O desejo da espiritualidade nos conduz ao espírito,
à realidade da sua ação na criação. O Espírito - na sua dinâmica de dar a vida
e fazer viver, que cria e recria renovando a presença da força em nós - é
visível na criação. É importante reencontrar o vínculo estreito que existe
entre o espírito e a criação e colocá-lo em primeiro plano na espiritualidade
ecumênica da criação. Viver essa espiritualidade significa apreender o
movimento do Espírito criador, deixando-se envolver a ponto de sermos inseridos
no processo próprio do espírito com a sua criação. Esse renova e cria vida em
nós, dotando-nos de sensibilidade de visão da beleza do Criador por sua
criatura e por sua criação que merece ser cuidada e respeitada.
Uma espiritualidade experimentada na perspectiva da
relação com a criação direciona-nos a palavra da Escritura. A ação do Deus de
Abrão já não interessa unicamente à interioridade humana, mas está sempre
estreitamente entrelaçada com a referência à sua providencia que age no cosmo.
A espiritualidade autenticamente cristã compreende e vive plenamente o mistério
da páscoa de Jesus de Nazaré em relação com o grande mistério de um mundo
criado bom pelo Pai e conduzido a seu cumprimento pelo Espírito. O espírito é
presença do amor de Deus em nossa criação e ao mesmo tempo é força na
construção de uma relação de cuidado, de respeito pela vida criada, que ensina
a sentir a natureza também na sua fragilidade e o seu gemido.
A atração de uma espiritualidade da criação não
deixa de apresentar os seus riscos. Há espiritualidades que se apresentam como
alternativas de vida mais próxima da natureza, mas não convincentes em sua
prática. Segue nesta direção a New Age, que separa as diversas esferas da vida
e do nosso ser; como também a espiritualidade da creation espirituality que contrapõe a espiritualidade centrada na
criação a uma espiritualidade tradicional, atenta ao pecado e à redenção. Devem
apresentar características interessantes, mas nem sempre são suficientes para
entender o que caracteriza a escritura cristã na sua complexidade de mostrar o
sentido do negativo, da dor. Cremos que
o próprio esplendor da criação só pode ser vivido em plenitude desde que
apreendido com o gemido que se eleva na crise ecológica.
Criação e redenção não podem ser contrapostas. É
preciso ver a realização de ambas no Verbo que se fez carne. Na encarnação do
Filho é possível descobrir um Deus que se aproxima da criação, que se faz
presença na dinâmica positiva dela, levando-a além dos seus gemidos. O espírito
de Deus opera vida na dinâmica da criação, para conduzi-la à vida plena.
A perspectiva ecumênica acredita na força do diálogo
interconfessional e inter-religioso para construir uma espiritualidade que salvaguarda
a vida dada à criação pelo criador. Somente o diálogo e a escuta recíproca é
capaz de dar valor àquela força espiritual que as varias confissões de fé doam para
preservar o espaço comum, que é o planeta. Ecologia e ecumenismo compartilham
da mesma casa. Espiritualidade ecumênica da criação não se resume em buscar
algo em comum existente. Mais do que isso, indica gestos e palavras que ajudem
concretamente a viver com mais força a própria fé e o cuidado com o planeta.
Antonio Luis
Oliveira S. Filho, bolsista PIBIC em teologia na FAJE
Fonte:
MORANDINI, Simone. Terra esplêndida e ameaçada. Por uma espiritualidade
ecumênica da criação. São Paulo: Loyola, 2008. Cap. I
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