quarta-feira, 1 de abril de 2009

Reconstruir nossa Casa Comum

Era uma vez uma casa, imensa e bela. Edificada lentamente, durante milhões de anos, parecia infinita, devido à sua forma arredondada. Por ela passeava uma multidão incontável de seres, os mais diversos. O solo, chão da casa, era rico em nutrientes que garantiam o ciclo de vida das plantas e dos animais. Suas paredes eram constituídas por rochas recobertas pelos tons múltiplos de cores de gramíneas, arbustos e árvores. O telhado se abria durante o dia para o clarão do sol, que, com sua energia, sustentava os seres com luz e calor. Invisivelmente, era protegido por uma fina camada de gases, que filtrava a luz do sol na medida adequada para garantir a continuidade da teia da vida. À noite, estrelas cintilantes coalhavam o céu, e a lua, com sua cor prateada, brindava o viajante com sua luz discreta e suave.
A casa-comum-de-todos-os-seres, também chamada pelos humanos de Planeta Terra, tinha cinco enormes quartos, separados por infindáveis porções de terra e muita, muita água. Será que havia janelas? Ou antes se tratava de um sem número de cortinas, que velavam e desvelavam mistérios, belezas, riscos e aventuras? Embora a casa não tivesse portas nem porteiras, penetrar em seu mistério exigia algumas chaves. Não aquelas, pequenas ou grandes, feitas de metal, mas sim as da mente e do coração, que permitem compreender sem jamais pretender agarrar e dominar.
Hoje a nossa casa comum tem a aparência de um admirável edifício, totalmente marcado pela intervenção humana. No entanto, não se pode esconder as rachaduras crescentes, a abertura no telhado e a perda da qualidade de vida de seus habitantes. O ser humano se assenhorou do Planeta. Considera-se seu patrão. Perdeu o vínculo com as outras criaturas e as toma simplesmente como “recursos” ou “coisas”. Baseado na ciência e na tecnologia e no espírito conquistador do mercado global, considera-se dono absoluto de seu futuro. Na realidade, construiu um modelo insustentável, que gera crescente exclusão social e enfraquecimento do ecossistema.
Neste contexto, é preciso recriar novas chaves de leitura, para compreender a humanidade em relação aos outros seres que povoam nossa casa comum. Assim, poderemos mudar o olhar e ampliar a nossa percepção. Com a consciência aberta, vem a ação transformadora. Atitudes individuais se conjugam com ações coletivas. É tempo de construir a cidadania planetária, que articula a visão ampla e global com a concretude das ações locais. Trata-se de gerar e desenvolver a consciência eco-planetária e de tecer redes com vários atores sociais. Com as novas gerações, iremos superar a visão pessimista e trágica, resgatar o encantamento, canalizar a indignação e nutrir a esperança, para reconstruir nossa casa comum.

3 comentários:

  1. Regina Reinart (ITESP)5 de abril de 2009 às 23:07

    Linguagem forte, linguagem verdadeira e obvia: “o ser humano se assenhorou do Planeta”. Teremos que voltar a uma atitude de utopia e pensar como as coisas poderiam andar melhor no mundo, como poderia haver mais justiça entre os seres humanos e mais consciência ambiental. Teremos que desenvolver um pensamento crítico sobre o passado e o presente, compreendendo a crise na qual nós nos encontramos. É um pôr-se a marcha frente a um mundo que se fecha em si mesmo, é um buscar de um horizonte amplo e móvel rumo ao espaço aberto e ao possível. Uma escatologia cristã com uma esperança que libera energias em função da verdadeira miséria do mundo e do futuro de Deus, uma esperança escatológica, como dizia Jürgen Moltmann (Teologia da Esperança. SP: Loyola, 2005. p. 452-453). A ecologia da mente faz parte deste novo processo. Ele em torno deve atingir o ser humano desde o berço até à bengala. Esta re-educação em todas as dimensões da nossa vida exige uma ascese radical, tanto no mundo moderno e turista quanto na convivência com as ciências desenvolvidas que produzem mecanismos e lixos insuportáveis pelo Planeta.
    Penso que nestes dias, celebrando a morte e ressurreição de Jesus, pudessemos meditar sobre a cruz e a esperança da TERRA. Permitam-me a citar novamente J. Moltmann: “Em Cristo, a esperança reconhece o futuro da humanidade, pela qual ele morreu. Por isso, para ela, a cruz é a esperança da terra. Por isso, a esperança luta por uma obediência corporal e terrena, pois espera uma revivificação corporal. Por isso, ela se ocupa em mansidão com a terra arrasada e a humanidade desonrada, pois lhe está prometido o reina da terra. AVE CRUX, ÚNICA SPES!” (Ib., p. 36). Promessa, outra palavra chave nesta nossa busca por uma ecologia justa no contexto da fé cristã....

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  2. Antônio Marcos, ISTA, Gestão Pastoral13 de outubro de 2010 às 22:19

    Precisamos pensar o que estamos fazendo com nossa casa comum, como estamos cuidando de nosso planeta. Com o pensamento de crescimento e desenvolvimento quebramos o equilíbrio de nossa casa, em alguns casos, de forma quase irreversível. O ser humano se considera senhor das outras criaturas, da água, da terra, do ar... Se vê como dono das coisas, como o dominador e não como aquele que cuida.
    O ser humano precisa mudar seu modo de olhar para a nossa casa comum, precisa compreender a conexão que existe entre cada criatura e o equilíbrio que precisa ser mantido.
    Repetindo as palavras do próprio autor: É tempo de construir a cidadania planetária, que articula a visão ampla e global com a concretude das ações locais.

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  3. Três anos volvidos, garanto actualidade de AMBOS os comentários merece atenção...
    Ecologia pode (felizmente) conviver com mundo divino!
    Todos os seres vivos SEMPRE se devem respeitar...
    Sua degradação (meio ambiente) observa sempre evolução.
    Mas se todos unirmos esforços, tudo SUCEDE MAIS devagar. Correcto???????????
    Abraço de Paz e Bem!

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