nações: Porque umas são tão ricas e outras tão pobres".
3. Viabilidade da Ética e Espiritualidade
biocêntricas na Igreja Católica: uma análise do Catecismo romano
Luiz Eduardo
S. Pinto. Mestre em Ciências da Religião. UNIMONTES.
eduardosouzait@yahoo.it
Esta comunicação
tem por objetivo apontar as contribuições e os limites do catolicismo romano a
uma ética e espiritualidade biocêntricas. Ele toma como pressuposta a matriz
antropocêntrica das religiões abraâmicas – entre as quais se inclui o
cristianismo – mas levanta a hipótese de sua abertura a uma concepção
biocêntrica. O campo empírico da busca é o Catecismo da Igreja Católica (CIC).
O Catecismo é o documento oficial sobre a prática da fé e do ensinamento da
doutrina. Nele estão contidos elementos que servem de orientações para a
prática do catolicismo em todo o mundo, é um documento oficial de referência
para os católicos. Nele há instruções sobre a profissão de fé, os sacramentos,
a vida e a oração, sendo o mais completo documento da Igreja Católica acerca de
sua doutrina. Justamente por isso serve de referência para qualquer estudo que
se desenvolva sobre esta instituição religiosa. O período de elaboração do CIC
(1985-1992) coincide com o início dos debates em várias partes do globo sobre
questões como a extinção de espécies, o desmatamento, a poluição, o aquecimento
global, o efeito estufa e o desenvolvimento sustentável. É um período de
florescimento acentuado da consciência ambiental e das discussões sobre a
relação dos humanos com a natureza. Nessa fase a perspectiva biocêntrica começa
a entrar na pauta de discussão de intelectuais e instituições internacionais,
dentre elas a Igreja Católica.
4 . As sete chaves da consciência
planetária à luz da ecoteologia.
Afonso T.
Murad. Doutor em Teologia, FAJE.
murad4@hotmail.com
Inicialmente,
caracterizaremos de forma breve os elementos que compõem o conceito de
“Consciência planetária” e “Ecoteologia”. A seguir, apresentaremos as sete
chaves, a saber:
-
Encantamento:
experiência sensível de contato com o meio ambiente, que desperta no ser humano
o sentimento de reverência diante do mistério de todos os seres.
-
Indignação:
postura ética de “desconforto” diante das situações que atentam contra a
dignidade dos seres humanos, sobrecarregam os ecossistemas e comprometem a
continuidade da “teia da vida” no planeta.
-
Informação:
conhecer a situação dos ecossistemas no planeta, os impactos ambientais, a
configuração do antropoceno e as alternativas de sustentabilidade.
- Visão
sistêmica: superação da visão analítica que fragmenta a realidade, através do
exercício da “alfabetização ecológica”, de compreensão holística e holográfica.
- Mística:
desenvolvimento da eco-espiritualidade a partir da Bíblia, da Tradição
Eclesial, do diálogo interreligioso e da sensibilidade aos Sinais dos Tempos,
favorecendo a unidade da experiência salvífica cristã (criação – encarnação –
redenção – recapitulação).
- Atitudes
pessoais: posturas individuais, traduzidas em ações cotidianas referentes ao
consumo de produtos e serviços e ao exercício da cidadania.
- Ações
coletivas: complexo de iniciativas que abrange diversos âmbitos, do nível local
à governança global, incluindo educação ambiental, gestão sócio-ambiental,
comunicação, legislação e comunicação.
5. Um olhar essencial e primordial sobre a
simbologia sagrada das águas para os candomblecistas.
Amarildo
Fernando de Almeida. Mestre em Ciências da Religião. PUC-Minas. amarildo-fernando@uol.com.br
Um olhar
essencial e primordial sobre a simbologia sagrada das águas para os
candomblecistas. Para os candomblecistas o simbolismo das águas ultrapassa, e
muito, o seu significado dos seus compostos químicos e das suas variadas formas
de benefícios e de utilização do/no mundo moderno. O significado das águas nos
terreiros de Candomblé situa-se num amplo universo de narrativas sagradas
seculares, salvaguardando suas similaridades e suas diferenças com outras
tradições religiosas, pois jamais se pode permitir ser interpretado e analisado
com os procedimentos e os métodos da racionalidade cartesiana do mundo moderno.
Dessa forma, as águas devem ser interpretadas a partir de “hidrofanias”, uma
outra forma de ser no mundo: sagrada/profana. Assim sendo, a água no Candomblé
é um elemento essencial e primordial a partir do qual tudo se configura e
estrutura. E a água está presente na quartinha dos orixás; nos banhos e
purificação dos corpos, dos animais, dos alimentos e folhas sagradas; ela
restabelece a força regeneradora da energia vital; cura as diversas moléstias
do corpo e da alma... E, necessário se faz lembrar, os candomblecistas ritualizam
os significados primordiais das suas narrativas sagradas dos diferentes tipos
de água: lamacenta, Nanã; doce, Oxum; salgada, Iemanjá. Portanto, diferente da
racionalidade cartesiana que utiliza e beneficia da água em diversos momentos
da sua comercialização, pois água é fonte de lucro e de riqueza.
6. Dimensão pública da teologia messiânica:
ensaios sobre a constituição de uma ecoteologia
Andrea G.
Santiago Tomita. Doutora em Ciências da Religião. Faculdade Messiânica.
andreatomita@hotmail.com
O curso de
Teologia da Faculdade Messiânica foi reconhecido pelo MEC em 2011 e tem uma
proposta diferenciada de currículo que integra eixos de conhecimentos
teológicos gerais com os específicos de uma teologia sui generis: a teologia da
Igreja Messiânica Mundial (IMM - religião de origem japonesa fundada em 1935).
Nesta comunicação pretendemos apresentar aspectos da proposta missionária da
IMM que integra aspectos religiosos e práticas sociais (em terminologia
messiânica denominada ‘ultrarreligião’) que conferem uma dimensão pública à sua
teologia. Em especial, nos debruçaremos na análise do conteúdo e métodos de uma
teologia prática com ênfase na visão do Fundador Meishu-Sama sobre “Arte da
Agricultura Natural”; nos desdobramentos de uma práxis peculiar no campo da
saúde, agricultura e meio ambiente e, finalmente, na reflexão sobre os
possíveis fundamentos de uma ecoteologia messiânica.
7.
O lugar da teoria da complexidade na ética ecológica de Leonardo Boff
Gabriel do Nascimento Vieira. Doutorando em
Ciências da Religião. UNIMONTES. bielvi@ig.com.br
Esta pesquisa se propõe a esclarecer os
vínculos da Teoria da Complexidade, interpretada a partir de Edgar Morin, com a
Ética Ecológica Planetária proposta por Leonardo Boff. Ela ganha importância à
medida que enfatiza o pensamento complexo como sustentação teórica dos
problemas globalizados apontados por Boff e que, por sua vez exigem soluções
complexas que atendam a diversidade de povos e culturas. Não dá mais para
esperar soluções milagrosas vindas de um determinado segmento religioso,
científico ou político que atenda a todos de maneira satisfatória. Deve-se
aprender a pensar de outro modo, como diz Edgar Morin em seu escrito sobre o
método, (sexto volume: tema ética a exigência da solidariedade e da
responsabilidade como meios de religação ética entre os seres humanos e o
planeta terra, nossa pátria-mãe).